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Câmara dos Deputados 

Dólar bate R$ 6,25 em meio à tramitação do pacote de cortes no Congresso

Mercado segue atento às propostas do Executivo; banco central dos EUA cortou juros, mas sinalizou reduções menores em 2025

Na terça, o dólar renovou o recorde histórico nominal ao fechar em leve variação positiva de 0,07%, a R$ 6,095, e o Ibovespa subiu 0,92%, aos 124.698 pontos -Foto: MAURO PIMENTEL/AFP

O dólar está em nova disparada nesta quarta-feira (18), com o mercado monitorando a tramitação do pacote de corte de gastos do governo no Congresso Nacional.

Dólar sobe para R$ 6,15 com incertezas fiscais no Brasil e corte de juros nos EUA

A Câmara dos Deputados aprovou a primeira parte do projeto na terça, e as outras duas deverão ser analisadas no plenário nesta sessão.

Os investidores ainda analisam a última decisão de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) do ano. A autoridade optou por uma redução de 0,25 ponto na taxa de juros, agora na banda de 4,25% e 4,50%, mas projeta apenas 0,50 ponto de corte em 2025.

Às 16h13, a moeda norte-americana subia 2,40%, cotada a R$ 6,242, depois de tocar R$ 6,253 na máxima do dia. Já a Bolsa desabava 2,31%, aos 121.807 pontos.

Em dia de forte estresse no mercado financeiro devido às incertezas sobre as contas públicas, a Câmara aprovou, na noite de terça, o texto-base de um dos projetos do pacote de contenção de gastos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A proposta não contempla alguns dos pontos centrais do pacote, como o limite ao ganho real do salário mínimo e as mudanças no BPC (Benefício de Prestação Continuada), mas prevê outros dispositivos relevantes, como a possibilidade de bloquear até 15% das emendas parlamentares para cumprir os limites do arcabouço fiscal.

O resultado da votação é a primeira sinalização concreta de que as medidas têm condições de avançar no Congresso Nacional. Mas, entre os agentes do mercado, ainda há preocupações de que o pacote possa não ser votado até o fim do ano ou que as propostas sejam desidratadas. Os parlamentares entram em recesso já nesta sexta-feira (20).

“Caso consigam aprovar tudo ainda em 2024, é possível que o mercado se tranquilize. Essa perspectiva apareceu na segunda metade do pregão de terça, quando, depois de uma manhã de muito estresse que levou o dólar até a R$ 6,20, os ânimos se acalmaram”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

Além do PLP, ainda está pendente de aprovação o projeto de lei ordinária que contempla o limite ao ganho real do salário mínimo, as mudanças no BPC (pago a idosos e pessoas de baixa renda) e a alteração na regra de cálculo dos repasses ao FCDF (Fundo Constitucional do Distrito Federal), entre outras medidas.

O pacote do ministro Fernando Haddad (Fazenda) ainda inclui uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que mexe no critério de concessão do abono salarial (espécie de 14º salário pago a parte dos trabalhadores com carteira assinada) e busca extinguir de vez com os supersalários na administração pública.

Ambos os projetos deverão ser analisados no plenário da Câmara nesta sessão, enquanto o texto-base segue para o Senado.

Mas, mesmo que o pacote seja aprovado, a percepção do mercado é que ele ainda não é o suficiente para estancar a crise das contas públicas.

    “O pacote é medíocre e insuficiente. O governo vai ter que apresentar medidas adicionais para tentar reancorar as expectativas que foram desancoradas por conta do próprio governo. Ele criou a situação atual com uma comunicação truncada na apresentação do pacote, e foi uma grande frustração. Caso aprovado, parte do problema será endereçado, mas ainda falta mais”, diz Spiess.

    A pressão afeta as curvas de juros futuros. O contrato para janeiro de 2026 subia de 15,08%, do ajuste anterior, para 15,33%. O de janeiro de 2027 ia de 15,415% para 15,65%; e a de janeiro de 2029 avançava de 15,12% para 15,26%.

    Para conter parte do estresse, o Tesouro Nacional anunciou a compra e a venda de títulos públicos nesta semana. Serão três dias de leilões (18, 19 e 20 de dezembro), cujas condições das ofertas serão divulgadas nos dias de realização.

    Para realizar essas operações, o órgão cancelou o leilão tradicional de títulos previsto para quinta.

    Segundo o Tesouro, o objetivo da atuação é oferecer suporte ao mercado de títulos públicos, assegurando seu bom funcionamento e o de mercados correlatos. A atuação foi discutida com o Banco Central e se soma aos leilões de dólar promovidos pela autoridade monetária em meio à disparada da moeda americana.

    Mais de US$ 12 bilhões foram injetados no mercado desde quinta-feira passada (12). Os leilões são intervenções do BC no câmbio. Na prática, eles servem para aumentar a quantidade de dólares disponíveis para os investidores, seguindo a lei da oferta e demanda. Ou seja, quanto mais moeda puder ser comprada, menor vai ser a cotação dela.

    Haddad, em falas a jornalistas nesta quarta, não descartou a possibilidade de que movimentos especulativos estejam promovendo a alta recente do dólar, mas disse acreditar que as intervenções do Banco Central e do Tesouro devem ajudar a acalmar os ânimos.

    Na especulação, investidores procuram lucrar com a volatilidade de preços de um ativo, muitas vezes no curtíssimo prazo. Há também decisões tomadas por “robôs” (operações automatizadas), que dão impulso à volatilidade já aumentada.

    “Há contatos conosco falando em especulação, inclusive jornalistas respeitáveis falando disso. Eu prefiro trabalhar com os fundamentos, mostrando a consistência do que nós estamos fazendo em proveito do arcabouço fiscal para estabilizar isso”, afirmou.

    O ministro também lembrou que houve outros episódios recentes em que o valor do dólar apresentou altas. “Já houve dias tensos que depois se acomodaram em virtude do desdobramento das medidas tomadas pelo governo.”

    Haddad também falou sobre o pacote de ajuste fiscal em tramitação no Congresso Nacional. Para o ministro, não haverá desidratação do projeto.

    Já no exterior, os investidores repercutiam o corte de 0,25 ponto do Fed sobre a taxa de juros dos EUA. A decisão veio exatamente em linha com as expectativas do mercado, mas os membros da autarquia passaram a projetar apenas 0,50 ponto de redução ao longo de todo o ano de 2025.

    A sinalização fez a moeda disparar globalmente, com investidores precificando um dólar ainda mais forte no próximo ano em meio às possíveis políticas econômicas do presidente eleito Donald Trump.

    *Com informações da Folha de S.Paulo

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