A Baixa da Xanda, local onde nasceu o Boi-Bumbá Garantido, foi oficialmente reconhecida como comunidade quilombola pela Fundação Cultural Palmares. A certificação foi publicada no Diário Oficial da União nesta sexta-feira (6) e marca um momento histórico para o movimento negro e indígena no Amazonas.
Esse é o primeiro quilombo reconhecido em Parintins, resultado da luta por reconhecimento da ancestralidade e resistência dos povos que formaram a comunidade.
Origem da comunidade e memória ancestral
A comunidade remonta ao final do século XIX, com a chegada de Dona Germana, uma mulher negra escravizada que se estabeleceu na região após a abolição.
“Toda a história maravilhosa da nossa comunidade, na verdade, começou com minha bisavó, que se chamava Germana (…). E assim começou a comunidade”, contou Dona Maria do Carmo Monteverde, de 87 anos.
Dona Xanda, filha de Germana, herdou as terras e acolheu famílias negras, indígenas e ribeirinhas, formando o território da Baixa. O local se transformou em porto de chegada, morada operária e espaço de trocas culturais.
Cultura, fé e tradição popular
A Baixa da Xanda é berço do Boi Garantido, fundado em 1913 por Lindolfo Monteverde, filho de Dona Xanda. Além do boi, a comunidade mantém viva uma rica mistura cultural com catolicismo popular, pajelança, rezas de cura e religiosidade afro-amazônica.
Padroeiros como São Benedito e São José Operário deram nome aos bairros da região e reforçam a identidade local.
Reconhecimento como justiça histórica

O processo de certificação começou em 2024, com mobilizações, reuniões e produção de documentos históricos pela própria comunidade. Um marco importante foi a homenagem à Dona Xanda no Festival de Parintins 2024.
“A certificação da Baixa como território quilombola (…) é um ato de memória e também de justiça histórica para figuras como Germana e Xanda”, declarou Lara Monteverde, intérprete da Mãe Catirina do Garantido.
Celebração no Festival de Parintins 2025
Em 2025, o Boi Garantido celebrará o reconhecimento da Baixa da Xanda como quilombo com a toada “O Povo Negro da Amazônia”, composta por Jorge Moraes, Helen Veras, Maneca Sobral e Sebastião Bringel, dentro do tema “Boi do Povo, Boi do Povão”.
(*) Com informações da assessoria
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