Essa pergunta, sempre dita com um misto de receio e desabafo, é uma das mais comuns que ouço no consultório. E quase sempre vem carregada de silêncio, depois de meses de tentativas frustradas e de muitas idas ao ginecologista por parte da parceira. Só então, o homem decide procurar um urologista.

Na minha prática como especialista em infertilidade masculina, vejo o quanto ainda é difícil para o homem lidar com essa possibilidade. Existe um peso cultural enorme sobre fertilidade, como se a capacidade de ter filhos fosse um atestado de masculinidade. E quando algo foge desse roteiro, muitos se sentem em dúvida sobre si mesmos, como se estivessem falhando com a parceira, com a família, com o que esperam deles como homens.

O que nem todos sabem é que cerca de 40% dos casos de infertilidade em casais têm origem exclusivamente no fator masculino e, em mais de 60% dos casos, o homem está envolvido de alguma forma. Mesmo assim, o assunto continua pouco discutido, tanto nos consultórios quanto nas rodas de conversa. Isso precisa mudar. Já acompanhei homens que chegaram ao diagnóstico por causa de uma varicocele, uma alteração nas veias do testículo, ou por consequência do uso de anabolizantes. 

Alguns descobrem alterações hormonais; outros, infecções antigas ou até causas genéticas. Há também quem esteja saudável, mas com uma produção espermática abaixo do esperado por influência do estresse, do sono irregular, da má alimentação ou da exposição contínua a toxinas ambientais. Muitos desses pacientes nunca imaginaram que poderiam ter dificuldade para engravidar uma parceira. E muitos também nunca tinham ouvido falar em espermograma antes de passarem por essa jornada. 

O exame, aliás, é simples, rápido e fundamental, ele avalia a quantidade, a mobilidade e a forma dos espermatozoides, e oferece um retrato fiel da saúde reprodutiva masculina. O tratamento vai depender da causa, claro. Em alguns casos, mudanças no estilo de vida são suficientes para melhorar a qualidade do sêmen. Em outros, usamos medicamentos ou indicamos cirurgia. O mais importante é investigar cedo. O tempo é um fator essencial na fertilidade, especialmente se a parceira tiver mais de 35 anos.

O que tento transmitir a cada paciente é que infertilidade não é sinônimo de impotência, nem de fracasso. Não é uma falha de caráter, nem uma sentença. É uma condição médica, como tantas outras, e que pode e deve ser tratada com seriedade, mas sem vergonha.

O homem que procura ajuda demonstra cuidado, maturidade e responsabilidade afetiva. Isso, sim, é um sinal de força.

Meu maior aprendizado nesses anos todos é que, quando o casal se une, se informa e enfrenta o processo com apoio e clareza, os caminhos se abrem. E quando um filho nasce depois de tanta espera, não há vitória maior. Nem para eles, nem para mim, que tenho o privilégio de acompanhar esse percurso tão íntimo e transformador.

MINIBIOGRAFIA: 

Dr. Flávio Antunes é urologista, referência em infertilidade masculina. Com mais de 20 anos de experiência, atende no Urocentro em Manaus e é professor da UFAM. CRM-AM 4851, RQE 1178. Instagram: @drflavioantunesuro