Na semana passada, compartilhei um pouco da minha vivência atendendo homens que, entre dúvidas e receios, chegam ao consultório em busca de respostas sobre fertilidade. Hoje, quero contar um caso real, com autorização do paciente, que exemplifica bem o que tantos outros enfrentam, muitas vezes em silêncio. Ele era um colega médico, alguém que tive a honra de ter como aluno anos atrás. 

Depois de dois anos tentando engravidar com a esposa, e após ela já ter feito todos os exames ginecológicos, resolveu me procurar. Estava visivelmente desconfortável, não apenas pela angústia da espera, mas por algo mais profundo: o peso do julgamento. Contou que, no fim de semana anterior, em uma reunião de família, o assunto veio à tona. Entre risos e “brincadeiras”, a infertilidade do casal foi ligada à sua masculinidade ou à suposta falta dela. Disse que essa já era a terceira vez que passava por esse constrangimento. 

E desabafou: “Não quero mais ir a essas reuniões.” Isso me tocou. Porque sei que não é só ele. São muitos os homens que escutam piadas, sentem vergonha, carregam o peso da expectativa e da culpa. Quando a fertilidade do casal é colocada em xeque, culturalmente se espera que a mulher vá ao médico. Quando é o homem quem precisa de avaliação, surgem o silêncio, o desconforto e, infelizmente, o preconceito. 

Durante a consulta, identifiquei sinais de varicocele, uma alteração comum nas veias dos testículos, que pode prejudicar a qualidade dos espermatozóides. Solicitamos exames, entre eles o espermograma, que mostrou alterações importantes. Optamos pela cirurgia, que foi realizada com sucesso. Seis meses depois, recebi a notícia: a esposa estava grávida. 

Ele me ligou emocionado, dizendo que já havia compartilhado a novidade com a família e que, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se leve. Essa história é especial para mim. Não só pelo desfecho positivo, mas porque ela mostra que quando há acolhimento, investigação adequada e tratamento individualizado, os resultados vêm. 

E mais importante: mostra que precisamos falar sobre isso. Precisamos normalizar o cuidado com a saúde reprodutiva masculina e acabar com a ideia ultrapassada de que fertilidade define masculinidade. Procure ajuda. Converse. Faça exames. Fertilidade é saúde. E cuidar de si também é cuidar do futuro que se deseja construir.

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