Por Dr. Flávio Antunes – Urologista, especialista em infertilidade masculina
Muito se fala atualmente sobre a importância da prevenção. E, de fato, ela é essencial: realizar exames de rotina e buscar orientação médica periódica pode fazer toda a diferença no diagnóstico precoce de doenças, aumentando significativamente as chances de cura. No entanto, mesmo com todos os recursos disponíveis, muitos homens ainda resistem em procurar ajuda, especialmente quando o corpo começa a dar sinais de que algo não vai bem.
Quero compartilhar o caso de um paciente que atendi recentemente, pois ele representa bem essa realidade. Um homem de 42 anos, fumante desde os 20, que vinha apresentando episódios de sangramento na urina há cerca de seis meses. O sangramento era intermitente, sem dor, o que, infelizmente, o fez subestimar a gravidade do sintoma. Com receio de “descobrir um problema”, como ele mesmo me disse, e acreditando que pudesse melhorar sozinho, acabou adiando a ida ao urologista.
Essa demora teve um custo alto. O sangramento, que antes aparecia de forma leve, se intensificou e chegou ao ponto de obstruir a uretra, impedindo que ele urinasse normalmente. Foi necessário atendimento de urgência. Após os exames iniciais, o diagnóstico foi de provável câncer de bexiga. Felizmente, conseguimos intervir a tempo: a cirurgia foi realizada e, por sorte, a doença ainda estava em fase inicial. O tratamento foi curativo, com excelente prognóstico.
Após esse episódio, conversei com ele sobre dois pontos fundamentais. O primeiro é a necessidade de valorizarmos os sinais do corpo. Sangue na urina, por menor que seja, nunca deve ser ignorado. Na medicina, chamamos isso de “sintoma de alarme”. O segundo ponto, e não menos importante, é o tabagismo. Há uma relação direta entre o hábito de fumar e o câncer de bexiga, além de vários outros tipos de câncer. Continuar fumando aumenta significativamente o risco de recidiva e de surgimento de novas lesões.
Esse caso, que terminou bem, poderia ter tido um desfecho muito diferente. Por isso, deixo aqui um apelo, especialmente aos homens, que muitas vezes adiam cuidados por medo, vergonha ou simples negligência: não espere o problema se agravar. Valorize os sinais do seu corpo. Eles são, muitas vezes, o primeiro passo para salvar a sua vida.
A saúde do homem precisa ser tratada com seriedade e responsabilidade. Cuidar de si mesmo não é sinal de fraqueza, mas sim de inteligência e prevenção. Se você tem sintomas persistentes, procure um especialista. Não espere demais. O tempo, nesse caso, pode ser um inimigo silencioso.
A conscientização sobre a saúde masculina ainda enfrenta barreiras culturais profundas, que associam o cuidado com o corpo à vulnerabilidade. Consultar um médico, realizar exames de rotina e buscar informações confiáveis sobre o próprio corpo são atitudes de coragem e autocuidado. Precisamos, como sociedade, transformar a mentalidade e incentivar esses comportamentos desde cedo, começando pela educação dos nossos filhos e a promoção de campanhas de saúde mais acessíveis e acolhedoras.
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