Um dia após iniciar uma ofensiva terrestre contra a Cidade de Gaza, o Exército de Israel afirmou, nesta quarta-feira (17), que abriu uma nova rota temporária para forçar os moradores a deixarem a capital do território palestino.
De acordo com panfletos lançados sobre a cidade, a estrada Salah al-Din, que atravessa o centro da Faixa de Gaza de norte a sul, ficará aberta por 48 horas a partir do meio-dia desta quinta-feira (6h no Brasil). Até então, Israel havia incentivado a evacuação por uma estrada costeira em direção à chamada “zona humanitária”, mais ao sul.
“O movimento deve ocorrer apenas pelas ruas marcadas em amarelo no mapa como a rota para o trânsito em direção ao sul. Siga as instruções das forças de segurança e sinais de trânsito”, diziam os comunicados.
Apesar da rota temporária, a situação no local continuou caótica. Civis tentam fugir a pé, em carroças puxadas por burros ou em veículos danificados.
Exército usa mapas e QR code para orientar população
O porta-voz do Exército de Israel, Avichay Adraee, publicou no X (antigo Twitter) um mapa com as rotas indicadas pelas forças israelenses. Mesmo com os cortes de energia e internet, ele incluiu um QR code que direciona ao site da corporação.
Na página, há mapas com áreas sob ordem de evacuação e zonas designadas como humanitárias.
“O mapa publicado mostra os números dos quarteirões em Gaza, com um claro apelo aos queridos moradores de Gaza”, diz o texto. Segundo o Exército, as informações têm o objetivo de “evitar danos e preservar suas vidas”.
Internet sofre novo apagão em meio aos ataques
A Autoridade Reguladora de Telecomunicações da Palestina, sediada em Ramallah, afirmou que houve novos cortes de internet causados por “agressões contínuas e ataques a rotas importantes da rede”.
A ONG NetBlocks, que monitora o acesso global à internet, associou o apagão ao “ataque a uma das principais rotas de fibra óptica”, ocorrido em meio à nova operação terrestre de Israel. As forças israelenses não comentaram o ocorrido.
Desde o cessar-fogo de janeiro, cerca de 1 milhão de palestinos haviam retornado à Cidade de Gaza, mesmo com a destruição causada desde 2023. A evacuação forçada empurra os moradores para acampamentos superlotados no sul do território, onde a fome avança.
Autoridades palestinas e da ONU afirmam que nem mesmo a chamada “zona humanitária” é segura. Na terça-feira (16), um ataque aéreo matou cinco pessoas que deixavam a cidade rumo ao sul. Já no campo de refugiados de Nuseirat, outro ataque destruiu um edifício e provocou pânico.
Civis resistem à fuga em meio ao medo e incertezas
Muitos moradores não querem abandonar suas casas, mesmo diante dos bombardeios.
“Mesmo se quisermos deixar a Cidade de Gaza, há alguma garantia de que poderemos voltar? A guerra vai acabar algum dia? É por isso que prefiro morrer aqui, em Sabra, meu bairro”, disse à agência de notícias Reuters um professor identificado como Ahmed.
Até agora, Israel controla subúrbios no leste da cidade e bombardeia áreas no sudeste, norte e regiões costeiras ao noroeste. Segundo o Exército, mais de 150 alvos foram atingidos desde o início da nova ofensiva.
“Gaza está sendo exterminada. Uma cidade que tem milhares de anos está sendo exterminada diante de todo o mundo covarde”, declarou Ahmed.
De acordo com o gabinete de mídia do Hamas, Israel destruiu ou danificou 1.600 edifícios residenciais desde 10 de agosto, quando o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu anunciou a intenção de controlar totalmente Gaza. Também foram destruídas 13 mil tendas usadas por deslocados.
Israel estima que 40% da população da cidade já se deslocou. Segundo o gabinete de Gaza, 190 mil pessoas foram para o sul, e 350 mil se mudaram para regiões centrais e ocidentais da cidade.
Cessar-fogo é incerto após ataque em Doha
Uma autoridade israelense afirmou à Reuters que cerca de 100 mil civis podem permanecer na cidade e que a operação poderia ser suspensa com um cessar-fogo. No entanto, a possibilidade é considerada remota após Israel matar cinco membros do Hamas e um agente de segurança do Catar em Doha, na semana passada.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou em visita ao Catar nesta terça-feira que há “uma janela de tempo muito curta” para se alcançar uma trégua.
ONU acusa Israel de genocídio em Gaza
Nesta quarta-feira (17), uma comissão internacional independente da ONU acusou Israel de cometer genocídio em Gaza, alegação que Tel Aviv nega. No mesmo dia, autoridades de saúde controladas pelo Hamas relataram a morte de ao menos 30 pessoas na Faixa de Gaza em ataques israelenses.
Desde outubro de 2023, quando ataques do Hamas mataram mais de 1.200 israelenses e resultaram em 251 reféns, quase 65 mil palestinos foram mortos, segundo dados do Ministério da Saúde local, que são considerados confiáveis pela ONU. A imprensa internacional não consegue verificar os números de forma independente devido às restrições impostas por Israel.
O papa Leão 14 manifestou solidariedade aos moradores de Gaza, deslocados à força.
“Renovo meu apelo por um cessar-fogo, a libertação dos reféns, uma solução diplomática negociada e o pleno respeito ao direito humanitário internacional”, afirmou o pontífice.
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