Por Flávio Antunes – urologista 

Quando falamos que a higiene íntima pode prevenir certos tipos de câncer, muita gente duvida. Parece simples demais, mas é verdade. E um dos maiores exemplos disso é o câncer de pênis, uma doença que, infelizmente, ainda atinge muitos homens no Brasil, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.

O principal fator de risco para esse tipo de câncer é, sim, a falta de higiene adequada, o que faz com que ele seja mais comum em regiões com menor acesso a informações e serviços de saúde. Mas não é só isso: a presença de fimose e o HPV (papilomavírus humano) também são fatores importantes.

A fimose, condição em que a pele do prepúcio não possibilita a exposição total ou parcial da glande (a cabeça do pênis), é comum em bebês e meninos pequenos. Em muitos casos, ela se resolve naturalmente com o tempo. No entanto, quando persiste, pode dificultar a higiene, favorecendo o acúmulo de secreções e aumentando o risco de infecções e até de lesões que podem evoluir para um câncer.

O HPV, por sua vez, é a infecção sexualmente transmissível mais comum do mundo. Ele está diretamente associado a diversos tipos de câncer, não só o de pênis, mas também o de colo do útero, vulva, ânus e garganta. É por isso que a vacinação contra o HPV em meninas e meninos, ainda na infância, é uma das formas mais eficazes de prevenção.

Gostaria de compartilhar um caso real, que atendi em meu consultório, e que reforça o alerta que faço neste artigo.

Um jovem de apenas 20 anos me procurou por estar com o pênis inflamado. Ao examiná-lo, confirmei a infecção e identifiquei que ele tinha fimose. Iniciamos o tratamento e, logo depois, agendamos a cirurgia para corrigir a fimose.

Durante o procedimento, ao expor a glande pela primeira vez, me deparei com uma lesão suspeita. Removi o tecido e enviei para biópsia. O resultado confirmou: era um câncer de pênis. Felizmente, conseguimos tratar a tempo, embora com um impacto significativo, foi necessária a amputação parcial do órgão. Apesar disso, o paciente foi curado.

Esse caso chama atenção por vários motivos. Primeiro, pela idade do paciente. Embora o câncer de pênis seja mais comum após os 50 anos, ele pode, sim, surgir em adultos jovens. Segundo, porque a prevenção poderia ter evitado tudo isso. Uma simples higiene adequada, o tratamento precoce da fimose e a atenção à saúde íntima teriam feito toda a diferença.

É por isso que aproveito este mês de setembro, quando a Sociedade Brasileira de Urologia promove a campanha “Vem pro URO”, para reforçar a importância do acompanhamento com o urologista, especialmente na adolescência. Sim, o urologista não é só médico de homens mais velhos! Os jovens também precisam dessa atenção e quanto mais cedo esse cuidado começa, melhor.

A mensagem que fica é direta: higiene salva vidas. E pais, especialmente as mães, têm papel fundamental nisso, observando, orientando, cuidando e buscando ajuda médica quando necessário. Fimose não é tabu, saúde íntima não é vergonha.

Flávio Antunes

Leia mais: