O Exército de Israel informou nesta quinta-feira (25) que cerca de 700 mil palestinos fugiram da Cidade de Gaza em direção ao sul do território desde o final de agosto, como consequência direta da ofensiva militar contra o grupo Hamas.

“Foram evacuados 700 mil palestinos”, declarou o Exército em resposta a uma pergunta da AFP sobre o número de pessoas que deixaram a cidade, considerada o maior núcleo urbano da Faixa de Gaza.

A estimativa se baseia em um contexto onde, segundo a ONU, aproximadamente 1 milhão de pessoas viviam na cidade e arredores antes da ofensiva.

Em contraste com os dados israelenses, o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) divulgou no domingo uma estimativa inferior, afirmando que 388 mil palestinos haviam deixado a Cidade de Gaza até o momento.

O Ocha destacou o agravamento da situação:

“Na última semana, os ataques na Cidade de Gaza foram especialmente intensos, incluindo contra tendas de deslocados internos, edifícios residenciais e infraestrutura pública. Muitos resultaram em um grande número de vítimas.”

Ataques israelenses deixam dezenas de mortos e feridos

A agência de defesa civil de Gaza, ligada ao Hamas, afirmou que os bombardeios israelenses mataram 22 pessoas na quinta-feira, incluindo cinco vítimas na própria Cidade de Gaza.

Outro ataque aéreo, que atingiu uma casa onde se refugiavam deslocados, matou 11 pessoas no centro de Gaza, segundo a mesma fonte.

Devido às restrições à imprensa e à dificuldade de acesso a várias áreas, os dados não puderam ser verificados de forma independente.

Imagens da AFP mostraram palestinos escavando entre escombros no campo de Al Zawaida, em busca de sobreviventes.

“Todo o lugar foi destruído, e não restou nada adequado para uso humano”, relatou Yusef Yunis, morador da região.

Israel amplia ofensiva e enfrenta críticas internacionais

Na sexta-feira (19), o governo de Israel declarou que utilizaria “força sem precedentes” na Cidade de Gaza e pediu que moradores se deslocassem ao sul.

No sábado (20), anunciou a expansão da operação para buscar armas na região. No domingo (21), médicos palestinos relataram 31 mortes em novos ataques.

Quase dois anos após o início da guerra, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu ainda descreve a Cidade de Gaza como o último bastião do Hamas. O Exército israelense tem demolido prédios que afirma serem utilizados pela milícia.

Reconhecimentos ao Estado Palestino pressionam Israel

A intensificação dos ataques motivou novas críticas no exterior. Na segunda-feira (22), pouco antes do início dos debates na Assembleia Geral da ONU, Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal reconheceram o Estado Palestino.

França e Arábia Saudita também realizaram reuniões para pressionar pela retomada da solução de dois Estados, considerada pela comunidade internacional como a única saída duradoura para o conflito.

Famílias de reféns protestam contra Netanyahu

Enquanto a guerra avança, famílias de reféns israelenses mantidos pelo Hamas intensificaram os protestos contra o governo Netanyahu.

Milhares de manifestantes se reuniram no sábado (21), em frente à residência oficial do premiê, pedindo um acordo para pôr fim à guerra e garantir o retorno dos reféns.

“Eu acuso o primeiro-ministro de nos conduzir durante dois anos por um caminho sem saída, rumo a uma guerra sem fim e abandonando nossos entes queridos. Por quê?”, disse Michel Illouz, pai de Guy Illouz, sequestrado durante os ataques de 7 de outubro.

Números do conflito continuam a escalar

Os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023 deixaram 1.200 mortos e 251 pessoas sequestradas, segundo dados israelenses.

A resposta militar de Israel já resultou em mais de 65 mil mortes de palestinos, a maioria civis, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

O ex-comandante do Exército de Israel, Herzi Halevi, afirmou que o número total de mortos ou feridos ultrapassa 200 mil, o que representa cerca de 10% da população da Faixa de Gaza.

Além das mortes, a guerra provocou uma grave crise humanitária, com fome generalizada, destruição de infraestrutura e deslocamento repetido de grande parte da população.

(*) Com informações da Folha de S.Paulo

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