Em carta enviada ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) manifestou preocupação com os efeitos negativos do aquecimento global, das mudanças climáticas e da poluição sobre a saúde da população.

A entidade destaca que esses fatores agravam doenças alérgicas e respiratórias, tema central do 52º Congresso de Alergia e Imunologia, que ocorrerá de 13 a 16 de novembro, em Goiânia, na mesma semana da COP30.

“Esse é um assunto que nos preocupa de longa data, porque nós sabemos que as doenças que tratamos aqui no campo da alergia e da imunologia sofrem um impacto muito considerado das mudanças climáticas e da alteração do meio ambiente”, afirmou a presidente da Asbai, Fátima Rodrigues Fernandes, à Agência Brasil.

Segundo a médica, fatores como aquecimento global, poluição e catástrofes ambientais alteram as defesas do organismo e aumentam a reação inflamatória nas mucosas respiratórias e na pele, o que favorece doenças como a asma.

Poluição e catástrofes aumentam casos de alergias

Entre as doenças agravadas pelas mudanças climáticas estão rinite alérgica, conjuntivite e dermatite atópica. Segundo Fátima Fernandes, o aumento da poluição eleva a presença de materiais particulados e gases tóxicos, como o dióxido de carbono (CO₂).

“Junto com aquecimento ou essas catástrofes climáticas que a gente tem observado, em tempos recentes, como a tragédia do Rio Grande do Sul (enchentes em abril de 2024), tudo isso aumenta a formação de alérgenos, tanto pólens, quanto fungos, e mesmo a proliferação de ácaros”, afirmou.

Na carta, a Asbai cita estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que aponta aumento de 60% nos incêndios florestais na Região Norte, elevando a poluição atmosférica e os casos de doenças respiratórias em todo o país.

Crianças e idosos são os mais afetados

De acordo com a presidente da Asbai, a fumaça dos incêndios prejudica especialmente crianças, idosos, gestantes e comunidades vulneráveis.

“Todos esses pacientes vão sofrer muito mais com esse clima tão alterado que a gente está tendo nos últimos tempos”, afirmou Fátima.

Ela também alertou para a poluição plástica e a contaminação por microplásticos, que atingem órgãos e tecidos dos seres humanos.

“O Brasil é o quarto maior produtor de plástico no mundo, com dezenas de toneladas soltas no nosso meio ambiente que contaminam água, oceanos e que até a gente acaba ingerindo”, destacou.

Essas partículas, segundo a médica, interferem no sistema imunológico e estão associadas ao aumento de alergias e intolerâncias alimentares.

Acesso à saúde é comprometido em desastres

Durante catástrofes climáticas, pacientes com doenças crônicas como asma e DPOC enfrentam dificuldade de acesso a tratamento, o que leva a crises e até mortes.

“São pacientes que precisam de tratamento contínuo e acabam não tendo esse acesso permitido, o que leva à piora da doença e mais emergências, crises e até óbitos”, explicou Fátima.

Ela também ressaltou que situações de emergência impactam a saúde emocional tanto de pacientes quanto de profissionais de saúde.

Expectativa por ações efetivas na COP30

Fátima Fernandes defendeu que a COP30 seja um marco para políticas concretas de combate às mudanças climáticas e à poluição.

A Asbai espera que o evento retome o Tratado Global contra a Poluição Plástica, de 2022, e avance em medidas de proteção à saúde.

“Sem dúvida, esse é um ponto crucial e temos que ser signatários e usuários desse tratado. Temos que aplicar na vida real todos esses cuidados necessários para proteção da nossa saúde”, disse.

Congresso reúne especialistas nacionais e internacionais

O 52º Congresso de Alergia e Imunologia da Asbai reunirá cerca de 200 participantes e entidades globais da área, como:

  • World Allergy Organization (WAO)
  • American Academy of Allergy, Asthma & Immunology (AAAAI)
  • European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI)
  • Sociedad Latinoamericana de Alergia, Asma e Inmunología (SLAAI)
  • Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC)

O evento deve fortalecer o debate científico sobre os impactos ambientais na saúde e propor estratégias globais de mitigação.

(*) Com informações da CNN Brasil

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