Sou urologista há muitos anos e, a cada novembro, recebo no consultório uma pergunta que se repete: “Doutor, novembro azul é só para homens acima de 40 anos, né?” E toda vez eu respondo com o mesmo cuidado e a mesma sensação de que falta chegarmos mais longe com essa mensagem. Não, o cuidado urológico não começa aos 40. Ele começa muito antes. Começa na infância.
A Sociedade Brasileira de Urologia criou o Novembrinho Azul justamente para lembrar isso: meninos também precisam de avaliação urológica preventiva. E não é exagero. É necessidade.
Lembro de tantas consultas com pais preocupados chegando com seus pequenos ainda no colo. “Doutor, é cedo demais para trazer?”, perguntam. E eu explico que o primeiro ano de vida é determinante: muitas alterações do trato urinário e genital precisam ser diagnosticadas e tratadas antes dos 12 meses para evitar consequências que, lá na frente, podem ser irreversíveis.
Malformações urológicas representam cerca de 50% de todas as malformações humanas, e muitas delas são silenciosas. Passam anos sem sintomas até que, na adolescência ou na vida adulta, provocam problemas sérios. Por isso, o olhar especializado faz diferença, justamente porque os sinais podem ser discretos demais para que a família perceba. Entre os meninos mais novos, dois quadros sempre me chamam atenção: O primeiro é o testículo fora da bolsa escrotal. Se não corrigido até 1 ano de idade, aumenta o risco de infertilidade, baixa produção de testosterona e até câncer no futuro. E o segundo é a fimose, tão comum nos recém-nascidos, que quando não tratada precocemente pode causar infecções urinárias, inflamações repetidas e, em casos graves, predispor ao câncer de pênis.
Já na adolescência, outra situação frequente aparece no consultório: a varicocele, uma espécie de “varizes” das veias dos testículos. É mais comum do que muitos imaginam. Em alguns casos, não causa sintomas no início, mas pode comprometer a produção de espermatozoides. Quando necessário, tratamos com cirurgia simples, eficaz e fundamental para preservar a fertilidade futura. Escrevo tudo isso porque vejo diariamente como a prevenção muda destinos. Acompanhar um menino desde cedo é oferecer a ele a chance de uma vida adulta saudável, fértil e sem marcas evitáveis. Portanto, neste novembro, e em todos os outros, reforço um pedido de médico para paciente, de pai para pai, de pessoa para pessoa: não espere a vida adulta para cuidar da saúde urológica dos meninos da sua família. O cuidado começa no primeiro ano, continua na adolescência e os protege para o futuro inteiro. E, se posso deixar uma última reflexão, é esta: cada consulta que realizo com um menino ou adolescente é, na verdade, um investimento silencioso no futuro dele. É um gesto de proteção, quase invisível naquele momento, mas enorme lá na frente. Quando um pai ou uma mãe decide não adiar esse cuidado, está oferecendo ao filho algo que não tem preço, a chance de crescer com saúde, segurança e plena capacidade reprodutiva. Isso é amor!

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