No consultório, uma das perguntas que mais escuto é: “Doutor, essa tal cirurgia robótica é realmente o futuro?” E eu sempre respondo da mesma forma: o futuro já chegou e está diante de nós há algum tempo. A ideia de máquinas ajudarem nas tarefas humanas não é nova. Mas, no campo da cirurgia, essa história começou ainda na década de 1960, dentro do ambiente militar, quando se imaginava operar soldados à distância, em regiões de conflito.
Em 1985 veio o primeiro marco: uma plataforma robótica foi usada em seres humanos para uma biópsia neurocirúrgica. Era apenas o começo. Pouco tempo depois, o equipamento foi adaptado para procedimentos urológicos, especialmente na próstata, área em que a robótica avançaria de forma extraordinária.
Nos anos 1990, surgiram os primeiros conceitos de controle remoto dos movimentos robóticos por meio de uma estação de trabalho distante. Já em 1998 apareceu o sistema Zeus, um conjunto de braços e instrumentos controlados diretamente pelo cirurgião. Aqui vale sempre reforçar: o robô não opera sozinho. Quem opera é o cirurgião, o robô apenas amplifica sua precisão, sua visão e sua segurança.
E é justamente aí que está a grande revolução. A cirurgia robótica trouxe avanços impressionantes. Os sistemas eliminam tremores naturais das mãos, oferecendo movimentos extremamente estáveis. As incisões são mínimas, o que significa menos dor, menor sangramento e uma recuperação muito mais rápida para o paciente. A visão também é muito superior: câmeras de altíssima definição, com imagem 3D ampliada, permitem que vejamos detalhes impossíveis de serem percebidos a olho nu em uma cirurgia aberta tradicional.
Outro benefício que pouca gente comenta, mas que faz toda diferença, é o conforto do cirurgião. A plataforma robótica permite que trabalhemos sentados, em posição ergonômica, reduzindo o desgaste físico durante procedimentos longos. E um cirurgião menos cansado é, sem dúvida, um cirurgião melhor.
Hoje, a cirurgia robótica está presente em praticamente todas as especialidades que realizam procedimentos cirúrgicos. Mas é na Urologia que ela encontrou seu maior campo de atuação. A cirurgia robótica da próstata, especialmente nos casos de câncer, é, atualmente, o procedimento mais realizado com essa tecnologia. Os resultados clínicos, funcionais e de recuperação reforçam por que ela se tornou referência mundial.
E uma ótima notícia para os pacientes brasileiros: a Anvisa incluiu recentemente a cirurgia robótica para tratamento do câncer de próstata no Rol de Procedimentos obrigatórios. Isso significa que, a partir de 2026, os planos de saúde terão que oferecer cobertura para esse tipo de cirurgia. É um avanço importante, que democratiza o acesso a uma tecnologia segura, precisa e altamente benéfica.
Afinal, quando falamos de saúde, inovação só faz sentido quando melhora a vida das pessoas. E é exatamente isso que a cirurgia robótica tem feito. O futuro? Ele já está aqui e cada vez mais ao alcance de todos. Use ao seu favor para você viver mais e melhor.

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