Manaus (AM) – O programa Cine Total, transmitido pela Web TV Em Tempo, recebeu em estúdio o roteirista e diretor do curta-metragem amazonense “O Buraco”, Zeudi Souza, que falou sobre o cinema amazonense e compartilhou detalhes sobre o processo criativo do curta.
Com a atuação da atriz Jôce Mendes, o curta aborda sobre a política brasileira e a questão da violência doméstica focando na história de uma família.
“O Buraco” fala sobre uma criança que observa pelo buraco na parede do seu quarto tudo o que a sua mãe sofre nas mãos de seu pai.
Cine Total: Como surgiu a sua paixão pelo cinema e como adentrou nessa área?
Zeudi: A paixão pelo cinema surgiu nos anos 90. Eu venho de uma família muito humilde e não tínhamos condições de ter uma televisão. A única que tinha acesso era a da minha vizinha. Aí começa, de fato, a minha paixão pelo cinema. Toda vez que começava a vinheta já ficava ansioso para ver qual seria o filme. Os anos 90 vão se arrastando, os cinemas foram surgindo no centro e no Amazonas Shopping e eu sonhava com o dia de entrar no cinema. Com os meus 14 e 15 anos, comecei a caminhar pelo bairro vendendo água para conseguir. Até que um dia deu certo e foi uma das sensações mais incríveis que já tive. Aquela ansiedade, a tensão, quando a sala se apagou e começou a rodar o filme na minha frente logo pensei: ‘Isso é muito legal, quero saber como é que funciona’. Desde ali, a paixão pelo cinema ficou.
Cine Total: Profissionalmente, quando que você fez o seu primeiro curta, primeira produção e o que te levou a seguir pelo lado profissional?
Zeudi: Quando a gente começa nisso como brincadeira ou com curiosidade avançamos um pouco. Lá em 2010, fiz um curta-metragem chamado “Perdido”, que ganhou um prêmio no Amazonas Film Festival como o melhor filme do evento. Aquilo ali acendeu uma vela e logo achei que devíamos dar um outro salto: buscar mais conhecimento, estudar e se formar. Acabei me formando em Artes Cênicas pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e estudei em uma oficina de direção cênica em Cuba. Quando voltei para Manaus comecei a refletir sobre o caminho e a jornada profissional, daí venho trabalhando pontualmente em algumas produções, circulado em festivais, ganhado alguns prêmios e isso tem sido bem gratificante.
Cine Total: Sobre o curta “O Buraco”, lançado em 2021, o que o motivou a trabalhar com a temática da violência doméstica e como surgiu essa ideia para trabalhar exatamente como foi trabalhado?
Zeidi: Eu passei um tempo morando em Barcelona no início da pandemia e como os meus pais são idosos, retornei para Manaus. Todos os dias a minha mãe assiste os jornais e, incrivelmente, quase todos os dias durante a pandemia era noticiado algo relacionado a violência contra as mulheres. Isso me fez pensar um pouco sobre o que são esses personagens vivendo nesse ambiente de pandemia, enclausurados e tendo toda essa tensão de violência dentro da casa. A partir disso, comecei a fazer uma reflexão, sentei no computador, tentei dialogar com esses três personagens (homem, mulher e a criança) e surgiu a ideia de fazer “O Buraco”. Vale ressaltar que, quando o roteiro está pronto, só é possível ter suporte para fazer o filme pela Lei Aldir Blanc. O filme traz uma mensagem interessante quanto a questão da denúncia da violência contra as mulheres, que são muito recorrentes na cidade de Manaus e no Brasil.
Cine Total: Você considera o filme do gênero de terror, por gerar um incômodo a quem está assistindo?
Zeidi: Ele é considerado um terror psicológico, por todas as pressões e violências serem percebidas nesse ambiente da casa e sempre pela ótica de uma criança. Em algum momento, a ótica do garotinho inverte e é o próprio espectador que passa a ser essa pessoa que observa. O filme é um pouco angustiante, o impacto que ele causa e acho que ele cumpre um certo papel de fazer as pessoas refletirem acerca do tema. Vale ressaltar que é um filme de ficção e não faz apologia alguma.
Cine Total: Sobre os seus projetos futuros, imagino que já tenha alguns e, inclusive, com grandes nomes do cinema, certo?
Zeidi: Posso te adiantar que nós temos dois projetos a vista. O primeiro é um longa-metragem de ficção chamado “Babete”, que foi contemplado na Lei Aldir Blanc e foi graças a Manauscult que o projeto foi viável, o projeto conta com a parceria da Rio Tarumã Filmes. O segundo projeto é “David Assayag: A Voz da Amazônia, nós temos um dos nomes mais importantes do folclore e da cultura amazônica que é o David Assayag. Esse documentário será feito em parceria com a produtora Lilian Pimentel e com o João Fernandes, do Casarão de Ideias. Acho super importantes esses projetos, estamos na fase inicial de captação de recursos e, se caso for contemplado vai trazer mais uma forma do cinema amazonense atravessar as fronteiras. Esse projeto do David Assayag é bem interessante por ele ser essa figura lendária da nossa cultura. Tivemos tantas perdas importantes de pessoas grandiosas que não tiveram tantos registros e o Assayag merece ser homenageado dessa forma.
Veja o curta amazonense:
Edição Web: Bruna Oliveira
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