Parintins (AM) – Após dois anos com as atividades canceladas devido à pandemia de Covid-19, o Festival Folclórico de Parintins volta a animar a região Norte e todo o Brasil. O Festival, que promete ser “o maior dos maiores”, inicia nesta sexta (24) e vai até o domingo (26) no Bumbódromo de Parintins, localizado há 369 km de Manaus (AM). Localizada no coração da Amazônia Brasileira, o município é conhecido nacionalmente por ser palco da rivalidade entre os bois Caprichoso e Garantido que divide a cidade em duas cores.
Em sua 55ª edição, o Festival Folclórico de Parintins ocorre desde 1965 e, desde então, é celebrado anualmente em junho e chega a atrair mais de 100 mil pessoas na “Ilha Tubinambarana”, sem contar os milhares de telespectadores que acompanham as transmissões simultâneas do evento pelos meios de comunicação. Desde 2019 a cidade de Parintins não se reencontra com os brincantes de boi para o festival anual. Na última edição do Festival de Parintins, o boi Garantido foi campeão com o tema “Nós, o Povo”.
“Canta na dança de guerra, na dança da cura, na dança do fogo e da chuva”, é o que diz a canção ‘Pajé’ do Boi Garantido. Há três anos representando a liderança indígena nas apresentações do “Boi do Povão”, Adriano Jorge Simas da Silva, mais conhecido como Adriano Paketá, falou um pouco o sentimento de fazer parte dessa festa e destacou que o retorno do Festival Folclórico de Parintins é importante para todos que vivem de cultura.
“As expectativas são as melhores. Após dois anos com a nossa festa paralisada, estamos a pouco mais de dois preparando todo esse espetáculo coreográfico, alegórico e cênico para este grande momento da volta do Festival de Parintins. Nesta quarta (23) ocorreram os ensaios técnicos no Bumbódromo e pudemos sentir a energia que vamos levar para a Arena. Também sentimos essa saudade que todos estavam de estar nas arquibancadas do Bumbódromo vibrando junto com quem está atuando”, ressaltou.
O festival foi adiado por dois anos consecutivos por conta da pandemia da Covid-19. Em 2020 e 2021, o tradicional festival foi realizado em apenas um dia e por meio de transmissões ao vivo com apresentações dos bumbás, mas sem a presença de público, e sem competição valendo pontos. Adriano Paketá assumiu o posto de pajé do Boi Garantido em 2019 e logo em seguida veio a pandemia. Diante disso, o artista não poupa palavras ao comentar sobre as suas expectativas para o retorno do público.
“Bom esse retorno com o público é maravilhoso. Vamos poder sentir a energia da galera, deles vibrando junto a cada movimentação nossa na Arena do Bumbódromo. Isso é muito gratificante e é uma forma de retorno que a gente dá, isso de realizar grandes espetáculos para o público que está assistindo. É muito gratificante esse carinho todo do público conosco e com certeza isso vai refletir a cada dia de evolução na Arena”, destacou.
O sentimento é o mesmo para o artista João Paulo Castro, que participa do Festival como integrante do conjunto folclórico pelo Caprichoso. Membro do boi azul e branco desde 2019, João não economiza em declarar o amor pelo boi-bumbá e ressalta que foram dois anos de saudade pela ausência nas celebrações.
“Eu participo do conjunto Folclórico do Caprichoso desde 2019. Os dois anos de hiato foram difíceis, era uma incerteza muito grande e não saberíamos se íamos voltar. Graças a Deus tivemos a possibilidade do retorno e têm sido desafiador. A expectativa é a melhor possível em mostrar um grande trabalho. Foram dois anos de ausência e muita saudade, finalmente, poderemos voltar a sentir essa energia que somente o Festival Folclórico de Parintins sabe proporcionar”, pontuou.
Além da rivalidade
Deixando de lado a rivalidade entre os bois, Adriano e João partilham da mesma ideia: representar, por meio do folclore, as pessoas que partiram. Durante a pandemia, o Boi Garantido perdeu mais de 100 membros, entre artistas, sócios, torcedores ligados a história. Entre as perdas estão da cantora Roci Mendonça; do artista plástico Júnior de Souza; o compositor Rafael do Carmo Araújo, mais conhecido como Marupiara, e o ex-apresentador por 26 anos, Paulinho Faria.
“É o momento de relembrar as pessoas que, infelizmente, foram embora com a Covid-19. Hoje vamos recordar apenas com as melhores lembranças que temos dessas pessoas que estiveram sempre ao nosso lado nesses momentos de festivais”, ressaltou Paketá.
O Boi Caprichoso perdeu personalidades como o cantor e levantador de toadas Klinger Araújo; o ex-diretor financeiro do bumbá, Manoel Joaquim Coelho Lima; o compositor José Carlos Portilho, um dos nomes históricos do boi-bumbá Caprichoso; o coreógrafo Erick David; o empresário e ex-diretor Dernando Reis, e o ex-toador e um dos maiores divulgadores da cultura e do folclore amazônico, Zezinho Corrêa.
“Acho que muita coisa vai mudar daqui para frente. O retorno do festival significa a esperança por dias melhores e que a chama do folclore permanece viva. Além disso, é o retorno da principal fonte econômica do município, então, é um grande alívio para a cidade”, complementou João.
Saudade do público
Torcedora do Caprichoso, Cristiane Rodrigues ressalta que a emoção de voltar a Arena para prestigiar a apresentação do boi azul e branco é indescritível. Para ela, após os dois anos paralisados por conta da pandemia, quem prestigia o Festival Folclórico de Parintins acumulou uma “garra” com o hiato.
“A emoção é muito grande de voltar. Nós perdemos tantas pessoas e ficamos tão tristes quando as celebrações foram canceladas. Nesse ano, estamos com uma ‘garra’ de dois anos parados e vamos transformar isso em um grande espetáculo. O Caprichoso vem bem grandioso para compensar todo esse período que o Festival não foi realizado. Já estamos até comemorando a vitória”, pontuou.
Pela primeira vez na Ilha Tupinambarana, o torcedor do Garantido Silvio Souza enfatiza a alegria e a energia presente no município. Silvio descreveu ainda quais as suas expectativas para a primeira experiência com Boi-Bumbá na Arena.
“Estou amando a animação do povo. É a minha primeira vez em Parintins, sempre assisti o Festival pela televisão e achava muito lindo. Amigos meus e alguns familiares sempre vinham durante esse período e eu nunca consegui. Esse ano consegui vir e está sendo uma experiência incrível. Se Deus quiser o Garantido será campeão”, frisou.
Estimativa financeira
A cidade de Parintins, que conta com uma média de 110 mil habitantes, tem a estimativa de receber 80 mil turistas pelos próximos dias na ilha. Em 2019, o Festival Folclórico de Parintins recebeu 40 mil pessoas no Bumbódromo nos três dias de celebrações.
Em vários segmentos, os comerciantes do município celebram o aumento nas vendas, que começou a ser sentido ainda na primeira quinzena de junho. Para trazer melhores resultados e favorecer a retomada econômica da cidade, o Governo do Amazonas investiu na cultura, turismo, saúde, segurança e infraestrutura.
O duelo dos bois Caprichoso e Garantido promete movimentar a economia do município. A estimativa é de que sejam injetados mais de R$ 100 milhões na economia de Parintins, de acordo com a Prefeitura Municipal. Os investimentos por parte do Governo do Estado são de R$ 5,7 milhões.
Para a equipe de jornalismo do EM TEMPO, a titular da Secretaria de Turismo (Semtur), Karla Viana Ferreira, destacou que há uma semana a cidade já apresenta alto fluxo de turismo e a expectativa da Prefeitura é de que o festival realmente seja o maior dos últimos tempos.
“Isso do Festival ser o maior já está se concretizando em relação ao público, às demandas que tem no município, dos eventos paralelos e com certeza a gente vai superar. Acredito que a gente chega a 80 mil turistas aqui no município. Esse retorno, para a economia, é muito positivo. Já que ficamos dois anos sem a realização do festival, as pessoas estavam saudosas e a economia do município precisava realmente retomar. O turismo, a cultura e quem depende deles foram muitos sacrificados devido à pandemia. Em termos de circulação de dinheiro, vendas, do comércio e de artesanato, com certeza teremos um saldo super positivo”, declarou a secretária.
Ordem das apresentações
A ordem de apresentação dos bois Garantido e Caprichoso no Festival de Parintins foi definida por meio de sorteio realizado no sábado (18). Participaram do sorteio os presidentes dos bois Garantido e Caprichoso, Antonio Andrade e Jender Lobato, respectivamente.
O Boi Garantido abre a primeira noite de festa, nesta sexta-feira (24), enquanto o Boi Caprichoso encerra a programação do dia. Na segunda noite (25/06), o bumbá azul e branco inicia o espetáculo, e o vermelho encerra. Na última noite de apresentações, o festival começa com o Boi Garantido, e o Boi Caprichoso faz o encerramento.
Transmissão no Largo de São Sebastião
O Largo de São Sebastião, no Centro de Manaus, vai receber o público neste fim de semana para transmissão do 55º Festival Folclórico de Parintins, que acontece entre os dias 24 e 26 de junho, na Ilha tupinambarana, numa realização do Governo do Amazonas.
As transmissões, que fazem parte do projeto “Circuito +Cultura”, iniciam 30 minutos antes do espetáculo.
Segundo o secretário de cultura do Amazonas, Marcos Apolo Muniz, a iniciativa tem como objetivo levar a maior manifestação cultural do estado ao público, que não pôde ir a Parintins neste ano.
“Esse é o festival das novidades e o Governo do Amazonas traz essa oportunidade para que as pessoas que não puderam vir para ilha possam acompanhar, com toda segurança e estrutura, os três dias de festa”, comenta o titular da pasta.
Suporte no município
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), do governo do Amazonas, está com toda a estrutura de saúde montada para atender a população que vai participar do 55º Festival Folclórico de Parintins. De acordo com a assessoria, três ambulâncias estão atuando na cidade para oferecer suporte às ações de saúde nas três noites do festival.
O secretário de Estado de Saúde, Anoar Samad, destaca que em torno de 60 profissionais da SES-AM estão envolvidos no atendimento ao público no Bumbódromo.
“E enviamos três ambulâncias, fora as quatro que já estão lá. Temos um centro de atendimento no lado azul, centro de atendimento no lado vermelho, também reabrimos o Hospital Padre Colombo, então ele vai nos ajudar, a partir de hoje já está reabrindo as portas como um hospital com leitos de retaguarda, então vai nos dar o apoio”, disse o secretário.
História do Festival de Parintins
O festival surgiu a partir de uma rivalidade iniciada há quase cem anos, quando dois “bois” começaram a representar nas ruas de Parintins o folclore do boi-bumbá. Os bois encenam a lenda da Mãe Catirina, uma mulher que estava grávida e com desejo de comer língua de boi. Para satisfazê-la, seu marido, Pai Francisco, sacrifica o boi favorito do patrão, que ameaça matá-lo.
Quem salva Pai Francisco da morte é o Pajé, que ressuscita o boi antes da tragédia acontecer. Toda a lenda é ambientada no contexto da Amazônia: os povos indígenas, as criaturas e toda a mística do maior bioma do planeta.
O primeiro boi a representar essa história foi o Garantido, fundado em 1913. Nove anos depois, em 1922, apareceu o boi Galante, renomeado como Caprichoso em 1925. O Garantido usa a cor vermelha e o Caprichoso usa o azul. Nos primórdios, a disputa era informal e acontecia no centro da cidade de Parintins.
Com fantasias, músicas e alegorias, a festividade cresceu e virou uma referência turística e cultural da região Norte.
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