Manaus (AM) – Motivados por um cenário de crise política e socioeconômica, a população originária da Venezuela migrou para o Brasil em busca de trabalho e melhor qualidade de vida. Entre 2015 e maio de 2019, o Brasil registrou mais de 178 mil solicitações de refúgio e de residência temporária. Nas ruas de Manaus (AM), venezuelanos buscam sobrevivência diante das fragilidades existentes no país de origem. Além disso, encontram barreiras como o preconceito e uma cultura diferente. É nesse momento que as Organizações da Sociedade Civil (OSC) entram em ação para auxiliar.
A Hermanitos promove ações em prol de refugiados e imigrantes venezuelanos na capital amazonense. A Organização Não Governamental (ONG) acolhe e integra essas pessoas oferecendo apoio para recomeçarem suas vidas com dignidade. Por meio do trabalho oferecido pela instituição, os venezuelanos recebem serviços voltados à intermediação para o mercado, empreendedorismo, qualificação e ações sociais.
Desde 2017, a presença da população venezuelana em Manaus tem aumentado significativamente. Em meados de 2018, a capital amazonense já havia recebido mais de 8.800 venezuelanos e, em abril de 2019, estimativas indicavam algo em torno de 18 mil venezuelanos.
Fundado pelos amigos Tulio Duarte, hoje presidente da organização e fundador, pela sua esposa Patrícia Pilatti, hoje diretora, e por Anderson Mattos, que hoje também é diretor, a ONG Hermanitos foi criada com base no versículo bíblico Mateus 25:35-40 e, em um primeiro momento, foi procurada uma aproximação com os grupos de venezuelanos, abrigos e acompanhando algumas famílias, buscando entender as necessidades reais e imediatas.
A organização existe há pouco mais de 3 anos, já tendo oferecido 22 mil atendimentos, capacitação de mais de 2,5 mil pessoas, mais de mil cursos, sendo 493 de português, entrega de mais de 15 mil cestas básicas, entre outras atividades. Mais de 8,3 mil famílias foram cadastradas.
De acordo com Tulio, ver o crescimento da ONG no decorrer dos últimos três anos é gratificante. Ele ressalta que o trio iniciou a exercer essa atividade buscando atender um chamado no coração, a partir da passagem bíblica. Mas para ele, a inspiração também vem de outro ponto fundamental para a vivência em sociedade.
“A nossa inspiração também é poder aproveitar essa força de trabalho, capacidade profissional, capacidade de gerar valor das pessoas refugiadas que hoje estão no Brasil e precisam tanto de um apoio para que possam ter autonomia por meio do trabalho, da capacitação. [Nosso papel] é apoiá-los, seja através de trabalho ou de iniciativas de geração de renda, de empreendedorismo, para que eles possam ter autonomia do ser”,
destacou.
Localizada na rua Quintino Bocaiúva, 626, no Centro de Manaus, em breve a ONG Hermanitos mudará o endereço para a Leonardo Malcher, 1070, também no Centro da capital amazonense. Para o fundador da Organização, as expectativas para a nova sede são as melhores, visto que o espaço é maior e oferecerá maiores oportunidades para esses imigrantes.
“Nós expandimos uma sede maior numa localização muito melhor, extremamente estratégico e próximo do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Por ser próximo a algumas universidades, vamos conseguir expandir os atendimentos e atividades no período noturno, porque muitas pessoas, principalmente para fazerem capacitação, trabalham durante o dia e precisam ter uma alternativa para se capacitarem durante a noite. Além disso, também teremos um número muito grande de salas”,
disse Tulio.
Prosperidade de trabalho
A ONG visa a reintegração dos refugiados por meio de três eixos: plataforma digital para intermediação de empregos; incentivo às iniciativas empreendedoras para geração de renda; e estruturação de negócios para a geração de postos de trabalho. Dentre essas pessoas, muitas são qualificadas, com formações e experiências diversas, como médicos, engenheiros, professores, enfermeiros, administradores de empresa, psicólogos, dispostos a se reerguerem por meio do trabalho, e abertos a novas oportunidades e experiências.
Além disso, Tulio compara a expansão da Organização com os versículos Marcos 8:1-9 e Mateus 15:32-39, em que Jesus multiplica os pães e peixes. Para o coordenador da Hermanitos, a semelhança ocorre a partir do momento em que as metodologias fazem refugiados prosperarem.
“Usamos as melhores metodologias do mundo voltadas para a gestão, estratégia, metodologias de linha startup, onde você está constantemente aprimorando os processos para agregar valor e fazer com que a operação seja algo que impacte e transforme as vidas desses refugiados. Acredito que esse seja um dos fatores que fizeram a Hermanitos crescer tanto. Comparando com a multiplicação dos pães, nós oferecemos as ‘migalhas’ que temos de esforço e dedicação no nosso coração e milagrosamente chegamos a um número muito grande de pessoas”,
pontuou.
Entre as iniciativas realizadas, entra em destaque o Programa Integrando Horizontes, com várias atividades nas áreas da saúde, educação, emprego e de socialização entre brasileiros e venezuelanos.
Só em 2021, por meio do programa, foram cadastrados mais de 880 currículos, sendo que 293 pessoas foram encaminhadas para oportunidades de emprego e 83 garantiram trabalho remunerado. Além disso, a iniciativa beneficiou 55 empreendedores venezuelanos com consultoria, capacitação e apoio em seus negócios.
Projetos desenvolvidos
Um dos principais objetivos do Hermanitos é articular oportunidades no mercado de trabalho para refugiados e migrantes venezuelanos, em Manaus. A instituição realiza uma série de ações, visitas e eventos para sensibilizar os empresários de Manaus e de outras cidades do Brasil sobre a importância da contratação de migrantes e refugiados venezuelanos.
Em junho, eles fizeram vários eventos e ações sobre o assunto. Também lançaram uma campanha na internet com vídeos e depoimentos de venezuelanos contando os tipos de preconceitos que já sofreram. Além disso, a Hermanitos fez um mural de mais de 5 metros que mostra um garotinho venezuelano com a bandeira do Brasil. O mural representa o acolhimento que os brasileiros devem fazer para acabar com o preconceito contra os venezuelanos.
Conforme o porta-voz da Instituição, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados ou Agência da ONU (ACNUR) teve papel importante nas ações desenvolvidas pela Hermanitos, como a doação de mais de 5,5 mil cestas básicas, a realização de mais de 340 capacitações e 410 cursos de habilidades, beneficiando mais de 760 migrantes e refugiados venezuelanos na capital amazonense. Ao todo, foram mais de quatro mil pessoas atendidas com o apoio da ACNUR.
Mulheres venezuelanas recebem apoio
Com o objetivo de apoiar mulheres venezuelanas a empreenderem na área gastronômica, a Organização Hermanitos promove o projeto “Mujeres Fuertes”, realizado com recursos de reversão trabalhista do Ministério Público do Trabalho (MPT), em parceria com o ACNUR.
A instituição inaugurou uma cozinha profissional em sua sede, que serve de apoio para as venezuelanas prepararem os alimentos, entregou kits com eletrodomésticos e utensílios, além de um recurso financeiro para apoiar durante o início e desenvolvimento de seus empreendimentos. Foram doados três tipos de kits, sendo 21 kits para mulheres que vendem bolos e doces, 21 kits para as que preparam pratos variados e dois kits para as que atuam com comidas e sucos.
Visando promover o acesso à informação e aos serviços básicos de saúde sexual e reprodutiva para mulheres venezuelanas migrantes e refugiadas ou brasileiras, que estejam em situação de vulnerabilidade social, a Organização realiza o projeto “Nas Trilhas de Cairo”, com uma série de atividades e palestras sobre o assunto.
A coordenadora-geral do Hermanitos, Janaína Paiva, explica que a iniciativa tem duração de seis meses e tem a meta de atender 330 mulheres, na faixa etária entre 14 a 45 anos. O projeto recebe apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que é um setor das Organizações das Nações Unidas (ONU) responsável por questões populacionais.
A instituição realiza suas ações com apoio dos parceiros: Fundação Pan-Americana para o Desenvolvimento (PAD), por meio do Programa Integrando Horizontes e financiamento do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos, o ACNUR, o Ministério Público do Trabalho (MPT), e o Fundo de População das Nações Unidas, que é um dos membros ONU.
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Bom dia , estou precisando de mão de obras para trabalhar com produção de café, ortas e peixes .