Manaus (AM) – O mundo mudou em decorrência da pandemia do coronavírus (Covid-19), que impactou e causou prejuízos não apenas nos sistemas de saúde e econômicos, mas, principalmente, provocou efeitos colaterais na saúde mental das pessoas. Não restam dúvidas de que o isolamento e o distanciamento social, adotados como medidas de prevenção, foram essenciais para conter o avanço da doença. Contudo, eles deixaram sequelas. Além de perderem o contato físico, muitas pessoas se entregaram à solidão, e consequentemente, as taxas de ansiedade e de depressão no país aumentaram.
Louyse Freitas, de 21 anos, conta que o isolamento social só agravou a ansiedade que ela sofria. Além disso, veio a depressão. Em 2021, ela estava concluindo a graduação em jornalismo, mas teve que dar uma pausa por não conseguir desenvolver o trabalho de conclusão de curso (TCC). Com as restrições da Covid-19, Louyse deixou de sair, de conversar com as pessoas próximas e, acima de tudo, preferiu se manter sozinha.
“Eu não conseguia ter sentimentos bons, pois os jornais só mostravam mortes, que a doença se espalhava cada vez mais pelo mundo e aqui em Manaus já tinha um monte de gente morrendo por falta de oxigênio. Na internet, postavam vídeos dos cemitérios com filas gigantes para enterrar os parentes. Foi horrível tudo aquilo. Foi nesse momento em que eu me tranquei no quarto, chorava e ninguém me entendia”,
relata a jovem de 21 anos.
Mesmo após a pandemia, Freitas afirma que tentou suicídio duas vezes. Na primeira vez, ela tentou se jogar da ponte. A jovem caminhou até a metade da Ponte Rio Negro, mas não conseguiu pular porque um casal estava evangelizando e a convenceram a lutar pela vida. Na outra, tentou tomar remédios, pois queria morrer dormindo.
“Naquela noite eu só queria morrer, não tinha nada a temer. Minha vida já estava acabada. Sofria pressão para terminar os estudos, para ser alguém na vida. Tinha acabado um relacionamento abusivo. Minha família fazia comparações entre os primos e eu sempre era que a não fazia nada além de estudar. Isso foi me matando por dentro. Até que cheguei ao ponto de ir para a ponte. Mas aquele casal me viu e disseram que a vida é muito valiosa para terminar daquela maneira. Eu chorei muito porque finalmente alguém me abraçou sem eu ter que pedir”,
lembra a estudante.
A pandemia não acabou, mas o número de casos e mortes diminuiu por causa da vacinação. Porém, as sequelas que ficaram em Louyse ainda se escondem por traz de sorrisos felizes. “Às vezes eu acho que estou bem, mas ela [a depressão] sempre aparece de novo. A felicidade não é uma constante, a depressão não passa. Ela só dá um tempo. Eu queria ficar curada, terminar de estudar, trabalhar, mas tem sempre um medo me perseguindo”, completa.
Um estudo realizado pela Fiocruz, em 2022, destaca que na primeira onda da Covid-19, os números de suicídio aumentaram em todo o país. De acordo com dados divulgados, em 2019, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano. Isso significa uma média de 38 suicídios por dia.
No mês em que se promove a conscientização em torno do tema, o Setembro Amarelo, médicos e especialistas apontam como primordial esse olhar atento e cuidadoso para as sequelas psicológicas da pandemia.
Pós-pandemia: a volta à realidade
Para Fernando Machado, psicólogo do Hospital Anchieta de Brasília, além dos efeitos colaterais da pandemia em si, a volta à realidade da vida é um fator determinante para ficar atento aos sintomas de suicídio. De acordo com o psicólogo, a resposta para as vítimas sequeladas está no equilíbrio, no respeito ao tempo e ao corpo de cada um.
Sinais para buscar ajuda
Conscientizar e prevenir contra o suicídio são tarefas de todos e que não devem ficar restritas ao mês de setembro. É importante falar sobre o assunto para que as pessoas que estejam passando por momentos difíceis e de crise busquem ajuda. O psicólogo Fernando explica que podem existir vários sinais de que uma pessoa quer tirar a própria vida.
“Não que seja uma regra absoluta, mas às vezes alguém fala que “do nada” uma pessoa cometeu um suicídio, e a gente sempre fala que não existe “do nada”. Podem existir alguns pensamentos, alguns comportamentos e alguns sinais sim que a pessoa pode vir a cometer o suicídio. Existem alguns sinais, de fala e de comportamento. As pessoas às vezes se abrem para um amigo, que está tudo muito difícil, que ela se sente um fardo, um peso na vida, e às vezes passam uma autoimagem negativa, como de um perdedor, que a vida não faz sentido, que o mundo estaria melhor sem ela. Então, é prestar atenção em algumas falas e ao social que essas pessoas acabam buscando”,
afirma.
Se informar para aprender e ajudar o próximo é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave. É muito importante que as pessoas próximas saibam identificar que alguém está pensando em se matar e a ajude, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrar que está disponível para ajudar e demonstrar empatia, mas principalmente levando-a ao médico psiquiatra, que vai saber como manejar a situação e salvar esse paciente.
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