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Primeiro brasileiro na presidência

Especialistas apontam que eleição de brasileiro para presidência do BID pode beneficiar o desenvolvimento da Amazônia

O BID tem um total de 48 países membros, com escritórios em todos os países mutuários, bem como na Europa e na Ásia

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Manaus (AM) – Pela primeira vez, o Brasil vai presidir o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O país será representado pelo economista brasileiro Ilan Goldfajn, eleito para a presidência da Instituição, que financia grandes projetos de Infraestrutura na América Latina, com 80 dos votos dos membros no 1º turno, derrotando os candidatos do Chile, México e Trindade e Tobago. A Argentina acabou desistindo da disputa antes do início da votação.

A eleição ocorreu durante uma reunião especial da Assembleia de Governadores do Banco, no último dia 20, em Washington, D.C., capital dos EUA, com delegações participando de maneira presencial e virtual. Goldfajn assumirá, a partir do dia 19 de dezembro, um mandato de cinco anos e vai substituir o norte-americano Mauricio Claver-Carone. O BID tem um total de 48 países membros, com escritórios em todos os países mutuários, bem como na Europa e na Ásia.

Esta será a primeira vez que um brasileiro irá comandar a instituição fundada em 1959. O BID é uma das principais instituições financeiras de financiamento no longo prazo para os países da América Latina e do Caribe. 

Como presidente, Goldfajn supervisionará as operações e a administração do Banco, que trabalha com o setor público da América Latina e o Caribe. Além disso, ele vai presidir o Conselho de Diretores Executivos do BID e o Conselho de Diretores Executivos do BID Invest, que trabalha com o setor privado da região. O Presidente também estará no comando do Comitê de Doadores do BID Lab, como é denominado o laboratório do Banco para projetos inovadores de desenvolvimento.

Para a especialista e economista Denise Kassama, a primeira vez de um brasileiro no cargo é algo de suma importância para a economia brasileira. Em entrevista ao EM TEMPO, a especialista aponta o que a eleição do brasileiro pode representar para América Latina e para a economia do Amazonas. De acordo com ela, o novo presidente teve um desempenho positivo quando atuava na iniciativa privada brasileira.

“Ele [Goldfajn] veio da iniciativa privada, já foi sócio de empresas de investimento e também foi diretor do Banco Central no período que envolve o governo Temer e o governo Bolsonaro, e foi dentro da atividade dele que a política monetária conseguiu reduzir a taxa Selic que estava de 14,25% para 6,5%. Então, eu diria que alguém com essa sensibilidade, realmente é alguém que está preocupado com as camadas mais baixas da população e não deixa de ser algo a festejar, afinal é um brasileiro. Primeira vez que um brasileiro assume o cargo, então não deixa de ser importante. Ele tem a ele tem como meta gerenciar recursos para a América Latina nesse cenário que está tão difícil e está ruim pro Brasil, no que se fala sobre a recuperação pós-pandemia”,

explicou.

O ministro da economia pelo Governo Bolsonaro, Paulo Guedes, foi o responsável pela indicação do economista brasileiro. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, criticou nesta segunda (21) a eleição do brasileiro e classificou a indicação como “lamentável”. Segundo o presidente mexicano, “não há nenhuma esperança para os povos da América Latina e do Caribe”, por considerar que o BID está “apegado ao conservadorismo e a uma política neoliberal impulsionada pelo governo dos Estados Unidos”, após a eleição de Goldfajn.

A eleição de Goldfajn significou a derrota do candidato mexicano, Gerardo Esquivel, economista de esquerda que também é vice-governador do banco central de país. Em decorrência disso, a economista Denise Kassama analisa que Ilan Goldfajn, apesar de ter suas origens na iniciativa privada, também tem um pensamento mais coletivo.

“De fato, sempre é um temor pelo fato dele primeiro vim ter vindo da iniciativa privada do mercado financeiro ‘ah, então ele tem uma pegada liberalista’, mas ele também já foi diretor do Banco Central do Brasil em um período bastante difícil onde ele conseguiu reduzir a taxa de juros ao patamar de 6,5%. Então, ele também tem uma visão um pouco mais aberta. Vamos torcer para o sucesso dele”,

destacou.

Importância

Assim como Denise, o sociólogo e analista político Carlos Santiago, também destaca a importância de ter um brasileiro presidindo um banco importante para o desenvolvimento regional e para propor pesquisas e projetos para a inclusão social. Segundo ele, o Brasil, o novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e a Amazônia ganham com isso.

“Na Amazônia, existem inúmeros problemas que o BID pode contribuir como, por exemplo, as questões do meio ambiente, a questão envolvendo conflitos dos povos tradicionais, também no combate à pobreza e à miséria que seguem tão presentes na Região Amazônica. Para pensar na Amazônia é preciso olhar o ambiente ecológico e ambiental, mas também as desigualdades, a pobreza, os conflitos entre povos tradicionais e agentes do grande capital, e o BID pode contribuir com o novo governo no sentido de não só propor soluções para os problemas da Amazônia, mas também oferecer financiamento, oferecer apoio técnico e contribuir, e muito, para a cooperação entre os países da qual a Amazônia faz parte”,

comentou.

Cooperação política

Antes da eleição, o PT pediu a outros países que as eleições para a escolha do novo presidente do BID fossem adiadas dizendo discordar da forma como o governo Jair Bolsonaro (PL) indicou Ilan Goldfajn. Com o economista já eleito, para o analista político, a palavra de ordem do momento é a “cooperação”.

“A agenda do presidente do BID é voltada ao combate à pobreza, desenvolvimento com inclusão social – que é a mesma agenda prioritária do governo eleito –, a Amazônia deve ganhar com isso a medida em que ela é uma região muito importante para o país e para o mundo, mas que enfrenta problemas sérios envolvendo o meio ambiente, conflitos de grupos tradicionais contra agentes do capital a região tem um índice de pobreza enorme. A cooperação deve prevalecer e o aspecto ideológico-partidário de quem indicou o novo presidente do BID deve ser colocado em segundo plano”,

concluiu.

Para o economista Orígenes Martins, independente de qualquer situação partidária, política ou ideológica, ter um brasileiro como presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento é algo a ser comemorado pelos cidadãos, por conta do reconhecimento da capacidade de profissionais brasileiros que são reconhecidos por sua capacidade e por sua condição técnica para integrar órgãos, empresas e conselhos consultivos a nível mundial. Conforme a análise do economista, essa espécie de semelhança ou similaridade do pensamento dele com o governo eleito do Lula, não deve ser um ponto a ser levantado.

“Falando sobre o ponto de vista do pensamento dele em relação as causas sociais e principalmente no combate pobreza e em defesa ao meio ambiente. Se for dizer que todo mundo que tem esse pensamento está alinhado ao PT, isso aí é uma questão só de semântica, porque simplesmente ele é um ‘camarada’ que pensa do ponto de vista técnico e, com certeza, ele deve pensar na Amazônia do ponto de vista humano, bioecológico, porém, também analisando a questão do crescimento econômico e, principalmente, do padrão de vida dos habitantes da nossa região”,

analisou.

O professor e cientista político Helso Ribeiro declarou que um presidente como o brasileiro Ilan Goldfajn pode direcionar ações que atuem em fomentar o desenvolvimento de alguns projetos como, por exemplo, o programa Sócio Ambiental dos Igarapés de Manaus. (Prosamim)

“Um banco como o BID trabalha com questões com parâmetros extremamente técnicos. É importante ressaltar que, com o Ilan Goldfajn na presidência, ele não vai chegar e dar dinheiro de graça, nem para o Brasil e nem para a Amazônia. Caso haja um projeto interessante que vai passar pelo crivo dos auditores e da equipe técnica do banco, ele pode colaborar com a caneta final. Mas, a gente não pode esperar presentes gratuitos. É bom lembrar também que o Ilan Goldfajn já chegou a trabalhar no governo Dilma também. Ele não se envolveu em campanha do presidente Bolsonaro e tampouco do presidente eleito Lula e, por exemplo, a gente sabe que parte do Prosamim teve financiamento internacional, então, caso haja um projeto interessante, seria mais um direcionamento para gente ter lá no banco Interamericano, Agora é tudo em cima de projetos técnicos que podem ganhar o apoio de um banco internacional”,

finalizou.

Quem é Ilan Goldfajn?

Brasileiro nascido em Israel, Ilan Goldfajn é formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestrado na mesma área pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e doutorado pela Massachusetts Institute of Technology (MIT). Entre 2000 e 2003, foi diretor de Política Econômica da mesma instituição.

Ex-diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ilan Goldfajn foi indicado para a presidência do Banco Central pelo então ministro da Fazenda Henrique Meirelles, sob a gestão do presidente Michel Temer (MDB). Ele assumiu o cargo em junho de 2016 e permaneceu até 2019, quando foi sucedido por Roberto Campos Neto, atual presidente, indicado pelo governo Jair Bolsonaro. 

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