Parintins (AM) — Ulhajá! A expressão amazonense comum no linguajar da população local também é o nome de um dos grupos que mais contribuem com a formação social e cultural do município de Parintins, no interior do Amazonas. Coordenado pelo diretor e ator Fabiano Baraúna, o grupo realizou, nos últimos dias, a apresentação do projeto “Teatro e Comunidade Um Ato de Cidadania”, que contou com a participação de 150 pessoas, na Comunidade do Bom Socorro do Zé Açu, zona rural do município.
De acordo com Fabiano Baraúna, o intuito do projeto é abrir os olhos da população para a veia artística teatral, hoje, pouco explorada na cidade, apesar da magnitude do Festival de Parintins.
“Parintins é conhecida mundialmente pela expressividade dos bois-bumbás, a festa é muito grande e, às vezes, acaba por intimidar algumas linguagens artísticas da cidade. Pensando nisso e na realidade do município, nosso grupo vem com uma proposta de construir um pensamento teatral, ou seja, proporcionar uma linguagem artística tão expressiva e pouco explorada pelos bois de Parintins”, destacou Baraúna.
Teatrólogo, Fabiano também é policial militar no município. Ao Em Tempo, o diretor do projeto contou que durante os primeiros anos, a dificuldade era executar a atividade com o apoio dos demais componentes.
“Em Manaus, realizamos o espetáculo “O Mala da Arte”, como conclusão do curso de Teatro da UEA. A maior dificuldade foi na formação do grupo, passamos por 3 tentativas até chegarmos neste grupo atual. Durante o processo algumas pessoas desistiram. Hoje somos cinco atrizes e atores, e mais três coordenadores (diretor, produtor e maquiadora)”, pontuou.
Lei Paulo Gustavo
Ao se mudar para Parintins, Fabiano tinha um novo objetivo: levar oficinas de teatro, dança e percussão para as zonas rurais da cidade, além de exaltar a identidade dos trabalhos envolvidos dentro do grupo. Foi assim que o projeto do grupo “Ulhajá” foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo e pela Secretária Municipal de Cultura de Parintins.
Nestes últimos dias, a Comunidade do Bom Socorro do Zé Açu recebeu um dia inteiro de atividades, na qual, professores e alunos da escola Minervina Reis estiveram envolvidos no projeto, assim como moradores da comunidade.
“A base onde iniciamos o projeto foi na escola Municipal Minervina Reis, em parceria do gestor da escola, professor Pelé, como é conhecido pela comunidade. Além dos alunos da escola, das oito turmas, ainda foi feito o convite via rádio local para toda a comunidade, onde compareceram cerca de 15 pessoas para participarem da oficina de percussão”, disse Fabiano Baraúna.
Com tanta preparação, faltava conquistar o público. Para tentar mobilizar o máximo de pessoas possíveis, o grupo saiu às ruas da comunidade convidando a vizinhança para assistir ao espetáculo.
“Após as oficinas, reunimos todos os alunos e professores da escola, junto com os participantes da oficina de percussão e saímos em um grande cortejo, cantando e tocando os instrumentos, chamando o povo das suas casas para nos acompanhar. O destino foi em frente da igreja Nossa Senhora do Bom Socorro, onde realizamos a apresentação do espetáculo o Mala da Arte do grupo Ulhajá”, contou o teatrólogo.
Ponto de refúgio
Uma das participantes do projeto é a acadêmica de Jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Kerol Guerreiro. A atriz e maquiadora iniciou sua participação no Ulhajá por meio de uma amostra pedagógica exibida no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro.
“Acredito que o Baraúna tenha visto o meu potencial, acreditou no meu talento e me convidou para fazer parte do grupo. Logo de início, fizemos um grupo de cinco pessoas, mas o grupo acabou se debandando. Cada um foi para o seu canto e acabou ficando eu e o Baraúna. Com o tempo, a gente resolveu se juntar de novo, resolveu chamar outras pessoas e essas pessoas estão até hoje com a gente”, relembrou Guerreiro.
A integração de Kerol no grupo veio em um momento delicado de sua vida pessoal, onde as atividades a ajudaram a se reerguer.
“Eu tive um casamento tóxico. Quando eu conheci o Ulhajá, eu estava passando por depressão e ansiedade. Tinha acabado de me separar de um casamento de 10 anos, que só me trouxe sequelas. E o grupo, como a gente era muito amigo, mesmo tendo se desbandado, e eu tenho uma gratidão enorme pelo Fabiano Baraúna. Acho que foi esse amor, esse aconchego e o teatro, ele é uma terapia, ele faz com que você conheça você mesmo, te faz esquecer dos problemas, você simplesmente viaja no personagem, e todas as técnicas teatrais que eu aprendi com o Fabiano, com o Ismael que foi o outro convidado nosso para fazer parte do grupo, para ensinar a gente a conhecer o nosso corpo, tudo isso melhorou muito a minha ansiedade, minha depressão”, afirmou.
Tanto Kerol, quanto Fabiano, concordam quando o assunto é a finalidade do grupo. Para ambos, ver o sorriso no rosto de quem participa e de quem assiste às apresentações é o que move cada um.
“Entre risos, carinhos, abraços e curiosidades, nós jogamos aos braços afetivos dos espectadores, objetivo concluído”, expressou o diretor do Ulhajá. “Cada vez que eu ia para um show, e eu via crianças rindo, eu via jovens rindo, aquilo me fazia bem, então, para mim, transmitir alegria, que era uma coisa que eu não tinha, não tem preço. Acho que o que me motivou mesmo foi esse amor que eu tenho pelo teatro e é uma forma de agradecer, de agradecer por tudo que ele fez por mim, por ter me tornado a pessoa que sou hoje, foi graças ao teatro”, finalizou a maquiadora.
O projeto “O Mala da Arte” também conta com um acompanhamento de um intérprete de libras, caso algum participante precise do auxílio.
O Mala da Arte
Principal espetáculo do grupo, “O Mala da Arte”, dramaturgia de Júnior Santos, do Rio Grande do Norte, conta a história de Pedro Malazarte, um anti-herói brasileiro que engana seu “amigo” Foquito, que por sua vez, com a ajuda de dois demônios, sua consciência – Espirro do Cão e Suspiro do Diabo, tentam enganar Pedro Malazarte para recuperar o seu dinheiro que Pedro tinha lhe enganado. Foquito veste-se de mulher – Bia Burra. Entre erros e acertos, Pedro descobre e acaba com a farsa. Um espetáculo cheio de altos e baixos, risos e alegria marca a tragicomédia desses personagens.
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