Uma empresa em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, oferece cinco vagas para operador de caixa. O salário inicial é de R$ 1.600, com benefícios de vale-transporte e refeição no local. O expediente segue a escala 6×1, ou seja, seis dias de trabalho e um de folga. Além das funções de caixa, o colaborador pode ser requisitado para reposição de mercadorias, limpeza e organização.

Essa vaga reflete uma realidade comum em supermercados por todo o país: salários próximos ao mínimo, jornadas extensas e funções acumuladas.


Salário Mínimo e Custo de Vida: Uma Equação Difícil

Em 2025, o salário mínimo no Brasil foi reajustado para R$ 1.518, conforme anunciado pelo governo federal. Agência Brasil+6Agência Brasil+6UOL Economia+6

No entanto, esse valor está aquém das despesas básicas. Em Nova Iguaçu, o aluguel de um apartamento de 50 m² custa a partir de R$ 900. A cesta básica ideal para uma alimentação saudável é estimada em R$ 432 por pessoa. As contas de energia elétrica variam entre R$ 100 e R$ 200 mensais.

Somando essas despesas, já ultrapassamos o salário líquido de R$ 1.404, após descontos do INSS. E isso sem considerar gastos com plano de celular, internet, medicamentos, cuidados pessoais, vestuário, educação e lazer.


Escala 6×1: Impactos na Saúde e Bem-Estar

A jornada de trabalho na escala 6×1 tem sido associada a impactos negativos na saúde física e mental dos trabalhadores. Pesquisas indicam que muitos recorrem ao uso de medicamentos ansiolíticos, antidepressivos e analgésicos para lidar com o estresse e o cansaço.

A doutora Flávia Uchôa de Oliveira, da Universidade Federal Fluminense (UFF), observa que essa rotina pode levar ao adoecimento e à necessidade de complementar a renda, utilizando o único dia de folga para trabalhos extras.


Contrato Intermitente: Riscos e Inseguranças

Introduzido pela reforma trabalhista de 2017, o contrato de trabalho intermitente permite que o empregador chame o funcionário conforme a necessidade, sem garantia de jornada ou salário fixo. Os direitos trabalhistas, como férias, 13º salário, FGTS e INSS, são proporcionais ao tempo trabalhado.

A economista Alanna Santos de Oliveira, da Universidade Federal de Uberlândia, destaca que essa modalidade fragiliza o trabalhador, tornando-o dependente da convocação do empregador e sem previsibilidade de rendimentos. Ela alerta também para a vulnerabilidade social, pois o trabalhador pode não conseguir atingir o mínimo mensal exigido pelo INSS.


Precarização do Trabalho: Uma Realidade Crescente

Pesquisadores apontam que o contrato intermitente e a escala 6×1 são formas de precarização do trabalho, caracterizadas por insegurança, instabilidade, baixas remunerações e proteção social limitada. Essas condições dificultam a organização sindical e a negociação coletiva.

A psicóloga Flávia Uchôa de Oliveira alerta que, sob o discurso de “flexibilização” e “modernização”, muitos trabalhadores estão sendo levados a opções precárias de emprego ou a empreendimentos informais sem suporte adequado.


Movimentos por Direitos e Qualidade de Vida

Entidades sindicais, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), defendem a redução da jornada de trabalho sem redução salarial e o fim da escala 6×1. Segundo Luiz Carlos Motta, presidente da CNTC, a medida traria mais qualidade de vida aos trabalhadores e aumentaria a produtividade.

Márcio Ayer, da CTB, critica a jornada exaustiva e os salários baixos, afirmando que a juventude quer trabalhar com dignidade, ter tempo para estudar, lazer e descanso.

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