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Eleitorado jovem

Eleições 2022: número de jovens aptos a votar cresce 50% no Amazonas

Há mais 19.735 eleitores jovens com idades de 16 e 17 anos, em relação ao ano de 2018

Foto: Divulgação

Manaus (AM) – O interesse dos jovens amazonenses na escolha dos seus representantes políticos aumentou neste ano eleitoral. Conforme os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há mais 19.735 eleitores jovens com idades de 16 e 17 anos, em relação ao ano de 2018. Esse fenômeno não é específico apenas no estado, mas se repete também em todo o país.

O aumento do eleitorado nessa faixa-etária é significativo, visto que esse grupo tem o direito ao voto facultativo. Além disso, o número expressivo deste ano no Amazonas e no restante do país quebra a tendência preocupante que se repetia nas últimas eleições: a diminuição da participação dos jovens.

No ano eleitoral anterior, em 2018, cerca de 39.249 jovens de 16 e 17 anos estavam aptos a votar no Amazonas. Já neste ano, o TSE contabilizou 58.984 jovens eleitores nessa mesma faixa-etária, um aumento de 50,2%.

No Brasil, os dados mostram salto de aproximadamente 51,1%, em relação ao ano de 2018. Conforme o levantamento realizado pelo TSE, na eleição anterior, o número de jovens eleitores foi de 1.400.617. Já neste ano, a participação dos jovens saltou para 2.116.781.

Motivações

Segundo o TSE, uma das razões para o aumento dos jovens nas eleições foram as campanhas de conscientização. As estratégias envolviam convencer os grupos mais jovens a tirarem o seu primeiro título de eleitor. 

O sucesso da campanha foi tão grande ao ponto de ser expandida para além das propagandas na televisão e nas redes sociais do TSE. Isso porque, diversas celebridades, influenciadores e atletas também passaram a difundir a importância dos jovens garantirem o título de eleitor.

Atento nas redes sociais, Iago Cunha foi uma das pessoas atingidas pelas campanhas feitas pelo TSE e por famosos. Aos 18 anos, o estudante buscou tirar o seu primeiro título de eleitor, após ouvir com frequência, na internet e na televisão, como era realizado o processo para conseguir o documento.

“Os artistas, e as propagandas do TSE me influenciaram a tirar o título, até porque sempre quando você ligava a televisão estava passando, em algum jornal, a data limite para tirar o título, e até mesmo nas redes sociais. Durante muito tempo, como por exemplo, durante o show do Lollapalooza, havia muita essa ênfase na questão de tirar o título. Então, as propagandas do TSE, os artistas, e toda essa comoção foram importantes para tirar o título”,

disse Iago.  

Por outro lado, para o designer gráfico Ítalo Euclides, as propagandas do TSE e as celebridades não despertaram seu interesse em tirar o título de eleitor aos 20 anos. A principal causa foi a obrigatoriedade eleitoral. Também ressaltou a responsabilidade que sente como cidadão como outro fator chave para corre atrás do documento.

“É de suma responsabilidade que eu tivesse esse documento, afinal de contas, só conseguiria fazer os concursos se eu estivesse em dia com as obrigatoriedades eleitorais. Também penso que a cada ano eleitoral que passa, a responsabilidade do país está nas mãos dos eleitores. Não sendo diferente de nenhum, cumpro meu papel de democrata e vou em prol de um país mais esperançoso para todos nós”,

pontuou.

Assim como Ítalo, outro motivo que levou Iago a tirar o título de eleitor foi a obrigatoriedade exigida pela legislação eleitoral para aqueles que completam 18 anos. Um dos objetivos dele é conseguir um emprego formal, que exige o título de eleitor.

Busca por mudanças

Outro determinante para Iago participar do processo eleitoral é a busca por mudanças. Segundo Iago, a população tem um papel essencial para a construção de um futuro melhor, e sua participação nas eleições contribui para isso. No entanto, ele percebe pouco interesse de uma grande parcela da população pelo processo eleitoral.

“Parte dessa população vê uma eleição como mais do mesmo, e não entende que o voto dela tem um significado, não é apenas um número, e acabam tratando com descaso. Por exemplo, não entendem a repartição dos três poderes, não sabem o que um deputado, ou o que um senador faz, ou até mesmo o que um presidente da república faz. Então, é muito importante participar do processo eleitoral”,

observou.

O estudante André Moreira tirou o título de eleitor aos 18 anos este ano com a finalidade de participar e contribuir para algum tipo de mudança no país. Conforme André, como cidadão, ele possui o direito de definir o futuro do país.

“A maior importância de participar do processo eleitoral é saber como esse pequeno ato influenciará nos próximos anos, sem falar na inclusão em uma comunidade, pois, a partir disso o indivíduo já pode ser considerado adulto de fato”,

ressaltou.

Futuro do país

O deputado estadual Serafim Corrêa (PSB) observou o fenômeno de mais jovens amazonenses participando das eleições como uma notícia animadora, visto que nos últimos anos, o cenário era o oposto. A situação é de otimismo, assim como na década de 80, quando o movimento estudantil conseguiu o direito ao voto para grupos a partir dos 16 anos.

“Foi uma luta bonita e vitoriosa. No entanto, no decorrer do tempo isso foi arrefecendo. Agora, 2022 voltou o interesse e a participação. Isso é muito bom, areja a política, e traz os jovens para o debate de políticas públicas em favor da sociedade, mas principalmente em favor da criança e do adolescente”,

destacou o deputado.

Já o vereador Márcio Tavares (Republicanos) compreende o aumento de eleitores mais jovens como um elemento importante para assegurar as representações dentro do espaço político, afinal, historicamente, os jovens desempenham uma função importante na luta por transformações dentro da própria sociedade.

“Sabemos que a política envolve, em sua essência, representação. Novos eleitores não têm a obrigação de votar, mas ao optarem por isso, já iniciam sua participação na democracia do país. Vejo os jovens como protagonistas de mudanças essenciais na sociedade. Precisamos que os jovens participem de todos os movimentos políticos. Eles são muitos, são fortes. Quanto maior for a participação dos jovens na política, maior peso será dado ao resultado democrático”,

afirmou.

A nova configuração política do estado e do país com mais jovens aptos a votar nestas eleições é vista como animadora pelo senador Plínio Valério (PSDB). Conforme o senador, a população mais jovem tem o direito de definir o futuro de suas vidas.

“Tudo que a gente faz é para as novas gerações, por isso temos essa missão de abrir caminho para eles. Os jovens começando a votar, começam a ser donos do seu próprio destino. Bem informados ou não, o certo é que eles estão mais interessados. Eu espero surgir das urnas coisa boa, coisa diferente, principalmente em relação ao Senado para que nós tenhamos novos companheiros, que se juntem a nós para que possamos combater aquilo que tem de errado na república”,

disse o senador.

O deputado estadual Bosco Saraiva (Solidariedade) também olha o aumento de novos eleitores jovens na política com animosidade, e como um indicador da consolidação da própria democracia.

“A ampliação do número de eleitores jovens no Brasil, configurado nestas eleições de 2022, nos dão um ânimo novo e a certeza de que nosso caminho democrático se consolida cada vez pois somente a ativa participação do povo na política é que trará o definitivo amadurecimento da cidadania brasileira”, apontou o deputado.

Quais são as consequências do fenômeno?

Para um país tornar o seu espaço democrático ainda mais fortalecido, o cientista político Carlos Santigo ressalta a necessidade de eleitorado jovem também mostrar interesse e se mobilizar.

“Para um país se tornar desenvolvimento e um país de futuro, ele precisa investir nos jovens e, os jovens precisam participar mais ativamente das decisões do país.  2022 será um ano de eleições e de desafios para que o jovem participe ativamente das eleições, decidindo como o Brasil deve ser conduzido daqui pra frente”, observou.

Conforme o cientista político Helso Ribeiro, há diversas razões para o aumento de jovens aptos para votar nestas eleições, como a influência da família e dos amigos. Porém, o especialista percebe a campanha do TSE como exitosa e como uma condicionante preponderante para o crescimento de grupos mais jovens participando das eleições neste ano, principalmente por apresentar uma linguagem mais jovem.

Apesar da situação ser um indicativo positivo para a democracia brasileira, Ribeiro também alerta para um novo desafio: haverá uma quantidade efetiva desses novos eleitores jovens no dia das eleições?

“O fato deles terem um título de eleitor não significa que eles vão votar. Eles tiraram o título, mostraram um primeiro interesse. Vamos ver como é que a campanha vai se desenrolar, e quantos desses jovens de fato irão votar”,

disse.

Quanto ao impacto real do crescimento de eleitores jovens nestas eleições, Helso ribeiro não vê mudanças radicais. Por representarem um grupo pequeno, os políticos não dão tanta atenção. “Eles representam cerca de 1,5% do eleitorado. Então, realmente é muito pouquinho. Isso faz com que os políticos de certa forma não privilegiem as propostas para esse público”, analisou.

Ao mesmo tempo, também destaca a relevância de exercitar a cidadania desde cedo, algo fundamental para a democracia. Essa ação também precisa ser regular e continua, e não se delimitar apenas na votação.

“A cidadania não se exaure no momento que você digita. Então, cabe, após as eleições, continuar essa fiscalização, verificando, e se interessando pelo que está sendo discutido nos parlamentos”,

afirmou.

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