Manaus (AM) – Preservação ambiental, sustentabilidade e economia são os principais fatores abordados quando a região amazônica entra em pauta. O bioma com a maior biodiversidade do planeta, riquíssimo em flora, fauna e recursos naturais, tem sido alvo de iniciativas que visam extrair o que tem de valioso, ao mesmo tempo em que buscam preservá-lo.
Desenvolver atividades econômicas sustentáveis na Amazônia, com o intuito de fortalecer as comunidades locais e aproveitas os recursos disponíveis na região, é considerada uma forma de conter o desmatamento e, consequentemente as mudanças climáticas.
Para a especialista e economista Denise Kassama, a temática ao redor do desenvolvimento sustentável é algo muito fácil de falar, mas muito difícil de se aplicar considerando a realidade aqui Amazonas, no qual existem municípios de extensão territorial muito grande com dificuldades logísticas imensas, onde a maioria desses municípios a principal fonte de renda é a própria prefeitura.
“Quando a gente fala em desenvolvimento sustentável e explorar os recursos ah de forma a não os exaurir e com vistas ao desenvolvimento. Então quando, por exemplo, se fala em extração de jazidas minerais, a gente sabe que é uma questão que gera muitos recursos financeiros tem um impacto ambiental muito forte. Não tem como você fazer uma extração sem haver um impacto ou a própria discussão da pavimentação da BR-319, que se discute que isso vai gerar um impacto que vai que vai atingir todo o sistema das redondezas da região. Eu diria que não há desenvolvimento que não tenha o mínimo de impacto. Então o que a gente precisa é mensurar se isso vai ser danoso ou não”
, explicou.
Com sede em Manaus, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é uma organização da sociedade civil e sem fins lucrativos que atua desde 2008 disseminando e implementando conhecimentos sobre desenvolvimento sustentável, com o objetivo principal de contribuir para a conservação da Amazônia.
Para promover o desenvolvimento sustentável na região, a FAS adota como estratégias a atuação nas escalas global, amazônica e local, implementando agendas relacionadas aos eixos temáticos estratégicos: saúde, educação e cidadania, empoderamento, geração de renda, infraestrutura comunitária, conservação ambiental, gestão e transparência, pesquisa, desenvolvimento e inovação. Todos relacionados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Pensando em proteger e desenvolver este bioma de maneira sustentável, a FAS criou o Programa de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da Amazônia (Pensa), que segue como estratégia principal de formar pessoas e oportunizar recursos para desenvolver negócios sustentáveis na Amazônia. De acordo com o superintendente de inovação e desenvolvimento institucional da FAS, Victor Salviati, por linhas gerais, a Amazônia é o maior ativo ambiental, cultural e antropológico do mundo, e preservá-la sempre será uma prioridade.
“Nós temos uma das maiores de biodiversidade do mundo tropical, nós temos uma diversidade biológica muito grande composta por peixes e insetos, temos uma diversidade de solos, diversidade de povos indígenas e não indígenas, como os quilombolas. Essa diversidade que faz a Amazônia ser tão forte, não só na sua produção de serviços ambientais como água, carbono, beleza cênica, mas principalmente por a gente ter isso dentro do Brasil, ou seja, os estados da Amazônia, não somente do Brasil, mas da Amazônia Continental como todos os nove países são muito importantes para a gente manter a regulação climática, os carbonos estocados lá nas suas árvores e manter os povos da floresta próximos”
, destacou.
Falando diretamente da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, popularmente conhecida como COP-27, que reúne lideranças globais em prol do esforço de frear a crise climática mundial. Victor ressaltou ainda o que a Fundação tem buscado ações de mitigação e adaptação à crise climática, sobretudo por meio do fomento de políticas públicas e projetos para enfrentamento da crise. A FAS acredita que existe um potencial expressivo no fortalecimento da agenda climática da Amazônia.
A COP-27 ocorreu entre os dias 6 a 18 de novembro em Sharm El Sheikh, no Egito.
“A importância de toda essa temática estar aqui sendo discutida especificamente pro Amazonas e a Fundação estar aqui é basicamente travar e cobrar dos países mais ricos essa contribuição que eles vêm falando nos últimos tempos, incentivar da gente fazer parcerias com outras organizações e com empresas pra trazer ou levar recursos para a Amazônia e também buscarmos soluções de outros países, para que a gente faça uma cooperação internacional para trazer tecnologias de Moçambique, do Congo e da Malásia para as nossas florestas, por meio de manejo florestal, recuperação de áreas degradadas e, principalmente, fazer a floresta valer mais em pé do que derrubada”
, explicou.
Política e desenvolvimento sustentável
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse durante discurso na 27ª Conferência Climática (COP-27), que vai pedir ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para que a COP de 2025 seja realizada na Amazônia brasileira. Na ocasião, o presidente eleito também destacou a importância das pessoas que defendem o clima e a Amazônia conhecerem de perto a região.
Os governos anteriores presididos por Lula e a atual campanha nas Eleições Gerais de 2022 sempre buscou pautar que o meio ambiente é a chave para a retomada do crescimento econômico brasileiro, tendo em vista que busca unir ambas as temáticas.
Para Victor Salviati, as falas do presidente eleito são de suma importância.
“Eu acredito que o ponto mais importante dessa COP foi o posicionamento político do presidente eleito Lula, que fez com que o Brasil desse um sinal muito claro para o mundo de que o Brasil não apenas voltou para Arena Internacional, do ponto de vista das negociações e do protagonismo, mas como voltou mais forte. O fato do presidente eleito ter vindo aqui antes de assumir é algo muito importante porque significa que essa agenda vai adquirir uma relevância maior do que ocorreria se não tivesse tido essa presença, esse engajamento decorrente da vinda dele aqui. Foi muito importante eh dimensão política. Houve também uma dimensão muito relevante do ponto de vista do compromisso do setor empresarial cada vez mais engajado com essa agenda do clima, além do compromisso dos estados brasileiros e governos subnacionais de uma maneira geral. Isso representa uma ampliação de atores envolvidos com essa agenda”, contou.
De acordo com o superintendente geral, Virgílio Viana, o Brasil tem mostrado a retomada como um ator relevante no debate nacional e internacional voltado ao tema do clima, principalmente pelas recentes declarações feitas pelo presidente eleito Lula. Após um discurso feito por Lula nesta sexta-feira (18), último dia da COP-27, Virgílio enviou uma declaração ao portal Em Tempo ressaltando que, na esfera internacional, existe um sentimento de esperança em relação à participação do Brasil na temática de forma ativa.
“Agora o Brasil tem uma liderança, que antes tinha sido jogada no lixo e estava adormecida. A fala do presidente Lula hoje coloca o Brasil novamente no centro do processo das tomadas de decisões. Foram muitas manifestações feitas pelo presidente, a primeira foi falando da importância de reformar a governança da ONU, em especial o conselho de segurança, e também a governança da agenda climática. Esses são temas muito importantes. Além disso, também falou das cobranças que vai fazer dos compromissos assumidos pelos países envolvidos e ainda não entregues. Foi uma fala de estadista e que fez com que todos aqueles que acompanham essa temática saiam daqui revigorados, e esperançosos pelo futuro do Brasil”
, disse.
Próximas ações voltadas para o desenvolvimento sustentável
Apoiar empreendedores que atuam na Amazônia no acesso a aceleração e investimentos para que seus negócios gerem impactos sociais e ambientais positivos para a região ainda é um grande desafio. Com o objetivo de apontar soluções e caminhos para fomentar esse tipo de negócio e um desenvolvimento mais sustentável para a região, o 2º Festival de Investimento de Impacto e Negócios Sustentáveis da Amazônia (FIINSA), nos dias 29 e 30 de novembro no Centro de Convenções Studio 5, em Manaus.
O evento é correalizado pela AMAZaceleradora de impacto, Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e Uma Concertação pela Amazônia. Tem patrocínio do Fundo Vale, Instituto Clima & Sociedade (iCS), Partnerships For Forests, Uk Government, Amazon Investor Coalition, Fundo JBS pela Amazônia, Americanas S.A, SAP e Instituto Sabin, além do apoio de vários parceiros.
A programação está estruturada em cinco trilhas: Estruturando o ecossistema; Financiamento e acesso a capital; Pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&DI); Comunidades; e Desafios do empreendedorismo.Os temas serão abordados em painéis e mesas temáticas, reunindo empreendedores, investidores, organizações da sociedade civil e outros atores para debater oportunidades e desafios para o desenvolvimento do ecossistema de impacto amazônico, a bioeconomia e o futuro da maior floresta tropical do planeta.
Entre os palestrantes confirmados, estão Txai Suruí (ativista do povo Paiter Suruí), Caetano Scannavino (Projeto Saúde & Alegria), Amanda Santana (Tucum), Denis Minev (Bemol), Guilherme Leal (Natura), Joanna Martins (Manioca), José Rodrigues de Araújo (Cooperacre), Júlio Costa Leite (BNDES), Laura Motta (Mercado Livre), Rita Mesquita (INPA), Samela Sateré Mawé (ativista), Virgilio Viana (FAS), Macaulay Abreu (Onisafra e AmazôniaCripto), Paulo Bellotti (Mov Investimentos), e outros.
O FIINSA oferece também ao público espaço para network e um mercado com produtos amazônicos sustentáveis. A proposta é movimentar todos os envolvidos que atuam nesse setor, com as principais referências nacionais e internacionais.
As inscrições para participar do evento podem ser feitas por meio do site Sympla (https://abre.ai/faz5). A taxa de inscrição para ONGs, startups e negócios de impacto é a partir de R$ 150. Já o valor para empresas e governo é a partir de R$ 250. O evento é uma realização do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e Impact HUB Manaus.
“A primeira edição do FIINSA aconteceu em 2018 e agora, após a pandemia da Covid-19, volta a ser realizado com o objetivo de unir empreendedores, investidores, aceleradoras, incubadoras e pesquisadores, além de organizações do terceiro setor, lideranças comunitárias e lideranças indígenas, ou seja, todo mundo que acredita que a conservação da floresta amazônica precisa de um nova economia e negócios que têm o propósito de resolver os problemas ambientais e econômicos da região. Teremos uma programação muito completa, que vai debater a Amazônia a partir da Amazônia
”, comentou Mariano Cenamo, diretor de novos negócios do Idesam e CEO da AMAZ aceleradora de impacto.
Segundo ele, o Festival é uma oportunidade para quem procura novos modelos de desenvolvimento para a região amazônica e a transição para uma economia de baixo carbono.
“Existe um movimento crescente de organizações nacionais e internacionais focado no potencial da Amazônia, da biodiversidade e da bioeconomia. Porém, ainda é necessário potencializar os empreendimentos na região. É preciso atrair jovens, empresas, gestores e empreendedores para entender melhor a floresta, e pensar em negócios que tenham impacto positivo ou neutro para o desenvolvimento da região. O FIINSA busca soluções para esses gargalos. Por isso, é um evento de extrema importância”
, disse Mariano.
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