Manaus (AM) – A maternidade inclui inúmeros desafios, responsabilidades e afazeres, um trabalho não remunerado e que exige muito das mulheres. Agora, quando essas mães decidem empreender, elas precisam realizar um malabarismo, equilibrando entre o tempo cuidando da empresa e do filho. No Amazonas, mulheres contam ao Em Tempo qual a realidade das mães que seguem o caminho do empreendedorismo.
73,6% das empreendedoras brasileiras são mães e 68% começaram a empreender depois de se tornarem mães, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Rede Mulher Empreendedora (RME).
Essa quantidade no mercado tem uma razão, principalmente após a pandemia do coronavírus (Covid-19). Conforme a economista Denise Kassama, muitas mulheres tiveram que utilizar suas habilidades e empreender para auxiliar na renda da família.
“Como as empresas pararam de operar, muitos maridos, que eram os provedores da casa, perderam os seus empregos e as mulheres que, eventualmente, não tinham um emprego começaram a usar suas habilidades. As que sabiam fazer uma costura, começaram a costurar para fora, se elas sabiam fazer bolos, começaram a preparar bolos para fora e, assim, elas se tornaram as provedoras financeiramente da família”,
declarou a economista.
A necessidade leva a empreender
Empreender está atrelado a necessidade para muitas dessas mulheres, em pesquisa realizada pelo aplicativo GetNinjas, quase a maioria (43,72%) apontou que precisou abrir um novo negócio tanto por escolha como necessidade. Esse foi o caso da empresária Clara Dias, de 27 anos, que é formada em jornalismo e precisou abrir um novo negócio para ajudar na renda de casa após a morte do pai.
“Nunca exerci a minha profissão devido à morte do meu pai. Me vi em uma situação em que, ou corria atrás de um estágio para ganhar experiência ou continuava trabalhando no comércio para me manter na faculdade e ajudar em casa, já que o provedor era meu pai e eu não tinha mais ele por perto! ”,
afirmou.
Clara é mãe de uma garotinha de três anos e começou sua empresa Amadita Mulher, no ano de 2022, enquanto trabalhava em uma fábrica. Ela sentiu o desejo de empreender, pois sempre se achou capaz de ter seu próprio negócio e como havia se tornado mãe, quase nunca havia tempo de qualidade com a família, pois precisava seguir horários de trabalhos extensos e em finais de semana.
“Minha rotina já inicia logo cedo, porque minha filha estuda pela manhã, então aproveito o tempo que ela está na escola para fazer tudo em casa, louça, roupa, almoço e tudo mais, quando ela chega procuro logo dar o banho e o almoço para ela dormir e é nesse tempo do soninho, que crio as estratégias da loja, os conteúdos, que faço os stories para as clientes e atualizo o que temos de peças disponíveis. É uma rotina bem puxada, porque iniciar um negócio exige muito, você precisa conquistar seus clientes, que não é uma tarefa fácil, você precisa buscar conhecimento, senão você não consegue ter sucesso nas vendas. É uma porção de pequenas coisas que formam a sua vida de empreendedora”,
disse.
Conforme o Mapa de Negócios de Impacto Socioambiental de 2021, apenas 25% das empresas fundadas ou gerenciadas por mulheres conseguiram captar investimentos, contra 55% das empresas com predominância masculina. Suelen Franco, mãe e proprietária da Suelen Franco Chocolates, empresa especializada na produção de chocolates e doces finos evidencia essas dificuldades, principalmente na área gastronômica, um mercado onde a maioria dos chefes de cozinha são homens.
“Preconceitos, infelizmente, sempre irão existir, às vezes até vindo de outras mulheres, mas não podemos deixar nos abater, nada é fácil, somos mães, mulheres e empreendedoras, quando decidimos tomar esses caminhos é difícil que alguém no nos pare. Seguramos sempre nas mãos de Deus e alguns anjos aqui na terra, que nos abrem portas e vamos tendo as oportunidades de mostrar um pouco do nosso trabalho. Amo o que faço e busco sempre está aprimorando para cada dia mais oferecer o melhor para os meus clientes, minha família”,
declarou.
Capacitação
A economista Kassama afirma que ainda falta muito investimento em capacitações para essas mães empreendedoras. Muitas entram nesse mercado sem qualquer instrução e tem que procurar as próprias ferramentas, para concorrer com grandes empresas e lojistas já consolidados.
“As mães empreendedoras entram na raça e na coragem e sem todo o conhecimento quanto elas deveriam para atuar no mercado. E, de certa forma, elas concorrem de forma desigual com empreendedores, com empresas, com lojistas já consolidados. Acho que faltam capacitações nessa área e aí vem a internet, as redes sociais que são ferramentas ótimas para divulgar o conteúdo, mas falta capacitações. Para que essas mães possam acessar essas ferramentas e poder amplia seus negócios”,
afirmou.
A fundadora da Future Solar, Helane Souza da Silva, decidiu reinventar em um mercado não tão comum, principalmente para mulheres que são mães, estando à frente de uma empresa pioneira em projetos de usina solar no Amazonas. Nascida na comunidade Santo Antônio, no município de Novo Airão (distante 115.01 quilômetros de Manaus), formou-se em gestão comercial e marketing, com especialização em energia e no setor elétrico e foi a primeira mulher a atuar na área de Energia Solar no Norte do Brasil.
“Quando comecei, sem dúvida, foi mais difícil. Me refiro a minha área em especial, porque quando busquei qualificação para atuar nesse segmento, eu era a única em uma sala com vários homens. Hoje, já existem outras mulheres atuando nesse mercado e ganhando destaque. Sobre o preconceito e as dificuldades, elas sempre vão existir. Creio que se você sabe quem você é de onde veio e o quer realmente, não tem nada que faça você paralisar”,
declarou.
Apenas 4,7% das empresas de base tecnológica são fundadas apenas por mulheres, segundo dados da Female Founders Report (2021), elaborado pela empresa Distrito em parceria com a Endeavor e a B2Mamy. A empresária com toda sua história de luta e superação em seu segmento, busca ajudar a motivar outras mulheres e mães.
“Os desafios foram enormes, desde mão de obra técnica escassa, barreiras junto à distribuidora de energia, e, sobretudo, a grande dificuldade de me fazer ser ouvida e respeitada no mercado solar, em sua grande maioria feita por homens. Quanto a ser mãe e empresária a preocupação e o receio de sentir ‘culpa’ de não poder estar presente em alguns momentos, sempre vai existir”,
afirmou.
De acordo com dados coletados pela First Round Capital, empresas fundadas por mulheres tem um desemprenho 63% melhor do que aquelas fundadas exclusivamente por homens, em razão das mulheres dedicarem mais tempo à capacitação em temas como gestão e empreendedorismo.
Proprietária da Suelen Franco Chocolates, Suelen começou a trabalhar na chocolateria em 2014, saiu de Manaus e foi morar no interior do Rio Grande do Sul, onde começou a descobrir o mundo dos chocolates que possibilitou a empresaria mil possibilidades de evolução criativa, mas foi onde também encontrou os desafios de ser uma mãe no empreendedorismo.
“As dificuldades vieram quando fui estudar Chocolateria em Canela em uma escola com o curso de Chocolateria Gurmet, na ocasião meu filho caçula, que estava com um pouco mais dois anos, teve que ficar em casa em Manaus, pois quando fiz o curso foi um ano e pouco viajando devido às aulas. Nesse período foi bem puxado, mas valeu a pena, pois o conhecimento que adquirir em relação ao chocolate foi incrível e pude entrar de fato no mercado com uma bagagem ótima de conhecimento técnico e, principalmente, um produto diferenciado. Hoje, tenho minha própria receita de chocolate, um chocolate sem gordura hidrogenada e sem gordura trans e sempre com percentual de cacau mais elevado”,
contou.
Sonho de vencer
A confeiteira Esther Reis, dona da “Bolo da Mãe” começou seu negócio com o sonho de uma vida melhor para sua família. A mãe empreendedora largou seus serviços em um salão de beleza e uma loja de informática e passou a investir no ramo de doces em 2014. Iniciou com a venda de apenas quatro sabores de bolos voltados para festas de aniversários e casamentos e atualmente quase há 10 anos. Nos últimos anos, a empresa expandiu e se tornou uma das principais opções no mercado de bolos para os manauaras.
“Venho de uma família humilde e durante minha fase dos 10, 12 anos veio àquela primeira crise, aquela da época do Color que ficou com o dinheiro de muitas pessoas preso no banco e o meu pai fez parte infelizmente dessas pessoas. Então assim, passei uma infância muito difícil e sempre sonhei em oferecer em dar para os meus filhos o que eu não tinha. Hoje, o meu filho mais novo, de oito anos, já fala inglês com o que eu não tive. Então, assim, eu não me culpo pela grande carga horaria de trabalho, porque trabalho pensando neles”,
declarou a confeiteira.
Três em cada quatro mulheres empreendem. Entre as que ainda não possuem um negócio próprio, 74% tem vontade de abrir uma empresa, de acordo com os dados da Plataforma Empreendedoras Maduras e o Grupo Mulheres do Brasil e o Mapeamento dos Negócios Inspiradores Femininos 2022.
Esther sempre teve vontade de empreender desde criança, como uma inspiração de família, que sempre possuiu pequenos negócios e pela mãe que fazia doces e alimentos para vender para fora, como uma forma de renda extra. A confeiteira aos 12 anos já fazia bijuterias manuais e revendia perfumes.
“Comecei nessa área de empreender desde criança, acredito que já veio do berço, já é de família. Lembro que quando criança, mais ou menos 10 anos, morando no interior do Amazonas, ajudava minha mãe e ela me ajudava a fazer bolos, dindin, picolé e eu pegava as crianças que moravam no bairro e distribuía as crianças em escolas. Ela saia com caixa de isopor e ia vender na porta das escolas e quando voltava ela prestava conta comigo. Então assim, desde pequena sempre tive esse lado empreendedor”,
disse a empreendedora.
Resiliência
A fisioterapeuta e empresária com especialização em dermato-funcional, Adriana Guerreiro é proprietária da clínica que leva seu nome. Referência em estratégias para o emagrecimento inteligente e reeducação alimentar de forma saudável, a empreendedora começou do zero, acreditando e persistindo em seu sonho de oferecer algo que gerasse impactos positivos na vida das pessoas.
“Tive que em muitos momentos me dividir entre o cuidado com meu filho, as coisas da casa e para dar atenção aos clientes, dar atenção aos pacientes muitas vezes eu ia atender em casa, levava minha máscara para um lado e para o outro, é luta. Você precisa querer realizar algo e acreditar que você pode, que você é capaz”,
declarou.
As áreas de moda, beleza, alimentação fora de casa e serviços de estética estão concentradas 70% das empreendedoras no Brasil, de acordo com a Rede Mulher Empreendedora. Adriana afirmou que a área da estética tem muito a ver com a mulher, com o autocuidado, com a feminilidade, uma forma de se conectar com essas mulheres que são empreendedoras e mães.
“A área da beleza é uma área muito propícia para as mulheres, que desejam empreender em negócios, pela própria facilidade que muitas mulheres têm em se comunicar, pela questão do feminino, pela feminilidade. Então, esse segmento abre muitas portas para mulheres empreenderem e com isso inspirarem outras mulheres que também desejam conquistar a sua segurança financeira, a sua independência, crescer e evoluir”,
disse.
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