O período de seca nos rios do Amazonas impacta de diversas formas a vida das comunidades ribeirinhas. Em uma coletiva de imprensa realizada na última terça-feira (12), o Governador Wilson Lima assinou o decreto de Situação de Emergência Ambiental em 32 municípios por causa da seca no estado.
Segundo o Climatempo, o fenômeno El Niño influencia nas precipitações e causa a baixa do rio, o que prejudica as atividades agrícolas, pecuárias e até de turismo. Com o nível do rio abaixo da média, comunidades ficam isoladas por longas estradas de areia, uma vez que as embarcações não chegam nas proximidades desses locais.
A pesquisadora de Ciências do Serviço Geológico do Brasil, Jussara Cury, afirma que apesar de prejudicar algumas atividades, o fenômeno está dentro da normalidade, pelo menos na região metropolitana de Manaus.
“No Estado do Amazonas, na maioria das estações monitoradas, nós estamos em processo de vazante, com descidas regulares na região metropolitana, inclusive em Manaus, que baixa 25 cm diários neste momento, o que é considerado normal para o período, o mesmo ocorre em Manacapuru”,
disse a profissional.
Outras extremidades do estado não contam com a mesma sorte. A falta de chuva proveniente do acumulado negativo tanto no mês de agosto, quanto no início de setembro, implicaram ainda mais com o fenômeno da estiagem.
“Na região do Alto Solimões, as descidas estão regulares, mas as cotas estão abaixo da faixa da normalidade para a época. O mesmo ocorre na região do Alto Rio Negro, que estão abaixo da faixa da normalidade. Já no Rio Madeira, nós entramos com níveis abaixo da faixa da normalidade, mas há uma tendência de recuperação agora no mês de setembro”,
apontou Cury.
Até a última terça-feira (12), a Defesa Civil informou que 32 municípios do Amazonas são afetados pela estiagem, com quatro em situação de emergência (Benjamin Constant, São Paulo de Olivença, Envira e Itamarati); treze em situação de atenção (Lábrea, Canutama, Jutaí, Fonte Boa, Japurá, Maraã, Uarini, Alvarães, Tefé, Coari, São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos); e quinze em situação de alerta (Boca do Acre, Pauini, Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã, Guajará, Ipixuna, Eirunepé, Carauari, Juruá, Atalaia do Norte, Tabatinga, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins).
A descida do rio exige um esforço mais dos trabalhadores que dependem financeiramente de atividades neste ambiente. O impacto na atividade inicial também é sentido pelo consumidor final, pois a variação de preços implica no fechamento da renda familiar dos amazonenses.
A vida nos rios secos do Amazonas
Pescador há mais de quatro décadas, Evandro Maia de Lima, de 65 anos, contou ao Em Tempo, os principais desafios enfrentados pela profissão durante esta época do ano.
“Pescar fica mais difícil. Nessa época, os lagos secam, é mais difícil de pescar, para viajar, tudo fica mais difícil; para chegar onde tem peixe, você tem que se deslocar bastante. A despesa aumenta, hoje tudo é caro. É mais difícil para o próprio pescador sobreviver nesta época que o rio seca”,
contou o morador do bairro do Puraquequara.
Em decorrência da seca dos rios e da escassez de peixes, o pescador foi obrigado a aumentar os preços e repassar para os consumidores para não ficar no prejuízo.
“Tem que aumentar. Como fica mais dificultoso, a despesa que a gente tem para poder conseguir o pescado se torna maior e somos obrigados a repassar esse preço para o consumidor, porque como você tem uma despesa maior e a produção de pescado diminui. Para não ficar no prejuízo e ir sobrevivendo do pouco que a gente pega, temos que aumentar o preço. São duas classe que sofrem, a primeira é o pescador e o último é o consumidor”,
salientou Evandro.
Para chegar nos locais onde os peixes se concentram, os pescadores precisam enfrentar longas jornadas dentro de suas embarcações, embaixo de sol, por horas, e também dias.
“Nessa época de seca, o tempo varia de horas a dias, às vezes dois dias, três dias, para conseguir o pescado. Quando o rio está cheio, em prazo de horas você chega onde está o peixe, é mais fácil”,
finalizou.
Comerciantes sofrem com aumento de preços
Principal vínculo entre produtores e clientes, os comerciantes do Centro de Manaus também enfrentam o aumento do preço das mercadorias durante o período de estiagem. Com dois carrinhos de mão que oferecem frutas, legumes, farinha e até cosméticos nas proximidades do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, a vendedora Carmem Miranda, de 41 anos, destacou a subida de preço nos sacos de farinha.
“Quando o rio não estava seco, a saca de 50 quilos da farinha estava saindo a R$ 350, no máximo R$ 380. Agora, está custando R$ 450, se tirar três sacas, sai a R$ 440. Hoje, nós estamos vendendo a saca da farinha por R$ 13 reais, são dois por R$ 25. Antes, era R$ 10”,
explicou a autônoma.
Em contato direto com os clientes, a vendedora escuta reclamações da população sobre o aumento do preço, mas sem ter muito o que fazer, tenta justificar a alteração no valor dos produtos.
“Alguns reclamam, falam que está caro, culpam ‘A e B’, sempre tem uma desculpa. Não tenho muito o que falar, porque se você não plantar, você não vai colher. Quem sofre mais é quem planta, a gente só compra aqui, e eles lá?”,
indagou.
Enquanto a seca castiga o Amazonas, os produtores e comerciantes continuam com suas atividades. Apesar da situação, a classe se mantém confiante e acredita que a situação irá melhorar em breve.
“Até o momento, vou manter as coisas assim, porque não tem como. Já pensou comprar caro e vender barato aqui? Onde eu vou parar?”,
questionou.
Para socorrer a população em diversas áreas, o poder público dá suporte aos ribeirinhos que sofrem com a descida do rio, principalmente nas áreas em situação de emergência.
Operação Estiagem 2023
O governador Wilson Lima assinou, na última terça-feira (12), o decreto de Situação de Emergência Ambiental em municípios das regiões Sul do Amazonas e Região Metropolitana de Manaus e também apresentou o plano de ação da Operação Estiagem 2023 com investimentos de, aproximadamente, R$ 100 milhões e envolvimento de 30 órgãos da administração direta e indireta do Governo do Amazonas.
Entre as medidas anunciadas estão: o apoio às famílias afetadas em áreas como saúde e abastecimento de água, bem como na distribuição de cestas básicas, kits de higiene pessoal, renegociação de dívidas e fomento para produtores rurais.
O Sistema Sepror também integra as ações do Governo do Amazonas para a Operação Estiagem 2023. Por meio do setor, haverá ações do “Garantia Safra”, do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), cujo objetivo é garantir condições mínimas para os agricultores sujeitos a perda de safra por razões de estiagem ou cheia.
O Programa, para a safra 2022/2023, conta com a adesão de 658 agricultores microrregião do Juruá. Após a verificação e comprovação de perda de safra acima de 50% das lavouras em cada município, o agricultou que aderiu ao programa terá o direito de receber o benefício de R$ 1,2 mil por perda de safra, totalizando R$ 789,6 mil, disponibilizados pelo Fundo Garantia Safra. Desse valor, R$ 94,7 mil corresponde ao aporte do Estado do Amazonas junto ao Fundo.
A ADS vai destinar R$ 8,9 milhões para aquisição emergencial da produção temporária da várzea, nos municípios acompanhados pelo órgão e nos indicados pela Defesa Civil, para doação às pessoas em vulnerabilidades e isoladas pela seca nos municípios atendidos pelo Programa de Assistência Familiar (PAF).
Além disso, o recurso visa garantir a celeridade do pagamento das subvenções (Pirarucu, Juta e Malva) para municípios que têm produção nessas áreas, atingidos pela seca e queimadas, e para apoio logístico da produção de várzea, intermediando o acesso ao mercado dos produtores da região metropolitana.
Já o Idam vai disponibilizar equipes técnicas para realização de levantamento de perdas e distribuição de insumos; para elaboração de Crédito Emergencial e Renegociação de Dívidas; e veículos para apoio das ações de estiagem. Enquanto a Adaf, também vai disponibilizar servidores e apoio logístico quando solicitado.
Na área de saúde, as ações prioritárias envolvem o resgate de pacientes em estado grave nos municípios atingidos pela estiagem, via UTI aérea estadual, em casos em que haja apenas possibilidade de pouso em aeronaves anfíbias.
A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra Rosemary Costa Pinto irá distribuir, de forma preventiva, hipoclorito de sódio para tratamento de água para consumo nos municípios do Amazonas, bem como antecipar envio de insumos para prevenir e detectar a malária, incluindo inseticidas e mosquiteiros impregnados, além de monitorar doenças que podem ser impactadas pela estiagem (doenças diarreicas agudas, Hepatite A e febre tifoide).
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