Entre o apoio compassivo e o ceticismo, Igrejas católicas ao redor do mundo acolheram de diversas maneiras a declaração do Vaticano sobre a bênção dos casais de mesmo sexo, um tema que causa polêmica desde sua publicação, em dezembro.
“A situação na Europa está muito dividida, mas corresponde às linhas de força que conhecemos bem: na Alemanha e na Bélgica, o catolicismo está muito avançado sobre vários pontos. É, talvez, na direção destes países que a nota foi escrita”, afirma à AFP Edouard Coquet, historiador da Escola Francesa de Roma.
Segundo o pesquisador, a mobilização neste nível e a respeito de um tema sensível dos episcopados “é uma coisa muito nova”.“Podemos considerar este como um texto de ruptura”, acrescenta, pois “a Santa Sé não propõe mais um conteúdo que está destinado a unificar em escala mundial, mas suscita opções segundo as contingências geográficas e culturais”. Na África, por exemplo, os bispos consideraram que esta bênção “não era apropriada” no continente. Na Europa, os episcopados têm insistido em que não se trata de uma bênção equivalente ao casamento.
– ITÁLIA –
A conferência episcopal italiana não se pronunciou oficialmente sobre o tema. Mas seu presidente, o influente cardeal italiano Matteo Zuppi, instou, em 22 de dezembro, a “evitar que haja um mal-entendido sobre este tema”. “Não se trata de uma bênção da relação” propriamente falando, insistiu em declarações à Rai.
– ALEMANHA –
Os representantes da Igreja comemoraram o texto do Vaticano. Alguns sacerdotes do país já davam bênçãos a casais do mesmo sexo. “Está bem que este tesouro pela diversidade das formas de vida agora tenha sido valorizado”, afirmou o presidente da assembleia de bispos da Alemanha, Georg Bätzing, embora tenha insistido na diferença com o casamento.
É “um bom presente de Natal”, disse o arcebispo de Hamburgo, Stefan Hesse.
– ESPANHA –
Apesar de não querer fazer nenhum comentário, o secretário-geral da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), Francisco César García Magán, avaliou que a partir de agora, cada bispo “verá em sua diocese”. Mas não se deve “confundir” a bênção com “a celebração do casamento canônico”, acrescentou.
“A declaração ‘Fiducia Supplicans’ é polêmica”, afirmou em dezembro o arcebispo de Oviedo, Jesús Sanz Montes. O de Alicante, José Ignacio Munilla, falou de um texto “caótico” e que abre uma prática “contrária à fé da Igreja”.
– POLÔNIA –
“A Igreja tem autoridade para abençoar uniões do mesmo sexo? A resposta é negativa”, disse, em dezembro, o porta-voz da conferência episcopal polonesa, Leszek Gesiak.
Neste país, muito católico, a declaração do Vaticano “não muda em nada o ensinamento da Igreja no que diz respeito ao casamento e à família”, segundo os bispos. Sendo o ato sexual fora do casamento “uma ofensa à vontade de Deus”, as pessoas que mantêm este tipo de relação “não podem receber a bênção de Deus”, reiteram.
– MÉXICO –
A Conferência do Episcopado Mexicano advertiu, em um comunicado, que esta declaração deve ser enquadrada na tradição de “dar bênçãos informais, não ritualizadas liturgicamente” e que serão dadas “sem ânimo de legitimar situações irregulares”.
A organização reitera que o casamento é a “união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta a gerar filhos”.
– PERU –
No Peru, os cinquenta bispos da prelazia de Moyobamba, na região amazônica de San Martín, enviaram uma mensagem para se oporem totalmente à declaração e pedir ao papa Francisco que “anule a validade do documento e toda afirmação que permita a administração de sacramentos ou bênçãos a pessoas em pecado mortal objetivo sem arrependimento e desejo de conversão”.
Os prelados insistem em que, com esta posição, não estão “em rebeldia” com a Igreja.
– URUGUAI –
A diocese de Maldonado, que inclui Punta del Este, teve que enviar um comunicado depois da publicação na imprensa do anúncio de um primeiro casamento religioso entre duas pessoas do mesmo sexo, esclarecendo que foi celebrada em uma capela em um campo privado fora de sua diocese.
Lembrando que o casamento na Igreja católica é “a união exclusiva entre um homem e uma mulher”, a diocese insistiu em que “quando não se celebra o sacramento do matrimônio, não se deve realizar nenhum tipo de rito litúrgico que se confunda com esta celebração”.
*Com informações da IstoÉ
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