Pessoas negras e indígenas são os grupos sociais que menos têm acesso ao saneamento básico no Brasil, segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado na sexta-feira (23).
A pesquisa, realizada em 2022, levou em conta a proporção dos moradores em domicílios particulares permanentes com esgotamento sanitário por rede coletora, pluvial ou fossa séptica.
Nacionalmente, a maior proporção de atendimento por serviços públicos de saneamento ocorre para as pessoas amarelas, seguidas das brancas.
Considerando as 18 cidades mais populosas do país, pessoas brancas ou amarelas também são as que mais têm acesso a este tipo de política pública.
O destaque negativo ocorre na cidade de Maceió. A capital alagoana registra os piores índices para quase todos os grupos sociais, exceto indígenas. No município, entre os amarelos 40,4% das pessoas não têm acesso ao saneamento, entre os pretos o número é de 35,9%, pardos são 34,9% e brancos são 28%.
Já em relação aos indígenas, a cidade com os piores índices é Manaus. Na capital do Amazonas, 39,9% desse grupo não tem acesso ao saneamento.
Por outro lado, o melhor atendimento em saneamento básico, para todos os grupos sociais, ocorre na cidade de Curitiba. No município, 99,6% dos amarelos são atendidos pela política. Entre a população branca na capital paranaense, 98,9%; pretos 97,9%; pardos 97,7%; e indígenas 97,2%.
Dos 18 municípios analisados, em 17 deles as populações negra (que inclui pretos e pardos) e indígena são o grupo social com menos acesso às políticas de saneamento.
“Isso não é algo novo. O que está sendo colocado agora em números é, na verdade, o retrato de um processo histórico”,
afirma Victor de Jesus, um dos coordenadores do Núcleo Capixaba de Estudos da Experiência Humana em Meio Urbano.
Segundo ele, este é um processo antigo. Desde o século 19, quando passou a ser desenvolvido o planejamento urbano das cidades brasileiras, a população negra não foi integrada aos espaços.
“Essa população não participa do processo decisório, não constrói políticas públicas e não é reconhecida como sujeito de direito. Com isso, o setor institui uma política capitalista, que vê saneamento como mercadoria e, por tanto, só quem pode ter acesso é quem pode pagar, o que exclui mais uma vez”.
Em 2022, o Brasil ainda registrava o equivalente a 49 milhões de habitantes sem atendimento adequado de esgoto e 4,8 milhões de pessoas sem água encanada, apesar do crescimento desses serviços
nas últimas décadas.
No caso do esgotamento sanitário da população em geral, 62,5% da população vivia em
domicílios conectados à rede de coleta em 2022. Outros 13,2% estavam em endereços que usavam fossa séptica ou fossa-filtro como solução individual.
De acordo com o IBGE, as duas categorias são consideradas adequadas pelo Plansab (Plano Nacional de Saneamento Básico).
Assim, a população atendida por rede de esgoto ou fossa séptica chegou a 75,7%, na soma, em 2022, o equivalente a 153,1 milhões de pessoas. O percentual subiu em relação aos recenseamentos
anteriores, era de 64,5% em 2010 e de 59,2% em 2000.
*Com informações da Folha de S.Paulo
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