Manaus (AM)- O Amazonas conta com variadas artes em seu repertório cultural. A acrobacia, por exemplo, modalidade pioneira da arte circense, tem revelado artistas talentos em Manaus, mas depara-se com alguns obstáculos.
O Em Tempo entrevistou o artista circense Jean Winder, de 28 anos, que contou sobre sua história na acrobacia e o trabalho que desenvolve na capital. O artista também contou sobre os desafios enfrentados e a importância de levar as artes circenses para as próximas gerações.
Jean conta que seu primeiro contato com a arte milenar aconteceu na adolescência. A partir de então, começou a dedicar-se às atividades do circo, iniciando, inclusive, em companhias amadoras e profissionais de teatro e em alguns cursos, onde conheceu o teatro de rua e sua forma de expressão.
“Na rua tudo precisa ser um pouco maior para chamar a atenção e foi dessa forma que eu conheci a acrobacia. Eu percebi que era uma coisa que eu gostava bastante, que fazia me sentir bem e realizado. Ela é uma atividade física, então é como você estar treinando e aumentando a potencialidade do seu corpo através do esforço físico, da flexibilidade, do equilíbrio, da consciência, da coordenação motora. É uma coisa muito fantástica, a gente percebe a dificuldade que exige o processo para você conseguir executar uma acrobacia”, disse.
Aos dezoito anos, Winder sabia definitivamente o que queria: estudar circo. Ele buscou oportunidades e cursos para se aprimorar e ter conhecimento técnico. Porém, por não encontrar em Manaus a formação para arte circense, o artista saiu da cidade e estudou na Escola Nacional de Circo do Rio de Janeiro.
“Eu acho que um dos desafios mais fortes é essa questão da formação do artista circense quando não está num lugar onde você pode escolher se formar em circo. Começar minha formação em artes circenses me permitiu ter uma formação integral em circo. De treinar cinco vezes por semana, oito horas por dia, numa altíssima exigência corporal. Foi uma formação de máxima qualidade, e um investimento que valeu muito a pena”, disse.
Segundo o artista, o início da atuação foi complicado não só por conta da dificuldade da formação, mas pela falta de ferramentas que permitem executar os exercícios, assim como o processo de identificação com a modalidade certa.
“No início surge algumas dúvidas de onde você pode atuar, pois no circo isso não é tão claro e também é um problema que precisa ser resolvido. Por isso, a relevância da instituição de ensino, porque ela te prepara e te direciona melhor, e com o tempo a gente tem uma segurança e autonomia para entender qual é o seu caminho na área circense”, disse Jean, destacando, ainda, desafios enfrentados atualmente na arte.
“Um desafio hoje é a necessidade de políticas públicas que possa valorizar e preservar toda essa tradição circense. Reconhecer a importância, preservar, é fazer com que essas técnicas, esse estilo de vida continue se desenvolvendo e se transformando em milhares de outras possibilidades que a tecnologia te permite. Além da importância de incentivar novos artistas a produzir e a entrar no mercado circense, intensificar a viabilização e o desenvolvimento da arte circense a nível Brasil. Mas quando a gente olha para nossa região há também a questão da logística”, exemplificou Jean.
Após possuir uma qualificação técnica, o acrobata buscou, também, uma formação de nível superior. Ele fez curso de Artes Cênicas, especializado em artes circenses, na Argentina. O curso exigia, na prática, a acrobacia, preparação física, flexibilidade, acrobacia aérea, acrobacia de solo, criação, composição e dança.
“Eu acho que uma formação de nível superior, principalmente fora do Brasil, permite ter essa percepção de fora do que é a cultura dentro da América Latina e o que as manifestações culturais e artísticas podem fazer para gerenciar todo esse material que pode receber uma intervenção através da arte da cultura. Você consegue olhar para fora, ver o que está acontecendo, olhar para dentro, ver o que pode ser feito. O maior benefício é esse, os vínculos e as relações que esse caminho proporciona, que é muito válido”, afirmou.
Jean é produtor cultural e professor de técnica acrobática e de atividades circenses. Ele trabalha, também, na produção e elaboração de projetos, como na companhia independente Circo Caboclo, que se propõe a investigar, a produzir obras artísticas, experiências culturais, partindo da linguagem circense.
“Por sermos de Manaus propomos uma relação de investigação artística em relação a territorialidade, ao desenvolvimento sustentável, por toda a questão do que é produzir arte em território amazônico. Amplio muito mais em território latino-americano, porque além da preservação das nossas florestas precisamos desenvolver atividades que preservem e valorizem os conhecimentos das populações originárias indígenas, e isso na Argentina, no Chile, no Brasil, no Peru, no Equador. Acredito que isso é uma luta continental e que a gente está bem junto nesse caminho em relação à valorização das tradições dos povos originários e também sobre a valorização do meio ambiente e principalmente das nossas florestas”, afirmou.
Conforme o artista, Manaus está em um processo de forte desenvolvimento do circo, de maneira que a sociedade poderá ser beneficiada por meio da cultura e da educação. Além disso, a companhia Circo Caboclo tem quatro projetos sendo realizados.
“Um desses projetos é um projeto de criação de uma performance artística circense que estou dirigindo, esse número artístico está sendo interpretado pelo acrobata José Arena. Outro projeto também se chama Cano flutuante que é um projeto de criação de uma proposta de videoarte para a internet e será interpretado pelo acrobata Yuri Conti”, contou.
Edição Web: Bruna Oliveira
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