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Dia das Mães

Mães relembram período crítico com Covid e celebram data ao lado dos filhos em Manaus

Para o Em Tempo, duas mães relembraram o período desgastante e doloroso de tratamento contra a Covid-19 até a sua recuperação. A sensação, nesse Dia das Mães, é de gratidão

Manaus (AM) – A pandemia da Covid-19 vitimou inúmeras pessoas nos últimos dois anos e datas tão importantes, como o Dia das Mães, não foram plenamente comemoradas por muitas famílias. Apesar da pandemia não ter acabado, a situação atual é de cada vez menos mortes e infectados, graças ao avanço da vacinação. Assim, neste Dia das Mães, muitas mulheres, que foram infectadas pela Covid-19 e que se recuperaram, vão poder comemorar e prestigiar a data com muita saúde e gratidão, ao lado de filhos e netos.

Para o Em Tempo, duas mães relembraram o período desgastante e doloroso de tratamento contra a Covid-19 até a sua recuperação e o que esperam deste Dia das Mães, celebrado neste domingo (8).

“Achava que não ia voltar”

Mãe de uma filha de 29 anos, a recepcionista de uma UBS em Manaus, Solane Rodrigues, de 57 anos, foi infectada pela Covid-19 no final de janeiro de 2021. Na época, a capital do Amazonas passava por uma grande crise na rede pública de saúde, com os leitos lotados e com falta de cilindros de oxigênio, item essencial para o tratamento dos pacientes com o novo coronavírus.

Conforme Solane, no dia 15 de janeiro do ano passado ela começou a sentir os primeiros sintomas da doença, com fortes dores de cabeça, na garganta e muita coriza.

Solane então procurou um médico na UBS Santos Dumont, localizado no bairro Flores, Zona Centro-Sul de Manaus, que receitou alguns remédios para aliviar os sintomas. No início, houve melhora, porém, em pouco tempo, o estado de saúde da mulher piorou novamente.  

O agravamento dos sintomas foi um alerta sobre a possibilidade de ter se infectado pela Covid-19. O teste para a doença deu positivo. Assim, no dia 20 de janeiro, buscou novamente o médico, que indicou remédios mais fortes. A partir daí, permaneceu em casa para repousar.

No entanto, a doença se intensificou até o dia 25 de janeiro. Na manhã seguinte, com a saúde debilitada, precisou ser internada no Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto, localizado no bairro Adrianópolis, Zona Centro-Sul. Para sua surpresa, no hospital, um dos enfermeiros perguntou se ela gostaria de pegar um voo para Recife com outros seis pacientes.

“Eu estava no limite, já estava muito cansada e não tinha oxigênio. O enfermeiro perguntou se eu queria ir com mais seis pessoas e só tinha uma vaga para fechar as 40 vagas. Eu fiquei pensando, pois ele disse para eu ir porque, caso contrário, eu ia morrer”,

disse Solane.

No dia 27 de janeiro, Solane chegou em Recife e, após três dias sendo tratada no Hospital Alfa, com os pulmões quase completamente comprometidos, recebeu a notícia que tanto temia: precisaria ser intubada ainda naquela noite.

“A enfermeira me falou que não tinha como eu não ser intubada, porque já haviam feito de tudo. Eu fiquei com muito medo. Eu chorei e ela disse que não tinha jeito, então eu disse ‘mas doutora, eu preciso passar por isso mesmo? Então, ela disse que eu estava no limite, e realmente, eu estava muito cansada”, conta Solane.

Momentos antes da intubação, Solane pediu à equipe médica para fazer uma chamada de vídeo com a família, principalmente com a irmã, que não sabia sobre o procedimento. “Falei que seria intubada hoje à noite. Disse para minha irmã: reza por mim porque eu não sei se eu volto”, afirma.

Solane com filha e marido – Foto: arquivo pessoal

De acordo com Solane, o momento mais difícil de todo o período com a Covid-19 foi o da intubação, pois temia não conseguir suportar a doença e deixar a filha, que sofre de depressão, e a mãe, que tem diabetes, sozinhas, sem seus cuidados.

“Nesse dia da intubação eu chorei muito. Achava que eu não ia voltar e que ia morrer, porque muitos colegas meus da área da saúde, amigos e parentes pegaram a doença e morreram”, afirma. Ela lembra que a enfermeira revelou que das seis pessoas intubadas na ala hospitalar apenas Solane sobreviveu.

Solane recebeu comemoração no hospital após recuperação – Foto: arquivo pessoal

O tempo de intubação durou oito dias. Depois, fez fisioterapia pulmonar por pouco mais de uma semana, até que retornou para Manaus.

“Esse momento que eu voltei pra Manaus eu não tinha forças na minha perna, e andava bem devagarinho, pois me cansava rápido. Eu não podia andar e se eu andasse tinha que ser devagar”,

relembra.

Assim que chegou na cidade, familiares e amigos se organizaram para fazer uma cota, com o objetivo de custear os aparelhos para realizar o tratamento de fisioterapia pulmonar em casa. “Passei uns sete ou oito dias fazendo fisioterapia em casa”, disse.

Como era muito caro manter o tratamento, Solane conta que a situação melhorou quando uma assistente social procurou sua irmã para avisar sobre o RespirAR, programa do Governo do Amazonas destinado a ajudar pessoas recuperadas da Covid-19, mas que ficaram com as sequelas da doença.

“Fiz 20 sessões e fui voltando ao normal, porque antes não tinha forças nem para andar, só fiquei boa na fisioterapia do RespirAR e me recuperei do pulmão. Fiz um tratamento fisioterapêutico de exercícios com a bola, com aparelho para me abaixar, estender, assoprar. Foi um tratamento muito longo e muito bom”, observa.

Hoje, ela lembra que os enfermeiros disseram que ela fez centenas de orações durante o período de internação, e o sentimento que permanece é o de gratidão de poder passar mais um Dia das Mães com a família.  

“Esse Dia das Mães vai ser só felicidade de estar viva. Neste domingo eu vou à missa, pois em todos os dias eu vou à missa, depois que eu voltei da minha intubação, para agradecer. Só tenho gratidão a Deus. Vou à missa e depois vou fazer um café da manhã para tomar com minha filha e com minha mãe”, conta Solane.

Solane e mãe – Foto: arquivo pessoal

“Repensei toda a minha vida”

Em dezembro de 2020, poucos dias depois do Natal, a professora universitária e doutora, Cláudia Guerra, de 53 anos, sentiu os primeiros sintomas da Covid-19. Mãe de dois filhos, Cláudia não sabe exatamente onde adquiriu a doença, pois só saía de casa ou para o supermercado ou para o trabalho.

Cláudia com os filhos – Foto: arquivo pessoal

À medida que a doença piorava, a angústia crescia ainda mais, principalmente por continuar doente em janeiro de 2021, período da crise de oxigênio em Manaus.

“Foi um período desesperador em que, de repente, me vi doente, sem condição de me levantar da cama, mas precisando estar viva para dar assistência em casa e estar de olho nos sintomas dos filhos”, conta Cláudia.

Entre os sintomas da Covid-19, que conforme Cláudia, vieram em uma intensidade assustadora, os principais foram dores no corpo, diarreias, tosse, muita dor no peito e um mal-estar que nunca sentiu.

“Daí para frente, o processo durou de 14 a 20 dias. Estive duas vezes no hospital, aos cuidados do Dr. Arthur Garcia, por quem eu também temi muito por saber que estava na linha de frente do combate à Covid-19, deixando em casa duas crianças pequenas”, afirma.

Apesar de estar curada da doença, as sequelas ainda permanecem, que vão desde esquecimentos e queda capilar até dores no corpo sem nenhuma causa específica. Para ela, contrair a Covid-19 foi algo que jamais esquecerá.

“Foi um período em que repensei toda a vida, tinha medo de morrer. Entretanto, o medo maior era pelos filhos, mesmo que já adultos. Para nós, mães, o sentimento de proteção e cuidado independe de idade. Além disso, pensava nas pessoas que ficaram ser ar para respirar, até deixei de assistir televisão. Era um medo que não passava”,

conta Cláudia.

Para Cláudia, o sentimento também é unicamente de gratidão por estar viva com a família e poder comorar o Dia das Mães com a família.

“Sou mãe sobrevivente! Apesar de tudo, agora estamos todos vacinados, sem riscos graves pelo vírus. Me sinto feliz e realizada por ter a oportunidade de comemorar esse dia ao lado dos meus filhos. E muito grata porque, graças a Deus, a minha mãe querida passou por essa pandemia resguardada e não teve contato com o vírus”, agradece Cláudia.

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