Manaus (AM) – A poucos dias do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, comemorado em 28 de junho, o cenário para a comunidade não é digno de comemoração. De acordo com o Ambulatório de Diversidade Sexual e de Gênero, programa da Policlínica Codajás, no bairro Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus, as pessoas do grupo, mesmo com o aumento da representatividade, são alvos, principalmente, de violência doméstica e a violência sexual.
De acordo com a psicóloga do ambulatório, Michelle de Albuquerque, essas formas de violência acontecem de maneira pulverizada, através de outras categorias de violência.
“Na violência doméstica, é muito comum estarem inseridas a violência física, moral e psicológica. Há situações de humilhação contra essas pessoas, o não reconhecimento de sua identidade LGBTQIA+, situações de intolerância, pelo ponto de vista religioso, político e social. Então, são muitos os tipos de violência contra essa comunidade”, afirma Albuquerque.
“Eu não procurei ajuda porque achei que não ia dar em nada e por gostar tanto da pessoa. Me submeti aquilo pelo fato de eu já ter presenciado tanta violência na minha vida, tanto no passado quanto no presente. Já vi as pessoas pedirem ajuda à polícia e eles não ajudarem”, conta Caroline.
A vítima relata que resolveu terminar o relacionamento de vez quando a sua agressora a esfaqueou.
“Em meio uma discussão, ela também pegou e jogou copos de vidros em mim. Pedaços de vidro pularam na minha perna e [me] cortou”, relata.
A psicóloga do ambulatório ressalta que, mesmo que as vítimas de violência tenham sido agredidas ou abusadas na infância ou adolescência, é importante que se faça o registro da ocorrência.
“Nós orientamos para que haja a denúncia. Se essa violência aconteceu recentemente, que ela busque os órgãos de segurança pública ou o conselho tutelar (se for criança ou adolescente). Existe também o fato de que a violência muitas vezes é cometida por familiares e as vítimas tem medo de represália, de ser expulsa de casa. Tudo isso tem impedido que as vítimas denunciem”,
salienta a psicóloga Michelle Albuquerque.
Manaus registrou casos recentes de violência contra a comunidade LGBTQIA+
Uma travesti conhecida como “Lu”, de 22 anos, foi assassinada a tiros na madrugada do dia 8 de junho, em uma praça situada na rua Japurá, na comunidade Valparaíso, bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste de Manaus.
De acordo com policiais da 30ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom), moradores da área ouviram disparos, por volta das 3h, e ao saírem das casas avistaram o corpo da vítima. Os agentes foram até o local e isolaram a área para atuação das demais equipes.
Já no dia 19 de junho, após uma discussão, um professor de dança identificado como Alex Rene Mota de Carvalho, de 46 anos, foi assassinado com uma facada no peito. O crime brutal aconteceu na rua Paranapua, bairro Coroado, Zona Leste de Manaus.
Testemunhas informaram à polícia que Rene teve uma discussão com um homem, identificado como Diego Ribeiro da Silva, que teria puxado a faca e desferido o golpe fatal contra o professor. Os dois tinham um relacionamento há cinco anos. O suspeito confessou o crime e se entregou à polícia dois dias após o crime.
No dia 28 de maio, o corpo de uma mulher trans foi encontrada boiando em um igarapé da Zona Centro-Sul de Manaus. Segundo informações preliminares do Instituto Médico Legal (IML), uma pancada na cabeça foi a causa da mortem, que teria acontecido após um desentendimento com um parceiro.
A equipe do IML, que fez a remoção do corpo do local, afirmou que seria realizado um laudo mais aprofundado para detalhar como foi feito o golpe, mas a suspeita era de pedrada. Não foram identificadas perfurações nem por arma branca nem por arma de fogo.
Momento histórico
Mas nem tudo é marcado por violência. No dia 12 de junho, Dia dos Namorados, a Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM), realizou o maior casamento coletivo da história da cidade e o casal Jota Pantoja, 28, e Poliana Freitas, 25, realizaram o sonho de oficializar a união. Eles formam o primeiro casal homoafetivo a realizar o casamento civil na cidade e afirmaram que o casamento foi marcado pela representatividade.
“Nós tínhamos esse sonho há muito tempo, porque estamos juntos há seis anos, mas não sabíamos que podíamos nos casar no civil. Foi quando eu procurei me informar e descobri que nesse evento eu poderia, sim, reafirmar o meu compromisso com a mulher da minha vida. Estou muito feliz por esse momento”, afirmou Jota.
Denúncia
De acordo com o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT – qualquer pessoa agredida, física ou verbalmente, deve registrar um boletim de ocorrência (B.O), além de buscar a ajuda de possíveis testemunhas do ocorrido. Em casos de agressões físicas, a vítima não deve se lavar nem trocar de roupa, pois elas poderão ser provas em um exame de corpo de delito.
Para as vítimas que não se sentem confortáveis ou não possuem acesso à uma delegacia de imediato, a denúncia pode ser feita pelo telefone: Disque 100. O número para a denúncia funciona em todo o território nacional e é um serviço de atendimento telefônico gratuito, que funciona 24 horas por dia, nos 7 dias da semana.
O serviço telefônico recebe denúncias anônimas relativas às violações de direitos humanos, em especial as que atingem populações vulneráveis, como a comunidade LGBT, mas também crianças e adolescentes, idosos, deficientes físicos e moradores de rua.
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