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BREGA STORY

Quadrinista do Norte recebe prêmio de melhor álbum com “Brega Story”

Reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará, o brega paraense é homenageado pela história em quadrinho

Foto: divulgação/Piero Sbragia

Manaus (AM)- Responsável por formar grande parte dos leitores, as histórias em quadrinhos (HQ´s) fazem parte das lembranças da infância de grande parte da população. O premiado quadrinista Gidalti Júnior, de 38 anos, foi o vencedor da categoria melhor álbum em quadrinhos com a HQ “Brega Story”, na primeira edição da Comic Con Experience Awards (CCXP), premiação brasileira voltada à celebração dos principais lançamentos da cultura e dos games, no Brasil e no mundo.

Reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará, o brega paraense é homenageado pela história em quadrinho, que ambienta-se nos bastidores do universo do brega de Belém do Pará, reproduzindo nos quadrinhos a explosão de som, luzes, cores e formas de um dos gêneros musicais mais expressivos do Brasil. 

Foto: divulgação

Para o quadrinista, receber o prêmio na categoria ‘Melhor Álbum Em Quadrinhos’ na CCXP foi o fruto de anos de esforço de anos de pesquisa e não poupou palavras ao falar sobre a gratificação que sentiu ao ser premiado.

“Uma história em quadrinhos requer bastante tempo e muito trabalho. É sempre bastante gratificante receber o reconhecimento de um júri e de um público, em especial da CCXP Awards, que é um prêmio novo, mas já chega gigante e se impondo no mercado. Estou bastante feliz com a visibilidade que o prêmio traz para a obra e o reconhecimento que vem para as minhas histórias em quadrinhos”, destacou.

Nascido em Minas Gerais, mas criado em Belém do Pará, Gidaldi Jr. ressalta que tem a cultura nortista como fonte de inspiração e criatividade. Fã assíduo de HQ´s, o início no mundo dos quadrinhos ocorreu aos 7 anos de idade, quando começou a produzir as próprias histórias voltadas ao universo dos super-heróis ou sobre o que vivenciava ao lado dos amigos e familiares.

No decorrer dos anos, o foco mudou. Estudou Publicidade, Artes Visuais e começou a lecionar, deixando o sonho de fazer quadrinhos de lado. Após se mudar para São Paulo, passou por um ano sabático, começou a se aprofundar profissionalmente na área das histórias em quadrinhos e conseguiu encontrar o que realmente queria fazer.

“Acompanhava os quadrinhos da editora Abril, como o Homem Aranha e X-Men. Sempre fiz quadrinho quando garoto para narrar as histórias de super-heróis ou escrever algo satírico sobre os meus amigos e primos. Foi em São Paulo que comecei a estudar quadrinhos. Assim, finalmente encontrei o meu caminho, que é autoral e com temáticas brasileiras, tendo como foco a Amazônia”, disse.

Foto: divulgação

Estimulado pela família nessa trajetória desde que era criança, Gidalti caracteriza o apoio como um “divisor de águas” na vida de alguém envolvido no setor da cultura e ressalta que recebe o apoio até os dias de hoje.

“Desde garoto fui muito estimulado, dentro de casa a desenhar, escrever e pintar. Esse apoio veio desde o meu núcleo familiar mais próximo, que são os meus pais, e até mesmo dos meus tios e parentes mais distantes. Isso faz bastante diferença. Aqui em casa, a minha esposa e a minha família de forma geral sempre apoiaram as minhas escolhas”, ressaltou.

Se a vida de quadrinista brasileiro já é movida a desafios, quando se faz parte de uma minoria, a situação envolve ainda mais obstáculos. De acordo com o artista, quem trabalha com a arte enfrenta inúmeras dificuldades e com ele não foi diferente.

O quadrinista compara o mercado das HQ´s com o dos livros, por não ter uma maturidade comercial e por existir uma carência na percepção do público de que os autores precisam desse lucro para viver.

“Sem dúvidas o caminho da produção artística é bastante difícil e particular. Todo mundo que trabalha com arte e cultura enfrenta uma série de dificuldades que são graduais desse mercado e dessa escolha. Quando pensamos em histórias em quadrinhos, assim como o mercado do livro, enfrenta muitas dificuldades e não tem uma certa maturidade comercial. Não vendemos muitos quadrinhos brasileiros, não temos um público que tenha ciência que os autores vivem desse ofício. É um desafio diário, tanto no sentido econômico, quanto no sentido conceitual, mas isso não nos paralisa. Conseguimos superar esses desafios”, pontuou.

Para produzir Brega Story, Gidalti dedicou-se a uma intensa pesquisa gráfico-musical. A publicação conta a história do músico Wanderson Jr., o Breguinha, conhecido como o “Rei do Brega”, que tenta se adaptar às mudanças trazidas pelo tempo para levar adiante seu plano de ser uma grande estrela nacional e, quem sabe, internacional. 

Capa da História em Quadrinhos Brega Story

“O Brega nasce dessa vontade de continuar trabalhando com Belém do Pará. Queria muito desenvolver um trabalho que explorasse cores mais saturadas, policromado do brega. Primeiro veio essa questão formal e, em seguida, quis explorar a questão das dificuldades de se fazer arte no Norte do Brasil e como isso pode adoecer as pessoas. A trama também desenrola para outras questões, como o assédio moral e sexual. O ‘Brega Story’, para mim, foi uma maneira de falar sobre temas delicados e sensíveis a partir desse formato contrastante do brega”, explicou.

Um trecho da história em quadrinhos gerou polêmica por mostrar um policial militar tentando agredir uma criança moradora de rua. O quadrinista configura como censura o fato da cena em questão ter sido retirada de uma exposição.

“Foi quase uma censura, a situação foi bastante constrangedora. Reflete muito esse momento totalitário e obscuro que vivemos no Brasil e espero que em breve a gente relembre esses acontecimentos a partir de uma ótica bem distante e que isso seja passado o mais rápido possível”, destacou.

Sobre os próximos projetos no mundo dos quadrinhos, Gidalti Jr. adianta que parar de fazer quadrinhos é algo distante dos planos. Além disso, ressalta que vem gostando de experimentar outras vertentes da arte, mas sem deixar as histórias em quadrinhos de lado.

“Vou continuar fazendo quadrinhos. Gosto de trabalhar com pintura e desenho, mas os quadrinhos são uma mídia muito poderosa. Continuo bastante empolgado em fazer quadrinhos e em breve, se tudo der certo, trago o meu próximo álbum”, finalizou.

Sobre Gidalti Jr.

Mestre em artes (UFPA), pós-graduado em História da Arte (Belas Artes/SP), graduado em Artes Plásticas (UFPA) e Publicidade e Propaganda (Unama). Autor da novela gráfica Castanha do Pará (2016 independente e 2017 Editora SESI-SP), obra vencedora do prêmio Jabuti na categoria Histórias em quadrinhos. Tem experiência e desenvolve pesquisas nas áreas de Artes e comunicação, com ênfase em processos de criação, história em quadrinhos, desenho e pintura.

Edição e pauta: Bruna Oliveira

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