Manacapuru (AM) – Mal que afeta todo o mundo, a desigualdade social é um problema que agrava questões de marginalização. Importantes aliadas no combate à desigualdade social, as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) desempenham um papel importante e são uma peça fundamental na mudança dessa realidade no Amazonas.
Fundada há 12 anos no município de Manacapuru (distante 98 quilômetros da capital amazonense), a Associação Instituto Samaúma (ASSIS) surgiu com o propósito de atuar em favor da população menos favorecida do município no interior do Amazonas. Criada em 2010, por meio do anseio de três amigas que, inconformadas com as injustiças e o abandono social de classes menos favorecidas, decidiram unir os desejos em mudar a realidade dos moradores da “Princesinha do Solimões”.
O projeto nasceu fruto do trabalho voluntário de três amigas. O trio Nayluce de Lima Pereira, que ocupa o cargo de diretora-presidente; a diretora vice-presidente Sheila Cristina Ramos e Silva e da diretora financeira Catarina da Silva Eleulério. Elas investem em pequenos projetos e ações sociais por acreditar que podem contribuir com a queda das desigualdades sociais.
A organização atua em todo o município de Manacapuru, inclusive a área rural, onde conta com 400 agricultores cadastrados e que, em breve, receberão triciclos para ajudar no escoamento da produção, fruto de uma Emenda Parlamentar concedida pela deputada estadual Alessandra Campêlo (PSC). Devido à dificuldade de transporte, a associação regularmente atende no Bairro da Correnteza, onde a fica situada a sede.
“Somos três amigas que decidiram abrir o instituto para melhorar a vida de muitas pessoas. No começo era algo pequeno e, ao longo desses 12 anos, as ideias e os projetos foram amadurecendo. Infelizmente, ainda não temos muita ajuda financeira, mas esse ano conseguimos duas emendas parlamentares: uma para a compra da nossa nova sede e outra voltada para a zona rural. Em Manacapuru, no bairro da Correnteza, temos 300 famílias cadastradas e na zona rural temos 400 cadastrados”, destacou a diretora-presidente Nayluce Pereira.
Com mais 300 famílias cadastradas e outras 400 na zona rural do município, desde a fundação, os projetos e ações desenvolvidos pela associação sempre tiveram como foco a educação inclusiva, a redução de preconceitos, da violência contra as mulheres e das minorias, além da construção da paz social. Os projetos oferecem acolhimento, escuta qualificada, trabalho multidisciplinar e em rede como valores fundamentais.
Conforme Nayluce de Lima Pereira, a maior dificuldade enfrentada para seguir com os projetos da associação é a financeira, um dos principais desafios de quem atua no terceiro setor, formado por organizações sem fins lucrativos que prestam serviços públicos.
“Embora tudo pareça tão perfeito, nossa maior dificuldade ainda é a financeira. Mas, uma coisa você pode ter certeza, toda dificuldade nos motiva ainda mais e desistir jamais será uma opção, seguiremos com muita fé em Deus de que a fase mais difícil já passou e que estamos no caminho certo. Ajudar as pessoas atendidas pelo instituto e vê-las mudarem de vida é o que nos faz acreditar que o melhor sempre chega”, declarou.
Nayluce recorda que perdeu o marido para o coronavírus (Covid-19), que era também um dos maiores contribuintes financeiros da Samaúma. “No ano passado enfrentamos o maior problema das nossas vidas que foi a Covid-19. Fiquei 18 dias entubada, passei 30 dias na UTI, meu esposo faleceu e ele era que nos ajudava muito financeiramente”, lembrou.
No entanto, a diretora pontua o apoio oferecido pelo Governo do Amazonas como crucial para o bom desenvolvimento do trabalho da associação. Reconhecida pela Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc) em 2022, a Samaúma foi aprovada em um edital para o “Mesa Brasil Sesc”, rede nacional de bancos de alimentos que atua contra a fome e o desperdício. O instituto ainda se candidatará em dois editais da Secretaria de Estado da Produção Rural do Estado (Sepror) para o recebimento de alimentos.
Em 2022, a Associação Samaúma foi certificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), após o crescimento do trabalho exercido. Realizando um sonho de Nayluce partilhava ao lado do marido. Atualmente, a associação conta com uma filial em Lagoinha, localizada no município de Paraipaba, no Estado do Ceará, em um espaço cedido pelo Centro Cultural de Lagoinha. Inaugurada em outubro de 2021, o instituto está em hiato em busca do apoio da comunidade e de novos parceiros.
“Era um sonho antigo meu e do meu marido, estive lá depois que ele faleceu e resolvi conversar com alguns moradores como a Jordânia, que hoje é que cuida das coisas por lá e o sonho foi acontecendo e fizemos a abertura da firma e uma Festa do Dia das Crianças para comemorar, foram 150 crianças. Agora estamos parados lá, resolvemos arrumar a casa aqui para depois partir para lá. Mas temos duas parcerias, uma para dar aulas de ballet e outra para dar jiu-jitsu, são voluntários”, disse.
Projetos desenvolvidos
Ao longo do ano, a organização realizou trabalho de apoio por meio de rodas de conversa para fortalecimento de vínculos afetivos e fortalecimento da rede de apoio voltada a comunidade LGBTQIA+, com o compromisso de promover a autonomia e a independência financeira da população residente no município de Manacapuru.
Em parceria com o Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Assistência Social (SEAS), Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS), Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), Visão Mundial, Parceiros Brilhantes e outros parceiros particulares, foram distribuídas e doadas cestas básicas; material de higiene pessoal; água potável; pescado; fraldas para uso adulto; massa para mingau; bolsas com material de uso pessoal para mulheres.
Durante todo o ano, foram feitos projetos e encaminhados a Editais de Chamamento voltados a mulheres, adolescentes e grupos LGBTQIA+.
Na sede também são realizadas palestras para conscientização da população acerca de seus diretos e deveres de associados, ainda foram realizadas palestras sobre empoderamento feminino, visando iniciar projeto para o ano seguinte.
Apoio para mulheres vitimas de violência
A associação desenvolve o “Projeto Mulher de Coragem”, que abrange mulheres em vulnerabilidade social e vítimas de violência doméstica e para tocar o projeto estamos contando com doações de amigos, parceiros e pessoas interessadas em ajudar.
O projeto ocorre todas as sexta-feiras na atual sede da ASSIS e, em breve, também será lançado um plano que atenderá os filhos dessas mulheres.
Auxílio aos jovens ex-infratores
O instituto também busca parcerias e aguarda editais para a implementação do projeto “De Boa na Escola”, sendo um projeto de Justiça restaurativa e a construção de círculos de paz na escola. Visa o ensino da compreensão das diferenças, discussão sobre a violência velada ou explicita, além de buscar formas de soluções compartilhadas para os conflitos.
“Esse projeto é uma de nossas paixões e será desenvolvido com os adolescentes que comentem atos infracionais, que serão encaminhados pela Vara Infracional. Todos precisam de ajuda no exercício de conviver, todos podem se beneficiar com a mudança de olhar e com a escuta diferenciada e, para isso, precisamos ter facilitadores dessas práticas na escola, o que certamente trará grandes benefícios para toda comunidade”, afirmou.
“Não se pode desconsiderar a dificuldade que pais, professores e diretores e demais funcionários encontram ao lidar com o tema violência nas escolas, atualmente manifestada de diferentes maneiras”, ressaltou.
Nayluce ainda pontua que o projeto terá o objetivo de desenvolver o diálogo e promover uma maior relação com os jovens, por meio de assuntos como o luto, a convivência familiar e outros assuntos pertinentes.
“Desta forma, as escolas encontram na prática da Justiça Restaurativa a forma mais eficaz para solucionar conflitos é dialogar, por seus círculos de diálogo entre pais, alunos, colaboradores da escola e comunidade. Além da modalidade da Comunicação Não Violenta, atualmente precisamos inserir em nossos diálogos os ‘Círculos de Pós-Pandemia’, para tratarmos de assuntos como o luto, como a convivência familiar e outros assuntos pertinentes, haja vista o grande número de crianças e adolescentes afetados pela Covid-19”, finaliza.
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