Manaus (AM) – O incêndio que deixou 51 pessoas sem moradia, na noite de terça-feira (26), no bairro São Jorge, Zona Oeste de Manaus, é decorrente de uma desarmonia entre o direito à moradia, inerente à constituição das cidades, e a proteção do meio ambiente natural. Informações preliminares dão conta de que o incêndio aconteceu quando um usuário de drogas estava fumando e sem querer ateou fogo no local. O Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) ainda não confirmou a causa.
O fogo se espalhou mais rápido por causa da fiação elétrica clandestina do local, inadequado para moradias. O crescimento desordenado da capital amazonense traz consigo muitos problemas, entre eles, a ausência de implementação de políticas públicas voltadas para a população carente que ocupa esses locais.
As vítimas são pessoas como Ketelem Ávila, de 17 anos, e o companheiro venezuelano, que juntos têm um bebê recém-nascido de apenas 30 dias.
“Infelizmente a casa não era estruturada e era onde tinha para eu morar. Na hora do incêndio eu já estava deitada com o meu filho e escutei minha sogra gritando que estava pegando fogo. Eu não pensei em nada e só peguei o meu filho nos braços e saí correndo. Ainda cheguei a voltar para pegar os nossos documentos, mas a casa já estava pegando fogo e infelizmente não sobrou nada”,
conta a jovem.
Ketelem morava com mais cinco pessoas em uma casa de madeira. Esse tipo de residência tem maior probabilidade de pegar fogo, de acordo com Corpo de Bombeiros, que esteve no local para conter as chamas. Assim como Ketelem Ávila, outras 17 famílias perderam tudo.
A reportagem do Em Tempo entrou em contato com a Prefeitura de Manaus, o Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb) e a Defesa Civil a fim de obter o número de moradias irregulares e famílias que vivem em domicílios inadequados em Manaus, mas não obteve resposta até o fechamento deste material.
Única opção
Consideradas moradias inadequadas ou moradias urbanas irregulares, as casas de madeiras construídas na beira dos igarapés em Manaus, muitas vezes se tornam não somente a única opção de abrigo para as famílias carentes como também contribui para o crescimento desordenado populacional da metrópole manauara, de acordo com um estudo publicado em 2017, pela Universidade Estadual do Amazonas (UEA).
O pedreiro Fernando Brasil, de 36 anos, também perdeu tudo o que possuía no incêndio. De acordo com Fernando, que escolheu morar no local há três anos por causa de recursos financeiros, o local era o que atendia a sua necessidade. O pedreiro conta que veio de Nova Olinda do Norte (distante a 136 quilômetros de Manaus) em busca de melhores condições de vida e o local foi uma das alternativas para ele e sua família habitarem.
Fernando explica que sua casa era a última, e ficava perto do igarapé. Ele conta que quando as outras residências estavam em chamas, ele e sua família saíram do local apressadamente em uma canoa que estava por perto. Ainda, segundo o homem de 36 anos, com o apoio da canoa conseguiu resgatar nove crianças de outras famílias que pediam socorro.
“Como a nossa casa era a última, nós saímos de lá em uma canoa que estava no igarapé. Conseguimos levar nove crianças, sendo quatro minhas e o restante era dos vizinhos”,
relata.
Fernando Brasil já se preocupa com as dificuldades que estão por vir. “Eu penso no alimento que tenho que dar aos meus filhos, porque eu sei que a fome dói. As outras coisas vamos recuperar depois, mas a comida é essencial e tem que ter, principalmente quando se tem criança em casa. Graças a Deus, tenho umas pessoas que já me avisaram que vão me ajudar nesse momento difícil e já recebemos algumas roupas doadas”, disse.
Apoio da Prefeitura
A Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), junto com a Defesa Civil, fez a identificação das famílias, vítimas do sinistro, e com o apoio do Governo do Estado realocou as mesmas para o ginásio Ninimberg Guerra, localizado no bairro São Jorge, Zona Oeste da capital.
A secretária da Semasc, Jane Mara Moraes, informou que as famílias fizeram um cadastramento pela manhã desta quarta-feira (27) para receberem o auxílio aluguel disponibilizado pela Prefeitura de Manaus para ajudar essa população nesse período de vulnerabilidade. Além disso, também teve emissão de novos documentos para as pessoas que perderam na tragédia.
“Nós fizemos a desmobilização e todos eles estão vinculados ou à casa de um amigo, ou à casa de família, ou a um local que eles se comprometeram a locar. Quase todos foram morar na mesma rua, e a Semasc ajudou na condução dos pertences dessas famílias. Mas o nosso vínculo não acabou. Amanhã (28), nós iremos fazer a distribuição das cestas básicas e de outras doações que a comunidade doou”,
comenta a secretária.
Além das doações, Moraes enfatiza que as famílias irão receber um kit de cozinha que contém geladeira, fogão e cama, que foram doados pela prefeitura. As doações que a comunidade manauara está organizando e enviando para as vítimas do incêndio devem ser entregues na sede da Semasc, na avenida Ayrão com a Ferreira Pena, s/n, Centro.
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