Manaus (AM) – O garimpo ilegal avança rapidamente sobre o território do povo Yanomami, localizado na fronteira entre Venezuela e Brasil. Dos diversos problemas provenientes da atividade ilegal, a violência sexual de garimpeiros contra adolescentes Yanomami apareceu em um documento de denúncia lançado, nesta segunda-feira (11). No entanto, segundo um líder indígena, o crime sexual já era recorrente em anos anteriores.
De acordo com o relatório da Hutukara Associação Yanomami, houve um aumento de 46% do garimpo ilegal em terras Yanomami de 2020 a 2021.
Os números são ainda mais alarmantes nos últimos 5 anos. O estudo aponta um aumento de 3.350% do garimpo, de 2016 a 2021, em território das aldeias Yanomami, que ocupam cerca de 192.000 km² de terra, o que equivale a aproximadamente 10 milhões de hectares, que cobrem os estados do Amazonas e Roraima.
“Isso é uma grande tragédia que está acontecendo na Terra Yanomami. Por isso a gente está lançando esse relatório sobre a violência e abuso sexual contra as indígenas Yanomami”,
afirma o líder Yanomami, Dário Kopenawa.
Conforme o documento, junto com a destruição e a poluição da floresta, os garimpeiros também têm violentado sexualmente de jovens indígenas Yanomami. Os dados apontam que em 2020, três adolescentes, de 13 anos, foram mortas por violência sexual realizada pelos garimpeiros.
O relatório indica que os garimpeiros pediam sexo em troca de comida e que embriagavam as jovens indígenas para terem relações sexuais.
“Os garimpeiros estupraram muito essas moças, embriagadas de cachaça. Elas eram novas, tinham apenas a primeira menstruação. Após os garimpeiros terem provocado a morte dessas moças, os Yanomami protestaram contra os garimpeiros, que se afastaram um pouco. As lideranças disseram para eles que estando tão próximos, se comportam muito mal. Por isso, outros Yanomami os apelidam de letalidade da malária”,
afirma um dos relatos do relatório.
Denúncias anteriores
Segundo o líder Yanomami, Dário Kopenawa, a violência sexual contra adolescentes de aldeias Yanomami não é um crime recente. O líder indígena do povo Yanomami aponta que a violência sexual já acontecia há pelo menos três anos, e que denúncias foram encaminhadas, à época, para o Governo Federal.
“Há muito tempo, nós, do povo Yanomami, fazemos investigações sobre essa violência sexual, e a prática da troca de comida que os garimpeiros fazem com as Yanomami. As próprias mulheres Yanomami fizeram uma denúncia e isso aconteceu há quase três anos. Agora, a gente está lançando esse relatório sobre o abuso sexual na comunidade. Então, isso já acontece há muito tempo”, conta Dário Kopenawa.
O aumento da atividade garimpeira em terras Yanomami acontece principalmente em Roraima. Já na região do Amazonas, a atividade incide no território Yanomami de forma reduzida, conforme Dário.
Para frear o crescimento do garimpo na região, assim como as violências contra o povo Yanomami, o líder disse que associação Hutukara já enviou denúncias para órgãos públicos.
“A Hutukara está lançando, pela terceira vez, esse relatório demonstrando para as autoridades brasileiras, para o governo federal, estadual e municipal. Também encaminhamos as denúncias para o Ministério Público Federal, ao Exército, à Funai, ao IBAMA, ao Ministério da Justiça e ao Supremo Tribunal Federal. O governo já tem o conhecimento e agora o governo tem que cumprir com seu papel, tem que retirar os garimpeiros imediatamente da terra Yanomami”, afirma.
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