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Flamengo tenta retomar visão científica no futebol após trabalho se perder

Receita bilionária não fez clube investir na mesma proporção em recursos humanos nos últimos quatro anos, da saída ao retorno de Dorival Jr, e agora corre atrás do prejuízo na remontagem de comissão

A volta de Dorival Júnior ao Flamengo, fecha um ciclo de quatro anos desde que o técnico foi informado pela atual gestão, recém-eleita, que não seguiria no clube ao fim de 2018. No período, o departamento de futebol recebeu a injeção financeira das vendas de Vini Jr e Paquetá para investimentos na qualificação do elenco que levou às conquistas de 2019 e 2020. Mas, no meio desse caminho, a pasta experimentou também um sucateamento de processos e recursos humanos, que agora tenta voltar a qualificar — coincidentemente sob a gestão de Dorival, trocado por Abel Braga e, depois, Jorge Jesus, arquiteto de uma hegemonia que não se sustentou.

Mesmo tendo atingido receita bilionária em 2021 e quase dobrado os gastos com a contratação de jogadores e a folha salarial do elenco, o Flamengo reduziu despesas administrativas que atingiram ganhos de funcionários do futebol, embora essa linha não apareça com clareza nos balanços. Desde 2019, o presidente Rodolfo Landim não paga mais premiações aos profissionais do departamento, mas a queixa sobre a remuneração defasada no mercado já vinha desde 2018, na gestão de Eduardo Bandeira de Mello. Entretanto, os critérios de seleção de pessoal ainda amenizavam o êxodo visto de 2020 até agora.

Depois de perder profissionais que hoje fazem sucesso no Palmeiras, Atlético-MG, Botafogo e até no exterior, o Flamengo resolveu se mexer. Trará de volta o antigo consultor da empresa Exos, Michael Minthorne, para ser seu coordenador científico. Posição que até 2019 era de Daniel Gonçalves, hoje no Palmeiras ao lado do chefe da fisioterapia ex-Flamengo, Fred Manhães. Outro reforço para o estafe foi o fisiologista Tadashi Hara, do Athletico.

Falta de integração

Funcionários do departamento médico que viram a implementação dos processos até 2018 relatam que o trabalho da parte física se perdeu a partir da entrada de profissionais que não obedeceram a critérios técnicos. Outro fator negativo foi a saída dos que conservavam um modelo científico que o Flamengo tentava criar, casos do psicólogo Alberto Figueiras, o preparador físico Diogo Linhares e o fisiologista Fabiano Bastos.

O organograma do clube ilustra bem os critérios adotados. Hoje não há um preparador físico do clube, e outros profissionais da comissão técnica subiram da base para reforçar a comissão de Dorival, que não influencia na busca por novos nomes. É de Márcio Tannure outra vez a missão de remontar o que antes era o Centro de Excelência em Performance e virou Departamento de Saúde e Alto Rendimento.

Quem participa do dia a dia indica que o trabalho ficou menos integrado. Até 2019, eram quatro áreas: técnica, comandada pelo treinador; excelência e performance, sob responsabilidade de Tannnure; Inteligência e Mercado, com Marcos Biasotto e, depois, Fabinho Soldado; e, por último, logística, registro e operacional. Todos trabalhavam de modo coordenado e colaborativo, subordinados ao diretor de futebol. Após a saída de Rodrigo Caetano, hoje no Atlético-MG, a gestão anterior promoveu Carlos Noval, que na atual administração virou gerente de transição da base.

Desde então, nunca houve um diretor técnico. Bruno Spindel assumiu a função, primeiro com Paulo Pelaipe como gerente. Após sua saída em 2020, o vice de futebol Marcos Braz se escorou em Fabinho e no ex-jogador Juan, que viraram gerentes. O organograma de diretoria ficou menos vertical e os atletas passaram a ter mais influência no dia a dia do clube, limitada apenas pelo treinador.

Domènec Torrent, Rogério Ceni, Renato Gaúcho e Paulo Sousa alternaram estilos no trato com os jogadores, mas todos relataram problemas no departamento e tiveram que buscar reformulações por conta própria, com as comissões que trouxeram, sem poder contar com trabalho estruturado do clube, como era até chegada de Jorge Jesus.

Assim, a filosofia do Flamengo deu lugar a pensamentos pontuais e sem identidade, o que contribui para maior dificuldade, por exemplo, na prevenção de lesões dos jogadores.

Gastos do Flamengo entre 2018 e 2022

Custo das atividades sociais e esportivas

  • 2021 – R 761.610.000
  • 2020 – R$ 614.948.000
  • 2019 – R$ 677.115.000
  • 2018 – R$ 389.940.000

Salários, encargos e benefícios a funcionários

  • 2021 – R$ 269.330.000
  • 2020 – R$ 236.439.000
  • 2019 – R$ 278.171.000
  • 2018 – R$ 162.954.000

Direito de imagem

  • 2021 – R$ 84.800.000
  • 2020 – R$ 96.408.000
  • 2019 – R$ 47.583.000
  • 2018 – R$ 38.660.000

Contas a pagar de transferência de jogadores

  • 2021 – R$ 204.735.000
  • 2020 – R$ 270.431.000
  • 2019 – R$ 152.765.000
  • 2018 – R$ 65.234.000

Gastos com negociações de atletas

  • 2021 R$ 28.524.000
  • 2020 R$ 40.420.000
  • 2019 R$ 39.904.000
  • 2018 R$ 14.436.000

Despesas administrativas do clube: Salários, encargos e benefícios a funcionários

  • 2021 – R$ 26.175.000
  • 2020 – R$ 18.154.000
  • 2019 – R$ 32.668.000
  • 2018 – R$ 27.707.000

*Agência O Globo

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