Desde o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef (PT) em 2016 e o crescimento de uma ideologia anti-petista em 2018, as camisetas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) passaram a representar grupos e manifestantes de direita, com destaque recente aos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que incorporaram a vestimenta em atos de apoio ao governo. Com a chegada da Copa do Mundo Fifa 2022, começa então uma nova discussão: Usar a camisa da seleção brasileira pode associar aos apoiadores do presidente derrotado nas urnas Jair Bolsonaro ou é possível usar essa camisa como sempre foi usada, nos anos de Copa do Mundo de Futebol Masculino?
A pedagoga Juliana Barreto gostava de carregar uma bandeira do Brasil quando assistia aos jogos da Copa do Mundo com amigos e parentes. Neste ano, depois de ver tantos estandartes verde-amarelos em manifestações políticas, resolveu fazer diferente.
“O atual governo sequestrou a nossa bandeira e a utiliza para se referir ao presidente. Tomei desgosto. Até a vontade de torcer pela seleção em plena Copa acabou.”,
pontuou a pedagoga.
Foi com uma camisa vermelha, extraoficial, que a jovem de 26 anos arrumou um jeito de se sentir representada para acompanhar os jogos da Copa, que começa no dia 20, e torcer pelo hexacampeonato. Entre outros efeitos, o “bolsonarismo” mudou o look da torcida da Copa este ano. Como Juliana, torcedores contrários ao presidente Jair Bolsonaro (PL) apostam em novas cores e modelos alternativos de camisas. As opções vão desde customizar as blusas com novos símbolos e números até usar camisas pretas, brancas e — por que não? — vermelhas.
“A cor vermelha foi perfeita para isso, mas não só por ser a da oposição. Vermelho é uma cor quente, que significa paixão e energia. E é isso que eu tenho: paixão pelo meu país e energia para lutar”,
explicou a pedagoga.
Juliana Barreto diz que comprou a camisa bem antes das eleições e já usou “nos mais diversos cantos”, segundo conta.
“Virou meu xodó. Foi a minha companheira durante essa trajetória de luta e continuará sendo.”,
disse.
Decepção por eliminação
Nem só por motivos políticos o torcedor brasileiro decidiu não usar mais as camisas tradicionais. Para o advogado Walter Lemos, de 45 anos, a “desilusão” com a seleção brasileira e com a camisa verde-amarela começou antes, em 2006. E a amarelinha foi oficialmente aposentada — pelo menos por enquanto— por divergências políticas. A escolha dele para acompanhar a Copa do Qatar também foi por um modelo vermelho. O advogado acredita que, apesar da derrota de Jair Bolsonaro nas urnas, derrubar o que ele chama de “apropriação” das cores da bandeira não vai ser fácil.
“O símbolo [camisa amarela da seleção] acabou virando uma representação de algo antidemocrático.”
disse o advogado.
A mistura de significados fez até a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) encabeçar uma campanha institucional para desvincular a imagem da amarelinha do cenário político. Antes da convocação do técnico Tite para a Copa do Qatar, a assessoria da CBF informou que exibiria um vídeo: tratava-se de uma peça publicitária para promover a camisa da seleção brasileira e uma iniciativa para tentar dissociar o uniforme do time nacional de política.
No vídeo, há um rap com o refrão utilizando um trecho da música de Lulu Santos “Tão bem”. O refrão da música é “Ela me faz tão bem, Ela me faz tão bem/Que eu também quero fazer isso por ela.” É uma referência à camisa da seleção.
“É o início de uma campanha institucional. Passará na TV aberta e fechada, e redes sociais. É para mostrar que todos podem se sentir bem com a camisa da seleção”,
contou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
Veja o vídeo aqui:
Provocações
Às vésperas da Copa do Mundo 2022, as lojas que vendem camisas alternativas, ainda apostam na alta procura. Os modelos de camisas vermelhas da Copa já estão sendo vendidos, antes mesmo do início da campanha eleitoral. Além de vermelhas, é possível encontrar blusas com símbolos do comunismo (foice e martelo) e de punho cerrado, um símbolo de “resistência”.
A dona de uma marca de roupas, Laissa Cancelier, conta que a reação dos consumidores aos modelos de camisas vermelhas no primeiro momento foi de “amor e ódio” —a turma do amor queria justamente alternativas para torcer. Já a outra parte questionava se era certo desapegar do tradicional verde-amarelo.
“Usar uma camiseta é como ser um outdoor ambulante. Aquilo é provocativo, é um jeito de colocar um contraponto, fazer deboche, militar. Pode ser o que quiser, inclusive um instrumento de resistência”,
diz Laissa.
A procura pelo modelo vermelho aumentou nas semanas anteriores ao segundo turno das eleições e parte das compras foi não só para a Copa, mas para ir às urnas, em apoio ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Até legendas políticas surfam na onda do look anti-canarinho. O Partido Comunista Brasileiro de Santa Catarina (PCB-SC) anunciou esta semana a pré-venda da camisa “comunistas no Hexa”
O modelo, na cor vinho, traz os dizeres “antifa” (contra o fascismo) e homenageia Leônidas, conhecido como Diamante Negro, que foi ídolo do São Paulo e artilheiro da seleção brasileira nos anos 1940. Políticos e apoiadores da esquerda também engrossam o caldo da “Copa vermelha”. Janja, mulher de Lula, já postou foto com camisas alternativas à clássica da CBF. Apesar de verde e amarelo, o modelo de Janja traz uma estrela vermelha no lado esquerdo do peito, além do número 13 (representando o partido) e o sobrenome “Da Silva” nas costas.
*Com informações do UOL
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