Nos batuques de atabaque, dedilhados de berimbau e rodas de capoeira, o amazonense
Angelo dos Anjos Oliveira, o mestre “Capacete Baraúna”, construiu legado e história, além de influenciar jovens no Brasil, na América Latina e na Europa. A dedicação de décadas resultou na honraria com o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Faculdade Febraica, Universidade de Lisboa e Ordem dos Capelães do Brasil (OCB), que será entregue na próxima sexta-feira (8), em Lisboa, Portugal.
O título é entregue para personalidades que se destacam em suas atividades relacionadas a defesa das artes, da ciência e das letras, e em prol da comunidade. Esta é a máxima distinção concedida por uma universidade e possui alto prestígio no meio acadêmico.
O mestre “Capacete Baraúna” enfatizou o caráter pioneiro da entrega do título a um capoeirista amazonense, além de representar um passo importante para comunidade capeiristica, devido ao reconhecimento de sua importância para a formação humana e potencialidade de transformar vidas, a partir dos valores filosóficos.
“Para mim, significa um reconhecimento importante na minha carreira profissional, são muitos anos de dedicação, sempre semeando a capoeira e a cultura afro-brasileira em diferentes camadas sociais dos lugares onde passei, transmitindo e contribuindo na formação educacional de muitas crianças, jovens e adultos. Estou consciente do quanto pude contribuir e impactar positivamente a vida de muitas pessoas que me seguiram e me seguem até os dias de hoje”, afirmou.
O alcance da arte do mestre transpassou as fronteiras do Amazonas, Brasil e chegou na Europa. Atualmente, é o diretor e coordenador da Escola Internacional de Capoeira Angola Matumbé, que possui unidades na Itália, Espanha, França e Luxemburgo.
Além disso, fundou o Centro de Cultura Brasileira Ilê Odara, onde desenvolve atividades socioculturais na capital italiana em que celebra a cultura popular brasileira de matriz afroindígena com os fundamentos da Capoeira Angola, os saberes dos mestres baianos e também outras manifestações culturais brasileiras, como: forró, samba, coco de Pernambuco e danças de matriz africana.
Para o mestre, a capoeira se apresenta como uma luta de resistência e é fruto da necessidade de liberdade do povo escravizado no Brasil, sendo a missão principal a transmissão dessa consciência para outros países. No território internacional, o ocidentalismo desafia o ensino da capoeira, assim como a língua e tecnologia também representam um obstáculo a ser vencido, sobretudo, ao compreender que a arte leva a riqueza dos povos agrafos, por isso, há a relevância de ser aprendida em comunidade.
“Diferente de muitos países da Europa, o Brasil ainda tem oportunidade de carregar a cultura no corpo, ser aprendida do mais velho para o mais novo, enquanto em muitos países “civilizados”, muitas manifestações culturais já estão extintas e são encontradas somente nas bibliotecas”, ressaltou.
A relação entre Brasil e Itália é aproveitada pelo mestre para o desenvolvimento da capoeira, devido a cooperação histórica, política e social entre as duas nações. Desta forma, Angelo aponta que a Itália está “embrasileirada”, a partir da presença expressiva de imigrantes brasileiros, o que torna as expressões culturais mais normalizadas pelos italianos.
Trajetória
A trajetória de Angelo Oliveira iniciou há quase 30 anos, quando tinha 12 anos, no grupo Berimbau dos Palmares e foi conduzido pelo mestre Ricardo, o “Camisa Furada”. O seu aprendizado seguiu com o Luiz Carlos Bonates, o mestre ‘KK Bonates’, e, anos depois, recebeu por ele o reconhecimento de contramestre, em 2012, e o título de mestre, em 2022, em razão de sua dedicação com a arte e cultura afroindígena brasileira.
O mestre KK Bonates, que é conselheiro de cultura do Estado Amazonas e mestre de Capoeira, ressaltou o papel do mestre da capoeira como protagonista do ambiente, observando a singularidade do corpo e como consegue mesclar com a mente. Estes saberes populares são resultados da resistência das classes oprimida, como os operários e escravizados.
O fundador da Escola de Capoeira Luta de Libertação, Dermilson Brasil de Freitas, o mestre Canário, relatou a relação com Angelo, entre batizados e rodas semanais. A caminhada dessa amizade na capoeira já existe há mais de 20 décadas, desde 1996, quando Angelo frequentava os eventos realizados por ele, antes de ter iniciado a ministrar as aulas.
“Também faço visitas a seu espaço, treinamos e jogamos capoeira juntos por muitas vezes. Por meio dele fui convidado a participar do grupo de Capoeiristas, que viajou para Jamaica para apresentações em 2007”, completou.
A contribuição do mestre Angelo no Amazonas ocorreu principalmente na Zona Sul de Manaus, ao ofertar aulas no bairro Praça 14 e no Santa Terezinha, na Duque de Caxias. O mestre Canário relembrou que o amazonense costumava frequentar as rodas de capoeiras do município, independentemente da bandeira, e, com isso, repassou o conhecimento para outros países, quando contribuiu para a implementação da capoeira na Jamaica e implantou núcleos de ensino na Europa.
O grupo de capoeira Cativeiro foi implementado por Angelo em Kingston, na Jamaica, em 2006, sendo um dos primeiros a levar os ensinamentos e contribuiu para o desenvolvimento de projetos socioculturais no território. Nessa temporada, chegou a fundar a Organização Não-Governamental (ONG) Capoeira Afalia, onde foi diretor e realizou o projeto antiviolência “Capoeira for peace”, que obtinha o financiamento da Embaixada do Brasil em Kingston e pela Organização de Estados Americanos (OEA).
Além do eixo Brasil-Itália, Angelo já ministrou aulas na Coreia do Sul, Tailândia, Jamaica, Alemanha, Islândia, Holanda, França, Portugal, Jordânia, Finlândia, Bélgica, Suécia, Espanha, Inglaterra, Suíça, Cabo Verde, Japão, entre muitos outros países. Assim como costuma participar de eventos profissionalizantes e culturais.
Ensinamento
A transmissão da capoeira Angola é o principal objetivo do mestre Angelo “Capacete Baraúna”. Além de continuar o projeto na Itália, busca transformar vidas por meio da cultura, proporcionando qualidade de vida e evolução humana em todos os setores.
“São quase 30 anos de estudo, pesquisa, renúncia, compromisso, literalmente uma doação de vida e muito trabalho que venho desenvolvendo desde Manaus, passando por inúmeros países, diferentes continentes, mas sempre semeando a Capoeira e a cultura afro-brasileira em diferentes camadas sociais dos lugares onde passei, transmitindo e contribuindo na formação educacional de muitas crianças, jovens e adultos”, relatou.
Para os mais jovens, o mestre aconselha a iniciativa de procurar saber mais sobre a cultura brasileira, com valorização e entendimento sobre o processo histórico, a partir da contribuição dos povos africanos e originários para a construção da identidade cultural.
“Busquem ser realmente brasileiros e não simplesmente estrangeiros nascidos no Brasil, que crescem sem saber nada do nosso país, além da superficialidade oferecida pelo um sistema capitalista e manipulador. Se libertem por meio do estudo, da educação e da cultura”, concluiu.
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Parabens!
Excelente! Parabéns.
Quem venham mais reconhecimentos para nossa capoeira.
Grande abraço Axé.
Dedicação Amor Companheirismo