Manaus (AM) – Com o novo decreto do Governo do Amazonas que permite a realização de eventos com a capacidade limite de 50% da ocupação do estabelecimento ou de até mil pessoas, definido nesta terça-feira (15), abriu-se a possibilidade de uma maior festa do Carnaval 2022 em Manaus. Porém, trabalhadores do setor carnavalesco acreditam em probabilidade mínima do popular desfile das escolas de samba acontecer na cidade.
Segundo o diretor da Vitória Régia, Fabricio Nascimento, mesmo com o decreto que flexibiliza eventos na capital amazonense, as chances de acontecer o Carnaval das escolas de samba na cidade são baixas, pois caso a Prefeitura libere a verba para as escolas de samba, demoraria cerca de um mês para o dinheiro ser recebido pelos grupos de carnaval. Além disso, levaria mais um mês para as escolas se organizarem para iniciar a produção de adereços e outros equipamentos.
“Para fazer o carnaval a gente precisa receber antes. Então mesmo com a situação do decreto que por um lado flexibiliza, ao mesmo tempo, não dá certo porque a gente precisa comprar o material e precisa fazer com que esse material se transforme em carnaval. Por exemplo, comprar um metro de tecido para bordar para colocar na alegoria e fazer a fantasia. Então, essa confecção, mesmo que fosse em abril, eu acho já inviável, tendo em vista que houvesse o pagamento da prefeitura”, diz Fabrício Nascimento.
Artistas prejudicados
Conforme Fabrício, houve um diálogo entre as escolas de samba e o Governo do Amazonas, onde ambas as partes chegaram a um acordo de realizar uma live do desfile das escolas do grupo especial e do grupo de acesso sem a participação do público e com a estrutura reduzida. Porém, para o diretor da Vitória Régia, a decisão acordada entre ambos foi precipitada, visto que muitos estabelecimentos voltaram a funcionar neste mês de fevereiro.
“Só quem perdeu foi o carnaval, tudo continuou funcionando e a culpa foi colocada no carnaval. Se eles tivessem adiado o desfile lá atrás, a gente continuaria trabalhando e fazendo as fantasias e os carros”, diz o carnavalesco.
O artista que trabalha na direção da escola Unidos da Alvorada, Mário Jorge, por outro lado, afirma que ainda persiste a esperança da realização do carnaval do desfile das escolas de samba em Manaus ainda neste ano. Também aponta que, apesar da realização da live, muitos trabalhadores do carnaval continuam passando por dificuldades financeiras, que iniciaram em 2020 com o surgimento da pandemia da Covid-19.
“Os grandes prejudicados são os operários do carnaval, os fazedores de artes. Porque cada associação vai receber um valor e vão investir boa parte dela em material, mas não em mão de obra. Então, não vão utilizar toda mão de obra como seria no desfile normal, que envolve muitas pessoas”, declara Mário.
Ao mesmo tempo, o diretor da Vitória Régia também afirma que o decreto deu abertura para que ocorra os bloquinhos de ruas e festas de carnaval privadas.
“Quem quiser pode fazer uma banda de carnaval dentro de um local com até mil pessoas vacinadas, principalmente nos blocos onde os promotores podem fazer uma organização e higienização necessária, pois o decreto não determina se é banda de carnaval ou não. Ele fala que pode ser um evento de até mil pessoas e que pode cobrar ingressos”, afirma.
Com a movimentação dos bloquinhos e outras atividades que envolvem o carnaval, além da transmissão da live do desfile, Fabrício afirma que a realização de eventos também vai beneficiar uma parcela dos trabalhadores do setor cultural, como os bateristas convidados para tocar nas festas. Entretanto, a maioria dos profissionais envolvidos com o carnaval dos desfiles de samba não vão ser beneficiados.
“Cada escola de samba do grupo especial trabalha com uma média de 20 artistas, que vêm de Parintins em sua grande maioria, como os carpinteiros, os artesãos, pintores, escultores. Ou seja, somando os artistas dos 8 grupos, dá um total de 160 artistas. Então são essas pessoas que sentem mais, porque essa é a profissão deles. Mesmo com a live, essas pessoas não vão ser alcançadas porque vai ser um mini desfile, não é um grande desfile onde você movimenta a economia”, explica o diretor da Vitória Régia.
Decreto precipitado
Para o epidemiologista Jesem Orellana, o novo decreto que flexibiliza a realização de eventos na capital veio de forma precoce, assim como o retorno das aulas presenciais no estado.
“O ideal seria esperar até o início de março, para só então tomar uma decisão mais segura e com os indicadores epidêmicos em patamares próximos aos observados na primeira quinzena de dezembro de 2021”, diz o epidemiologista.
Já em relação a realização do carnaval em Manaus, o epidemiologista ressalta que é possível pensar na concretização da atividade, mas em moldes diferentes dos que eram feitos antes da pandemia.
“Eventos em massa sempre trazem risco de surtos e aceleram a transmissão viral. Mas medidas de proteção individual e coletivas como amplas coberturas vacinais contra a Covid-19, por exemplo, reduzem esses riscos. O ideal seria esperar a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar a pandemia como esgotada”, explica.
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