Manaus (AM) – Tapioca, x-caboquinho e sanduíches são algumas das refeições regionais que precisam do tucumã amazônico como um de seus ingredientes principais. Mas no período de setembro a janeiro, o fruto entra na época de sazonalidade e começa a faltar em cafés regionais. Uma das consequências para donos de estabelecimentos é a queixa em relação ao gosto por parte dos clientes.
José Maria é gerente de um café regional localizado na Feira Municipal do Parque 10 de Novembro, Zona Centro-Sul de Manaus, e relata que na época em que começa a faltar o fruto, o jeito é diminuir a quantidade, mas mantendo as refeições no cardápio.
“Com a falta do tucumã, os preços se elevam e o produto pode ser encontrado em qualidade inferior, principalmente por não passar pelo processo correto de amadurecimento. Aqui, por sermos vários cafés próximos, optamos por não aumentar os preços. Então reduzimos um pouco o produto para compensar, na expectativa que logo essa falta se normalize”,
conta o gerente do café regional.
Nos estados do Pará e Roraima, onde também é encontrado o tucumã, o sabor se difere e os clientes percebem. José Maria conta que alguns clientes já sabem da época de sazonalidade, mas outros que não possuem esse conhecimento reclamam do gosto.
Por outro lado, alguns estabelecimentos maiores, como o café regional de Gabriel Mendes, localizado no bairro Petrópoles, na Zona Sul da capital, a reclamação é a mesma. Nas redes sociais, o local acaba recebendo muitas avaliações negativas por causa do gosto do fruto.
“Essa época me afeta de duas maneiras: da forma financeira, porque o custo aumenta, e a forma como fico avaliado entre meus clientes. É uma época em que a gente recebe muitas avaliações negativas. Como não é uma época de safra do tucumã, os clientes ficam muito insatisfeitos: sabor amargo, polpa com aspecto seco e duro. Alguns entendem, outros não”,
afirma o empreendedor de 29 anos.
Mesmo com a escassez, Gabriel Mendes afirma que o seu fornecedor não deixa faltar o fruto em seu estabelecimento, mas a qualidade é inferior à que os clientes estão acostumados.
“Eu não chego a mudar de fornecedor porque já tenho uma parceria com ele, quase desde o início da minha empresa. Ele consegue atender minha demanda sem deixar faltar, mas isso é uma realidade minha. Inclusive, ele consegue segurar o preço para e não aumenta tanto”,
relata Mendes.
Lucro impactado
O microempreendedor conta que consegue pagar cerca de R$80 reais na polpa de tucumã no período sazonal, diferente da realidade de José Maria, que paga entre R$ 150 a R$ 350 reais pelo fruto. Enquanto em alguns lugares os estabelecimentos sofrem com a margem de lucro, Mendes afirma que o seu estabelecimento não é altamente afetado por isso.
“Nesse período, o meu faturamento é muito bom porque as vendas são bem oxigenadas, vende bastante. A renda cai [pouco] devido ao quilo do tucumã que vai aumentar, mas isso é normal. Quem trabalha com o fruto sabe que vai acontecer isso. Alguns se preparam, outros não, mas isso é normal”,
enfatiza Gabriel.
No café regional do microempreendedor, mesmo o fruto apresentando sabor amargo, travo ou fibroso, ele não deixa de usar e nem diminui a quantidade. “Como essa fruta é o principal ingrediente dos meus pratos, eu não posso parar porque o nível de reclamação vai ser maior ainda. Eu prefiro arcar com a avaliação ruim a parar de vender, caso contrário eu vou ter um impacto muito grande no faturamento. Desse modo, eu não tenho condições, pois tem funcionário, tem o estabelecimento grande para cuidar”, alega Gabriel.
Além da escassez do tucumã, Gabriel já se prepara para a falta do queijo coalho, outro ingrediente importante para os manauaras acostumados a consumir um café regional farto. O verão amazônico se aproxima do período de seca/vazante, que é o recuo das águas dos rios e faz o pasto ter problemas de logística na produção do queijo coalho.
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