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Ataques

Brasil tem altos índices de violência escolar em 2023, apontam dados

Conforme especialistas, a violência e bullying presente nas redes sociais e plataformas digitais são gatilhos para ataques nas escolas

Um dos assuntos que mais repercutiu em 2023, sem dúvidas, foi a violência no ambiente escolar. Desde os primeiros meses do ano, ataques violentos premeditados vêm assustando alunos, pais e funcionários de instituições de ensino, tanto da rede particular, quanto da pública.

Mas, antes da consumação do ato em si, os planos de ação e o incentivo para realizá-los partiram, principalmente, de grupos de conversas criados na internet. Devido à expansividade do ambiente virtual, pessoas de diversas partes do país e do mundo podiam participar dos debates em plataformas digitais.

Conforme o estudo divulgado em 2019, escolas brasileiras são ambientes mais propícios ao bullying e à intimidação do que a média internacional; cerca de 28% dos diretores de escolas no Brasil já foram testemunhas de intimidações ou bullying entre alunos; além do que o bullying e a agressividade acabaram sendo “normalizados” e minimizados com impactos negativos sobre o aprendizado. Porém, a violência que já circulava nas plataformas virtuais agora se transforma em ataques nas escolas brasileiras.

Ataques na capital paulista

Sílvia Palmieri, mãe da professora Patrícia, que não foi ferida, deixa a Escola Estadual Thomázia Montoro, em Vila Sônia, após aluno atacar colegas e professoras à faca Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em São Paulo, um ataque premeditado por um estudante terminou em tragédia. No final do mês de março, a professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos, morreu após ser esfaqueada por um aluno de 13 anos na Escola Estadual Thomazia Montoro. A educadora e outras colegas tentaram desarmar o agressor e acabaram sendo alvos dele. Após o ataque, os pais dos alunos da instituição comentaram que as agressões físicas entre os alunos são constantes na escola.

O ataque desencadeou outras denúncias sobre planos de violência em escolas da capital paulista. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) revelou que registrou sete boletins de ocorrência, nas 48h posteriores ao ataque na primeira escola estadual, com planos de adolescentes que queriam reproduzir o atentado no ambiente estudantil.

A Delegacia de Crimes Cibernéticos de SP também atua consistentemente para identificar pessoas que compartilhavam mensagens sobre ataques a escolas em grupos do aplicativo WhatsApp. Segundo o secretário da Segurança de SP, Guilherme Derrite, no mês de abril, um estudante de 18 anos foi preso pela SSP-SP por fazer apologia à violência na internet, compartilhando vídeos que causaram pânico nas escolas do estado.

Escolas de Paraná

Karoline Alves e Luan Augusto foram vítimas de ataque Foto: Divulgação

Ataques as escolas não se trata de algo exclusivo da capital paulista. No dia 19 de junho, um ex-aluno de 21 anos entrou armado no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no Paraná, e realizou disparo contra alunos da instituição. Karoline Alves, de 17 anos, e Luan Augusto, de 16, morreram no ataque. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) apreendeu junto ao assassino, um caderno com anotações que detalhava ataques em escolas, incluindo o de Suzano (SP), que vitimou sete pessoas, sendo cinco alunos e duas funcionárias, no ano de 2019.

Entre as medidas para evitar novos ataques, o secretário de Sesp, coronel Hudson Teixeira, afirmou que a Polícia Militar do Paraná reforçou a segurança de colégios com policiais militares recém-formados.

Amazonas

Ataque em escola é registrado em Manaus Foto: Divulgação

O estado do Amazonas não ficou de fora das constantes ameaças ao sistema de ensino. Em abril, um adolescente de 12 anos, aluno de um colégio particular da capital feriu dois alunos e uma professora, que tiveram lesões superficiais. A mãe de um aluno disse à imprensa que o bullying era constante no ambiente escolar, principalmente em grupos de mensagens.

Para evitar tragédias nas escolas amazonenses, o Governo do Amazonas implantou o Núcleo de Inteligência em Segurança Escolas (Nise), que atendeu 270 denúncias em unidades de ensino da rede pública no estado desde a sua inauguração, no dia 10 de abril, até o mês de junho.

“Em abril, tivemos um pico de ocorrências e o Nise atuou de forma planejada e coordenada. E, agora, observamos um decréscimo nesses números. Isso é fruto do trabalho e do alinhamento com os gestores. É importante salientar que o Nise foi instituído permanentemente e segue em atividade”,

disse o coordenador no Nise, o delegado da Polícia Civil, Denis Pinho.

Além do monitoramento, a Secretaria de Educação também oferece atendimento multiprofissional, entre eles, psicólogos, assistentes sociais, psicopedagogos, palestras, rodas de conversas, oficias, visitas.

Discord e o controle de privacidade

Hacker foi preso por explorar sexualmente crianças Foto: Reprodução

Nos últimos dias, um caso de violência sexual contra menores de idade chocou o país pela brutalidade e pelo número de participantes. Preso durante a segunda fase da operação Dark Room, que acontece em Cachoeiras de Macacu e Teresópolis, Pedro Ricardo Conceição da Rocha, de 19 anos, foi preso após criar e administrar um servidor na plataforma Discord, que chantageava e constrangia adolescentes, transformando elas em escravas sexuais dos chefes dos grupos. Ainda segundo a polícia, na plataforma eram cometidos “estupros virtuais”, transmitidos ao vivo para todos os integrantes do servidor.

Após a divulgação do caso, uma discussão sobre controle tecnológico por parte de pais e responsáveis voltou ao centro da conversa. Conforme o psicólogo Daniel Castilho, estudos indicam que crianças de seis a 12 anos deveriam passar no máximo duas horas por dia navegando na internet, já adolescentes e adultos, até três horas diárias.

“Como a mente de crianças e adolescentes está em formação, o uso excessivo pode prejudicar o desenvolvimento de áreas neurológicas e comportamentais. Dentre os grandes transtornos mentais, podem causar ansiedade, insônia, dificuldade de concentração, prejuízo de sociabilidade, inclusive, depressão”,

explica o profissional.

Devido às constantes violências sofridas pelos jovens brasileiros, a infância saudável está sendo ameaçada por fatores físicos e virtuais. Desde bullying até agressões sexuais, as sequelas na vida das vítimas poderão se arrastar por anos.

Recentemente, a plataforma Discord anunciou um novo recurso de controle parental. Através da ferramenta “Central da Família”, os pais poderão monitorar os usuários que os filhos têm contato e as comunidades que eles participam, mas, ela não permite acesso ao conteúdo dos chats, pois são privados. O recurso está sendo implantado gradualmente e em breve estará disponível em todo território brasileiro.

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