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“Cinco mil mísseis enviados a um território com tamanho de Sergipe”, diz manauara em Israel

Em exclusiva ao Em Tempo, a manauara Juliana Rejtman contou detalhes do dia que o grupo terrorista Hamas invadiu Israel

Série de foguetes disparados por militantes palestinos da Cidade de Gaza em direção a Israel, em 7 de outubro de 2023 Foto: AFP/AFP

Israel – Nas primeiras horas do dia, a amazonense Juliana Rejtman, de 27 anos, teve uma surpresa ao escutar o som das sirenes, em Tel Aviv, cidade localizada na costa mediterrânica de Israel. Em entrevista exclusiva ao Em Tempo, a manauara que mora na cidade israelense desde 2021, há dois anos e meio, conta detalhes de momentos te terror vividos em 7 de outubro, dia o qual o grupo radical islâmico Hamas invadiu o festival de música psicodélica e matou mais de 260 pessoas, entre elas os brasileiros Ranani Nidejelski Glazer, de 23 anos, e Bruna Valeanu, de 24 anos.

No dia 7 de outubro, Juliana acordou às 6h30 da manhã, com mensagens de dois amigos, um deles reservista do exército, que estavam ao sul de Israel, pedindo para que ficasse em alerta por que uma situação estava acontecendo. A partir do momento em que a sirene soa, em Tel Aviv, as pessoas têm o tempo de um minuto e meio para se abrigar, antes de uma possível colisão de mísseis com o solo.

Da casa da manauara ao abrigo mais próximo, os três moradores levaram cerca de um minuto. Pessoas que não têm abrigo próximo as suas casas, se abrigam debaixo das escadas, aumentando o risco.

“Israel desenvolveu um mecanismo de defesa aéreo móvel que se chama Iron Dome (Cúpula de ferro, em português). É um sistema antimíssil e, sem dúvidas, um dos equipamentos mais importantes do arsenal israelense. O alvo do sistema são mísseis não guiados que permanecem a baixa altitude. Assim, o sistema dispara mísseis guiados do solo, visando interceptar o fogo aéreo inimigo,”

explica Juliana.

Iron Dome é um sistema antimísseis que intercepta foguetes, desenvolvido com a ajuda dos Estados Unidos. Israel projetou o sistema da cúpula de ferro por mais de uma década e foi fundamental para a proteção de Tel Aviv e outras cidades de Israel, uma vez que este sistema funciona como um escudo contra ataques de mísseis lançados de Gaza.

Na prática, o sistema detecta mísseis lançados a um alcance de 4 a 70 quilômetros e responde disparando um míssil interceptor Tamir contra projéteis que se aproximam e representam uma ameaça para a área protegida. Essas áreas geralmente são locais estrategicamente importantes, incluindo lugares povoados.

Ela conta que eles retornaram a residência, sem presenciar nenhum incidente, onde separaram artigos de primeira necessidade (Documentos, uma muda de roupas, produtos de higiene, comida), até receberem novas informações.

“Ficamos sabendo que o grupo terrorista Hamas estava disparando mísseis como distração para conseguir entrar no território israelense por terra, mar e pasmem, ar. Muitos terroristas conseguiram entrar com parapentes. A priori, é importante ressaltar que o grupo terrorista Hamas não representa o povo palestino e seu legítimo anseio por uma nação própria, mas antes o principal estorvo para ter uma.

Percebemos, então, que não somente Israel havia sido invadido, mas que centenas de jovens, como nós, haviam sido brutalmente assassinados, numa festa próxima à Gaza”,

relata a manauara.

A festa que Juliana relembra foi do festival Universo Paralello – Supernova, que ocorreu em um deserto a menos de 20 km da Faixa de Gaza, um dos principais alvos dos terroristas, em território palestino, na mesma hora em que teve início o ataque surpresa do grupo Hamas, no dia 7 de outubro e coincidia com o feriado judaico de Sucot (também conhecido como “Festa dos Tabernáculos” ou “Festa das Cabanas”).

O festival de música eletrônica foi criado pelo pai do DJ brasileiro Alok, Juarez Petrillo, conhecido como DJ Swarup. Várias jovens foram sequestrados e mantidos refém pelo grupo terrorista.

A festa havia começado por volta de 22h (no horário local) de sexta-feira (06). Segundo o jornal “The Guardian”, os participantes só foram informados do local exato da festa horas antes.

A amazonense Juliana Rejtman conta que após receber essa informação, mais duas amigas que estavam sozinhas se juntaram ao grupo, totalizando cinco pessoas.

“No primeiro momento, não soubemos de nada, a dimensão do problema não veio naturalmente.
Sirenes soaram novamente e a preocupação foi, além de correr, enviar uma mensagem a minha família com um código para saberem que estou segura no abrigo, já que neste não há sinal telefônico.
Montamos, então, uma espécie de acampamento em minha sala para ficarmos todos juntos, visando desligar um pouco a mente da realidade. Por mais divertido que “festa do pijama” pareça, a frase mais repetida é: “Que barulho é esse?”.

Somente no sábado, mais de 5 mil mísseis foram disparados contra Israel. Vocês conseguem imaginar o que são 5.000 mísseis enviados a um território com tamanho equivalente ao estado de Sergipe? É inegável que eu não estaria aqui para contar este relato se não existisse a Cúpula de ferro”,

declarou.

Juliana relata que por decisão das empresas, eles começaram a trabalhar em 100% de casa, porém uma das cinco pessoas é psicóloga no maior hospital de Tel Aviv e continua indo ao trabalho normalmente e o outro amigo que mora no outro extremo do estado, reservista do exército, foi convocado.

Ela conta que após Israel tomar conta do sul novamente, eles se sentem melhor, com noites de sono mais tranquilas e que Tel Aviv tenta seguir a sua rotina normal. “Nos sentimos melhor, com noites de sono mais tranquilas, já que, além da preocupação com os mísseis, havia também uma incerteza nas ruas por conta das infiltrações do inimigo (ainda que entre o Sul e a minha casa tenham agora, em média, 200.000 soldados). Aqui brincamos que até o caminhão da limpeza das calçadas não parou e que nos assusta com o seu barulho. No fundo, sabemos que de normal, isto não tem nada.”

“Seguimos na mesma: notícias, sirenes, família, abrigo… Os anseios e preocupações vão tomando outras dimensões à medida que corpos são identificados e percebemos que não existe um cidadão israelense que não esteja a uma pessoa de distância de alguém que foi vítima, inclusive eu.

Nenhum país quer viver em guerra, ninguém merece passar pelo que estamos passando. Nem Israel, nem a Palestina. É importante que diferenciemos o que é o grupo terrorista Hamas, pois este, quer viver constantemente em guerra. Parafraseando Golda Meir “Se os palestinos baixarem as armas, haverá paz. Se os israelenses baixarem as armas, não haverá mais Israel.”

Eu resisto, eu continuo. Por mim e por todos aqueles que tiveram sua vida encerrada antes do tempo. Com muita força e esperança que dias melhores estão por vir. O medo e o terror que o grupo terrorista Hamas impõe, não tirará o meu ânimo”

, finaliza a manauara em exclusiva ao Em Tempo, contando momentos da sua realidade em meio a guerra em Israel.

Israel X Palestina

De acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Saúde de Gaza na quinta-feira (19), ao menos 3.785 pessoas já morreram na Faixa de Gaza desde que Israel começou a bombardear a região como resposta ao ataque terrorista do Hamas contra o seu território, no dia 7 de outubro. A pasta publicou que entre as vítimas atais estão 1.524 crianças e quase mil mulheres, cerca de 66% do total. Há também 12.493 feridos durante o confronto.

Na quarta-feira (18), autoridades de saúde do enclave, governado pelo grupo islamita palestino, afirmaram que pelo menos 471 pessoas morreram no ataque aéreo à unidade de saúde, localizada no centro da Faixa de Gaza.

Lideranças da Palestina afirmaram que o bombardeio de terça-feira à noite a um ataque aéreo de Israel, em resposta à ofensiva do Hamas em território israelense em 7 de outubro, que deixou mais de 1.400 mortos e quase 200 reféns sequestrados.

O Exército israelense afirma ter ‘evidências’ de que ‘a explosão foi provocada pelo lançamento de um foguete da Jihad Islâmica, que falhou’.

O ataque ao Hospital al-Ahli inflamou a tensão do conflito e agravou a tragédia humanitária que se alastrou por Gaza desde o início do conflito em meio a bombardeios e ao “cerco total” de comida, água e energia imposto por Tel Aviv. 

Conforme o Ministério da Saúde palestino, o número de vítimas fatais na guerra subiu para 3.478 no lado palestino, dos quais os quais 70% seriam crianças, mulheres e idosos. Os ataques deixaram ainda12.065 feridos e um número estimado de 1,3 mil pessoas soterradas em escombros de prédios atingidos por até esta quarta-feira (18), o 12º dia do conflito.

Em Israel, foram confirmadas 1,3 mil mortes e 4,2 mil feridos, a maioria deles durante o dia 7 de outubro. Dados ados do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), indicam que além do al-Ahli, outros 26 hospitais foram danificados em bombardeios, sendo quatro deles Beit Hanoun, Hamad Rehabilitation, Al Karama e Ad Duraao norte de Gaza, foram evacuados e pararam completamente os atendimentos.

A Organização Mundial da Saúde já havia documentado 57 ataques a unidades de saúde, os quais resultaram em pelo menos 16 profissionais da área, antes do ataque ao hospital Al Ahli. Os ataques também afetaram estruturas residenciais e educacionais de Gaza.

De acordo com dados do Ministério das Obras Públicas de Gaza compilados pelo Ocha, até o dia 14 de outubro, 8.840 unidades habitacionais tinham sido destruídas e 5.434 foram danificadas e tornaram-se inabitáveis.

Até o dia 16 de outubro, 167 instalações de ensino foram atingidas por ataques aéreos, incluindo pelo menos 20 unidades da United Nations Relief and Works Agency  (UNRWA), a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, e duas que eram usadas como abrigos de emergência para deslocados internos.

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