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Desaparecimento

Quadro de saúde de crianças encontradas em Manicoré requer cuidados

Neste período de tratamento, o acompanhamento psicológico e nutricional é fundamental, para que os meninos comam a quantidade e as comidas adequadas

Foto: Divulgação

Manicoré (AM) – Duas crianças, de 6 e 8 anos, desaparecidas por 26 dias no município de Manicoré (distante a 331 quilômetros de Manaus), e encontradas vivas na terça-feira (16), na região de Selva da Comunidade Indígena Palmeira, passam por tratamento clínico e psicológico. Segundo a diretora clínica do Hospital Regional Hamilton Cidade, do mesmo município, Suzy Sertafy, as crianças ficaram quase um mês sem se alimentar e se hidratavam apenas com a água da chuva.

Desde o dia 18 de fevereiro, os meninos Glauco e Gleison estavam desaparecidos, até serem encontrados na noite de terça-feira por um homem que estava cortando madeira na mata. Os dois foram levados a barco para a área urbana de Manicoré.

Quadro de saúde

De acordo com Suzy Sertafy, as crianças foram encontradas com o quadro clínico de desnutrição e desidratação grave. Isso porque, durante os quase 26 dias desaparecidas, ficaram sem se alimentar e se hidratavam por meio da água da chuva, pois não havia um curso de rio por perto.

“Esse quadro acaba agravando a questão renal, eles chegaram com uma insuficiência pré-renal por falta de ingestão inadequada de líquidos. Também apresentam um quadro de infecção generalizada com muitas lesões na pele”,

diz Suzy.

O garoto mais novo, Glaucon, foi quem mais preocupou a equipe médica do hospital por apresentar desequilíbrio eletrolítico, ou seja, quando a hidratação e os eletrólitos presentes no corpo como sódio, cálcio e potássio estão desproporcionais. Assim, os médicos aumentaram os cuidados e as compensações nutricionais no menino.

Mesmo em estado grave, os irmãos foram encontrados lúcidos. Os dois também foram diagnosticados com um quadro de inflamação grave, principalmente o menino mais novo.

Porém, segundo a diretora clínica, após os cuidados e o atendimento médico, houve uma boa evolução clínica das crianças, que estão recebendo cuidados de nutricionistas e psicólogos.

Neste período de tratamento, o acompanhamento psicológico e nutricional é fundamental, para que os meninos comam a quantidade e as comidas adequadas.

“Nós temos uma ansiedade de introduzir alimentos para eles. Mas nesse momento, eles não podem receber uma dieta hipercalórica. Tem que ir com calma, devido ao período que eles ficaram sem se alimentar”,

diz.

Tratamento nutricional

Conforme a nutricionista clínica funcional, Sálvia Belota, a desnutrição pode ser categorizada como leve, moderada e grave. Em relação às crianças, esse estado físico de desequilíbrio é ainda mais grave, visto que elas ainda estão em fase de desenvolvimento. Dependendo do tipo de tratamento recebido e do organismo da criança, podem surgir sequelas irreversíveis. 

“Essas sequelas podem comprometer o desenvolvimento cognitivo e motor, além de desregular o crescimento. Também pode surgir predisposição a infecções recorrentes e ameaçar a produtividade da vida na fase adulta e a longevidade”,

explica a nutricionista.

O processo de recuperação da desnutrição e da desidratação, de acordo com a nutricionista, passa, primeiramente, pela hospitalização, onde o paciente vai receber a hidratação adequada, a implementação dos cuidados para corrigir as deficiências nutricionais, os desequilíbrios eletrolíticos, o tratamento de infecções e a iniciação da alimentação.

“A reintrodução é transitória, vai ser aos poucos, ou seja, a gente vai aumentando esse aporte calórico progressivamente. Você não pode dar muita comida, pois eles não vão aguentar”, acrescenta.

Os efeitos de desnutrição e da hidratação são variados, desde a retirada dos tecidos musculares, pois não há mais gordura para o corpo absorver, o que ocasiona no enfraquecimento dos músculos e no impacto cognitivo.

“A parte cognitiva é muito debilitada. Então há a disfunção no aprendizado, no raciocínio e na parte motora, porque os músculos acabam desaparecendo, o que chamamos de sarcopenia, que é uma aceleração de perda muscular excessiva”,

afirma.

Desaparecimento

No período inicial do desaparecimento, 18 de fevereiro, os pais informaram que as crianças saíram para caçar passarinhos nas proximidades da residência, porém não retornaram.

A partir daí uma equipe de busca e resgaste do Corpo Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) composta por seis profissionais começaram as buscas para encontrar as crianças. Populares impactados com a situação das crianças e grupos indígenas da aldeia Capanã Grande, próxima de Manicoré, também participaram da procura.

Conforme a Polícia Civil, o estado de saúde dos meninos é de desnutrição grave. As duas crianças estão no Hospital Regional Hamilton Cidade, localizada em Manicoré.

Edição: Leonardo Sena

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