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União dos Povos Indígenas

Criminosos estrangeiros atuam na região onde indigenista e jornalista britânico desapareceram, diz Unijava

Local do desaparecimento é rota utilizada por organizações criminosas internacionais

Manaus (AM) – O sumiço do indigenista Bruno Pereira e do jornalista do The Guardian, Dom Philips, está sendo acompanhado de perto pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), que ainda trata o caso como desaparecimento, mas não descarta a possibilidade de os profissionais terem sido vítimas de organizações do crime organizado da Colômbia e do Peru. Isso porque o local do desaparecimento é rota utilizada por organizações criminosas internacionais.

O grupo pediu celeridades nas buscas dos dois profissionais em coletiva de impressa realizada, na tarde desta terça-feira (7), na sede da Coordenação das Organizações Indígena da Amazônia Brasileira (COIAB), na avenida Ayrão, bairro Presidente Vargas, Centro de Manaus.

Assessor jurídico da Unijava, Yura Marubo destacou que a região onde os profissionais desapareceram é extensa e as buscas podem ser dificultadas pelo período de chuvas e cheia no Estado.

“Há uma distribuição de equipes. São, aproximadamente, 200 quilômetros do local onde se viu eles, até o município de Atalaia do Norte [distante 1136 quilômetros de Manaus]. Ou seja, as equipes estão se deslocando, subindo e fazendo uma varredura por completo. O problema é que o fator ‘cheia’ está dificultando. Ela é muito severa e é como procurar uma agulha no palheiro”,

afirma.

Ainda conforme o assessor jurídico, é comum expedições de jornalistas internacionais no Vale do Javari, onde já existe um acampamento por parte da Unijava e ainda a autorização dos indígenas para ir a estas terras.

“As expedições sempre passaram por uma rigorosa fiscalização. Tanto na entrada como na saída. Dentro da terra indígena não há esse problema [ameaça a jornalistas], o problema é nas adjacências, na entrada, no rio Javari como um todo. Dependendo do local em que você esteja, sem a proteção devida, com um motor potente, equipado, com gente que não conhece bem a região, o problema pode ser sério”, explica.

Yura Marubo, assessor jurídico da Unijava, falou dos perigos ao redor das terras indígenas Foto: Divulgação

Perigos

Bruno Pereira e Dom Philips estavam em uma “voadeira” (uma embarcação movida a motor com estrutura e casco de metal, composta com motor de popa com 40 HP), que demoraria cerca de duas horas para chegar em Atalaia do Norte. O ideal seria um motor de, no mínimo, 200 HP.

A região apresenta inúmeros perigos, explica Yura Marubo. Dentre eles, a presença do crime organizado. “Tem a presença de narcotraficantes, madeireiros, mineradores e é preciso segurança. Até o momento, estamos tratando como desaparecimento. O lugar é muito perigoso. Se tratam de águas internacionais, de fronteira. O procedimento é sair do lugar de onde se está e só parar quando chegar”, comentou.

Fiscalização

Hoje, Yura Marubo lembra que a única fiscalização feita nestas áreas é feita pela Unijava, sem a colaboração de nenhuma outra organização, salvo em casos pontuais.

“[A fiscalização] é feita, exclusivamente, pela Unijava. É muito perigoso isso. Você coloca a figura do coordenador em rota de colisão com essas organizações criminosas. Imagina trabalhar numa área com mais de 8 milhões de hectares, que requer muito recurso e, por isso, buscamos sempre um projeto a longo prazo, de um trabalho de polícia que não é dela. Os povos indígenas estão à mercê dá própria sorte dentro de seus territórios”, finaliza.

Buscas

Com a chegada das forças de segurança, com profissionais especializados, o assessor jurídico acredita que se possa melhorar a busca a busca ativa de pessoas desaparecidas nesta área.

“Até a Defensoria Pública Federal solicitou intervenção imediata. O Vale do Javari é conhecido como a segunda maior concentração de indígenas do mundo. É muito sensível a questão indígena”, afirma.

Nove especialistas em buscas de selva embarcaram, na manhã desta terça-feira (7), no terminal 2 do Aeroporto Internacional de Manaus – Eduardo Gomes, com destino a Atalaia do Norte, para reforçar as buscas pelos dois desaparecidos. A determinação foi dada pelo governador do Amazonas, Wilson Lima, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas.

Ameaças

Bruno e Dom se deslocaram com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima à localidade chamada Lago do Jaburu (perto da Base de Vigilância da FUNAI no rio Ituí), para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas.

Ainda segundo a entidade, conforme relatos dos colaboradores da Unijava, a equipe recebeu ameaças em campo. “A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Unijava, além de outros relatos já oficializados para a Polícia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International”, diz a nota do órgão.

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