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Preocupação

Seca histórica no Amazonas pode afetar 500 mil pessoas

Rio Negro atingiu 15,88m nesta sexta-feira (29)

Seca em Alvarães/ Defesa Civil

Manaus (AM) – Mais de 100 mil pessoas já foram afetadas pela estiagem que assola o Estado do Amazonas, segundo levantamento divulgado pela Defesa Civil na última terça-feira (26). Até dezembro, a estimativa é que 500 mil pessoas sejam atingidas diretamente pelo fenômeno. O Serviço Geológico do Brasil apontou que, de agosto até os primeiros dias de setembro, o Rio Negro desceu 20 cm por dia.

Por consequência do fenômeno El Niño, que inibe a formação de nuvens de chuva, os rios da Amazônia secaram consideravelmente, e muitas famílias estão isoladas em meio à maior bacia hidrográfica do mundo. Com 59 dos 62 municípios do Amazonas sofrendo com a seca, os governos municipal, estadual e federal, executam operações para levar itens de necessidades básicas aos ribeirinhos.

Além do impacto social, os animais que vivem nos rios da Amazônia também sofrem durante este período. Sem oxigenação suficiente e com o registro de altas temperaturas, botos, peixes e outros animais foram encontrados mortos em rios e lagos do estado. Apesar de ainda apresentar números inferiores em relação às grandes secas de 2005 e 2010, a situação do Amazonas se mostra preocupante.

Impactos Múltiplos

Reprodução: Michael Dantas / @afpphoto

Acentuando o período de seca no Amazonas, o fenômeno El Niño influência nas precipitações e causa a baixa do rio, o que prejudica as atividades agrícolas, pecuárias e até de turismo. Com o nível do rio abaixo da média, comunidades ficam isoladas por longas estradas de areia, uma vez que as embarcações não chegam nas proximidades desses locais.

Diferente do que foi registrado em agosto, o Rio Negro, nas proximidades de Manaus, passou a apresentar descidas médias diárias de 33 cm, com níveis abaixo da faixa da normalidade para o período, de acordo com o boletim do Serviço Geológico do Brasil, divulgado no último dia 22.

Em estado de alerta, o município de Rio Preto da Eva também encara os efeitos da seca, mas segundo o Secretário Municipal do Meio Ambiente, Martinelli Gonçalves, a localidade ainda não chegou ao seu momento crítico.

“Acho que ainda temos uns 10 dias de paz. Se continuar secando, nesta velocidade e neste calor terrível, nós teremos alguns problemas. No alto rio, no baixo Rio Preto, vai ficar complicado. Pedimos para Deus que ocorra uma freada nessa seca, que a gente tenha mais tempo para organizar para um possível problema grave que nós vivemos em anos anteriores. Nesse momento a gente está caminhando para uma situação difícil”,

afirmou o secretário.

Em Manacapuru, a estiagem uniu os moradores do município para ajudar àqueles que mais precisam de amparo.

“A seca na região não está impactando somente a falta de água, a seca tem abalado também a flora, nossa região está sofrendo com as perdas dos peixes e outras espécies. Os cidadãos estão fazendo doações de água para algumas regiões da zona rural”,

contou a analista judiciária, Carolayne Ribeiro.

Além dos seres humanos, muitos animais também são vítimas do processo ambiental. A morte de peixes e botos tem chamado a atenção de especialistas, que também desenvolvem um papel na identificação e resgate deste grupo.

Morte nos rios

Reprodução: Adriano Gambarine

Decorrente do processo de estiagem no Amazonas, lagos e igarapés nas proximidades dos municípios do interior registraram o aumento no número de animais mortos boiando as margens dos rios.

Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Lago do Piranha, em Manacapuru, milhares de peixes apareceram mortos na superfície durante a última quarta-feira (27). Em vídeos publicados nas redes sociais, moradores filmaram a grande quantidade de animais encalhados e sem oxigenação.

O biólogo e pesquisador do grupo de pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, André Coelho, contou que uma força-tarefa está sendo feita entre os profissionais para resgatar animais que precisam de assistência na região amazônica.

“Desde sábado nós estamos recebendo informações de animais morrendo com a possibilidade de estarem encalhados ou presos em poços que se formam devido ao baixo nível das águas. Até o momento nós encontramos muitos animais na área do porto de Tefé e num raio de 10 quilômetros nos entornos da cidade”,

disse Coelho.

O Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) divulgou, no ano de 2022, uma pesquisa apontando que o boto-cor-de-rosa pode estar correndo risco de extinção nos próximos anos. Segundo o especialista, a grande maioria dos animais encontrados mortos são os mamíferos.

“As mortalidades mais comuns são de botos vermelhos, conhecidos regionalmente como boto-cor-de-rosa, e também os tucuxis, no lado de Tefé, que fica na região do Alto Solimões. Até o momento, estão sendo realizados exames de necropsia para poder determinar a causa da morte, mas o nível da água e a temperatura elevada pode estar relacionada ao fenômeno”,

relatou o profissional.

Para contornar os efeitos drásticos, os governantes e a esfera federal se uniram para atender as necessidades dos amazonenses afetados pela estiagem.

Estado de emergência e Operação Estiagem 2023

Reprodução: Diego Peres / Secom

Com o Rio Negro atingindo a cota de 16,11 metros durante a quinta-feira (28), o prefeito de Manaus, David Almeida, ao lado do vice-prefeito e chefe da Casa Civil, Marcos Rotta, assinou o decreto que institui a situação de emergência na capital amazonense em virtude da vazante do rio que banha Manaus e que vem causando prejuízo às zonas ribeirinhas e rurais da cidade.

A hidrovia do rio Solimões, nos trechos entre os municípios de Tabatinga e Benjamin Constant, e a região do Tabocal no rio Amazonas vão receber serviço emergencial de dragagem. O anúncio foi feito ao governador Wilson Lima pelo Governo Federal em reunião, na terça-feira (26), em Brasília, com a presença dos ministros do Transporte, Renan Filho, e de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e da bancada federal do Amazonas.

Na sexta-feira (29), Wilson Lima decretou situação de emergência em 55 municípios do Amazonas afetados pela seca severa que atinge o estado e anunciou outras medidas para reforçar as ações do governo, que já estão em andamento, por meio da Operação Estiagem 2023. O decreto é válido por 180 dias.

Entre as medidas, estão: a dispensa de licitação de contratos de aquisição de bens necessários para os desastres, incluindo a compra inicial de 50 mil cestas básicas; flexibilização da licença para abertura de novos poços artesianos em áreas afetadas; aquisição e distribuição de kits alimentares para alunos em vulnerabilidade alimentar; amparo a produtores rurais por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); isenção do valor de R$ 1 do programa Prato Cheio nas cidades em emergência.

Também foi instituído um Comitê Intersetorial de Enfrentamento à Situação de Emergência Ambiental, coordenado por ele e secretariado pelo secretário executivo de Defesa Civil, Franciso Máximo. O colegiado irá monitorar e direcionar a implementação das estratégias do Governo do Amazonas para levar ajuda humanitária e outras ações às famílias impactadas.

Segundo levantamento da Defesa Civil do Amazonas, divulgado no último dia 29, cerca de 19 municípios das calhas do Alto Solimões, Baixo Solimões, Juruá, Médio Solimões e Purus estão em situação de emergência, afetando 174,7 mil pessoas; outras 36 cidades estão em alerta; e cinco em atenção. O rio Negro atingiu 15,88m.

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