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Colecionando memórias

Família sai de Manaus e enfrenta desafio de atravessar BR-319 de carro até Curitiba

Thiago e Pamela Ribeiro, acompanhados das filhas pequenas Laura e Luíza, viveram a aventura de atravessar metade do país em cinco dias, se aventurando pela BR-319

Manaus (AM) – Percorrer mais de quatro mil quilômetros de carro em cinco dias, em uma viagem entre Manaus, capital do Amazonas, até Curitiba, no Paraná. Essa foi a aventura vivida pelo contador Thiago Ribeiro e da psicóloga Pamela Cristina, junto com os filhos, as pequenas Laura, de 6 anos, e Luíza de apenas 1 ano e 7 meses.

Os altos preços das passagens aéreas obrigou a família a fazer novos planos. Eles driblaram as dificuldades e conseguiram conquistar a meta. Os quatro saíram da capital amazonense no dia 15 de novembro e chegaram em Curitiba no dia 19 do mesmo mês.

Para a viagem, foi necessário um planejamento financeiro, buscar informações sobre a estrada conhecida por ser perigosa e por problemas na estrutura, além de conferir as previsões meteorológicas.

Thiago Ribeiro, Pamela Ribeiro e as filhas Laura e Luiza durante a viagem Foto: Acervo Pessoal

A família aproveitou o feriado da Proclamação da República e caiu na estrada, para se aventurar pela BR-319. A rodovia federal é conhecida pela péssima qualidade, sem pavimentação. Discussão que se arrasta há décadas devido a imensa resistência dos ambientalistas.

Inclusive, propostas e soluções são apresentadas por autoridades para a recuperação da situação da BR-319, que é a única ligação por terra entre Manaus e o resto do país.

Thiago, inclusive, explicou ao EM TEMPO que a principal motivação para encarar a viagem de carro com a família pela rodovia foi os preços absurdos das passagens aéreas.

“Queríamos passar o fim de ano em Curitiba, mas só de passagem gastaríamos uma média de R$ 6,5 mil. Pesquisamos bastante, entramos em grupo de WhatsApp de pessoas que acompanham semanalmente as condições da BR-319 e decidimos vir num dia que estaria com a previsão de sol e sem possibilidade de chuva, evitando assim transtornos. Soubemos também que a rodovia estaria recebendo manutenção, o que nos deu segurança de vir. Além do que ficaríamos com o carro para passear diante de tantas possibilidades”,

contou Thiago.

O preço médio das passagens aéreas nacionais aumentou 16% de janeiro a outubro de 2023 em comparação aos mesmos meses de 2022, conforme um estudo do buscador de passagens aéreas Viajala, que analisou as 50 principais rotas. A maior alta aconteceu de Maceió a São Paulo. O aumento foi de 25% nesse intervalo, de R$ 902 para R$ 1.129.

A principal justificativa é a falta de concorrência, na análise de Rodrigo Melo, diretor comercial do Viajala. “O Brasil tem poucas companhias aéreas, o que prejudica a concorrência e a possibilidade de custos mais baixos”, afirma.

Em 2019, a Avianca Brasil deixou de operar. Em 2022, após a pandemia, o lançamento da companhia aérea ITA, do grupo Itapemirim, chegou a causar uma baixa imediata nos preços, mas a empresa durou apenas seis meses. Em agosto de 2023, a crise do mercado de milhas aéreas, capitaneada pela suspensão de operações das agências 123 Milhas e Maxmilhas, complicou ainda mais o cenário para o consumidor.

Preparação da família

Thiago ao lado do carro utilizado na viagem Foto: Acervo Pessoal

Para a viagem, houve uma preparação especial de Thiago e da esposa, principalmente por conta das duas filhas, eles foram no carro da família, um veículo do modelo Polo, e levaram alimentação e muitos brinquedos para entretenimento das pequenas.

“A mais velha já havia viajado de carro até a Venezuela e outros lugares, então está mais adaptada, mas levamos bastante frutas, água, jogos, brinquedos, filmes e também parávamos para almoçar, para que elas pudessem esticar as pernas um pouco e fomos parando nas cidades para dormir. Obviamente para bebê foi um pouco mais cansativo, mas ela dormiu bastante e procuramos fazer a viagem o mais divertida possível e contribuir para boas memórias para ambas.”,

afirmou.

Trajeto e dificuldades

O veículo da família com o pneu furado devido a estrada Foto: Acervo Pessoal

Para Thiago, a maior dificuldade da viagem foi a travessia no trecho do Igapó-Açú, no município de Manicoré (a 260 km de Manaus). Em outubro, moradores da comunidade e os motoristas de veículos de carga e de passeio que precisam fazer a travessia, denunciaram a demora para retomar a viagem até Manaus em até três dias. Eram caminhões com cargas perecíveis e também com insumos para as empresas do Distrito Industrial, com origem em diversos estados brasileiros.

“O maior desafio que enfrentamos foi ficar três horas esperando a balsa no trecho do Igapó-Açú, pois aparentemente quem trabalha por lá dá preferência aos caminhões, pois a taxa de embarque é maior. O que revolta ainda mais é por se tratar de um trecho tão pequeno que poderia ser resolvido com uma ponte”,

contou Thiago.

“Outro momento de tensão, mas que foi apenas uma vez, foi quando dois caminhões estavam a nossa frente e devido a poeira que eles faziam não conseguíamos enxergar absolutamente nada, foi um momento que deu medo.”,

completou.
Travessia da balsa do Igapó-Açu Foto: Reprodução

Momentos marcantes

Família reunida em ponto turístico em Curitiba ao final da viagem Foto: Acervo Pessoal

Um dos momentos mais marcantes para a família Ribeiro foi a chegada em Curitiba, onde puderam descansar e aproveitar a cidade com os familiares.

“O momento mais marcante foi poder vencer um grande desafio juntos, quando chegamos no final da BR-319 e saímos do carro para tirar uma foto e comemorar! Brincamos muito, rimos, conversamos, aprendemos sobre outros lugares, vimos trajetos que antes só víamos por fotos. Foi muito bom!”,

afirmou.

Preparação financeira e logística

Thiago e Camila em pausa na estrada no Mato Grosso Foto: Acervo Pessoal

Para quem deseja se aventurar, em viagens pela estrada a família informou algumas dicas de preparação, para concluir o percurso sem grandes problemas. Thiago conta que buscar a informação é um dos fatores primordiais para iniciar o planejamento.

“Tem que buscar se informar com pessoas que realmente sabem sobre a BR-319, pois tem muita gente que coloca medo, critica, julga. Para poder viajar com mais tranquilidade é bom ir no verão! Não precisa ter picape , viemos num polo 1.0. Tenha paciência, não precisa correr na estrada! Vá preparado com água pois é muito quente, comida, carro revisado, tenha uma programação, tem um mapa que nós utilizamos para saber onde abastecer, onde comer. Se informe”,

afirmou.

Na média de gastos a família desembolsou um pouco mais de R$ 3 mil, uma economia de 50% do valor inicial planejados caso fossem de avião. De acordo com Thiago, o valor mais alto investido na viagem foi em gasolina, cerca de R$ 1,8 mil. Em hospedagem, pelos trechos de descanso foram R$ 710, com pedágio foi gasto R$ 100 e em alimentação e outros gastos extras para toda a família R$ 500.

Retorno para Manaus

A volta para casa ainda não foi planejada pela família, que está dependendo da divisão em conjunto, pensando na alta das passagens aéreas e no conforto da família. O fator principal que também interfere no transporte são os fatores climáticos. Em dezembro, o período de chuva no Amazonas começa a afetar ainda mais a estrada.

“Ainda não decidimos, mas talvez voltemos fazendo o sudeste, nordeste, e saindo de Belém de avião e o carro vindo pela balsa. Ou dependendo dos preços das passagens iremos voltar de avião mesmo! Não temos como voltar pela BR-319, pois estará em período de chuva no Amazonas e a rodovia estará infelizmente intransitável.”

Colecionando Memórias

Para compartilhar a aventura com as pessoas, Thiago teve a ideia de criar um canal no Youtube com nome ‘Colecionando Memórias – Ribeiro’s Family‘, como forma de contar seu relato de viagem e dar dicas aos outros que têm o sonho de viver essa aventura.

Em uma série de seis vídeos, a família protagonizou os momentos vividos nos mais de quatro mil quilômetros com duas crianças pequenas. Mas, essa só foi a primeira viagem que os Ribeiros pretendem compartilhar em seu canal.

“Iremos compartilhar nossas aventuras pelo Brasil e mundo. E para iniciar vamos compartilhar nossa aventura na temida BR-319. Curta, compartilhe e venha colecionar lindas memórias, dicas e roteiros conosco”,

diz a biografia do canal da família no Youtube.

BR-319

Construção da rodovia BR-319, em 1972 Foto: Fonte: Revista Manchete, 1973

A ligação rodoviária entre as cidades de Manaus e Porto Velho foi construída durante o regime militar. Naquele momento, o planejamento era integrar o território nacional e povoar a Amazônia, numa perspectiva geopolítica clássica, que consistia em integração e segurança nacional das fronteiras, além de promoção do desenvolvimento econômico.

As obras de construção do eixo rodoviário ocorreram entre junho de 1968 e início de 1976. Os jornais da época apontavam a estrada Manaus-Porto Velho como uma das mais difíceis obras de engenharia de estradas do Brasil, pois, além de exigir a construção de 300 quilômetros sobre aterros, a rodovia foi a única da Amazônia inteiramente asfaltada após a construção.

A partir de 1981, diversos fatores contribuíram para tornar a rodovia numa via intrafegável. Estudiosos destacaram cinco principais fatores de interferência e problemas que afetaram a rodovia:

  • Excesso de peso dos veículos;
  • Crise econômica no final da década de 70, limitando investimentos em infraestrutura e corroborando com a ausência de manutenção;
  • Elevados índices pluviométricos;
  • Aterros da rodovia, quando da construção, realizados, possivelmente, com a presença de matéria orgânica (raízes, galhos, troncos de árvores);
  • Retirada de trechos do pavimento por uma construtora.

A partir de meados da década de 90, aconteceram várias tentativas fracassadas de reabertura ao tráfego por meio de programas de investimento em infraestrutura. Contudo, somente nos últimos programas governamentais, ações concretas, voltadas para a conclusão das obras, foram realizadas.

BR-319 atualmente Foto: Divulgação/Observatório BR-319

Atualmente, porém, o problema para reativação do fluxo no modal não se permeia pela falta de recurso, mas pelas entraves e empecilhos criados por instituições do próprio Estado e/ou por aquelas não governamentais, inviabilizando a integração territorial, como o caso da BR-319, para a qual foram solicitados e reprovados vários relatórios de impacto ambiental, impedindo o avanço das obras de reconstrução.

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Comentários:

    1. Justamente, a pavimentação da BR 319 irá auxiliar os órgãos que combatem os crimes ambientais a se deslocarem e coibirem com muito mais facilidade e agilidade a ação de toda e qualquer ação criminosa ao longo do perímetro da Rodovia… infelizmente, aqueles que menos conhecem a realidade da rodovia são os que mais colocam obstáculos.

  1. Bom dia Família! Primeiro quero desejar boa sorte e muita fé em Deus para vocês. Dirijam COM MUITA CAUTELA PORQUE ESTÁ CHOVENDO MUITO NA BR 319. Segundo que voces anotem o Telefone do YOUTUBE DA BR 319 JOEL SILVA, 92 99449 4149, PORQUE ELE REPASSA TODAS AS INFORMAÇÕES QUE VOCÊS PRECISARÃO DE COMO ESTÁ A ESTRADA, ELE POSSUÍ STARLINK NA MOTO QUE AJUDA INÚMERAS PESSOAS QUANDO ACONTECE QUALQUER PROBLEMA COM O VEICULO NA ESTRADA. ELE É UM ANJO NESTE FIM DE MUNDO.
    LEVEM ÁGUA, MEDICAMENTOS, ALIMENTOS PRINCIPALMENTE ENLATADOS PORQUE QUANDO CHOVENDO TODOS OS CAMINHÕES PARAM EM FILAS QUILOMÉTRICAS.
    TENHAM UMA ÓTIMA E TRANQUILA VIAGEM.

  2. Muito boa essa reportagem, pois também já pensei várias vezes fazer essa viagem rumo ao Paraná, pois também tenho parentes lá e de avião está muito caro, mas ultimamente tenho pensado em sair daqui de ônibus até Porto Velho, e de lá pro
    Paraná também de ônibus!

    1. Meu amigo eu estou me preparando pra sair agora entre o dia 15 a 20 de dezembro, irei com meus 2 filhos, no nissan March 1.0 vamos rumo SC.

      1. Amigo! A BR 319 não tem segurança. Já fiz de moto 4x, três no verão e uma vez no inverno. Nunca mais quero ir no inverno, é muito sofrimento.
        Mesmo no verão é melhor dirigir um carro estilo pickup, que é carro preparado para estradas de barro e lama. Se o seu é de passeio é perigoso.

        Vou te dar uma dica boa:
        Coloque seu carro na balsa, leve sua família até Alter só Chão em Santarém, não é longe.
        Além de ser um lugar muito bonito vcs vão poder aproveitar melhor as praias, não vai ser cansativo e nem perigoso.
        Depois pegue a BR 163 que está toda asfaltada e vai te lavar até a Argentina se vc quiser.

        BR 319 é para quem gosta de sofrer.

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