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Atraso de medicamento

Após Unimed Manaus atrasar medicamento, idoso com câncer tem piora na saúde

Por duas vezes, aposentado recebeu com atraso um medicamento essencial para o tratamento do câncer nos ossos. Na última vez, a Unimed Manaus pediu para que fosse assinado um documento que negava o atraso da medicação

Quadro de Jair piorou durante a espera pelo medicamente. Foto: Acervo pessoal

Manaus (AM) – O aposentado Jair Fendandes Barroncas, junto da família, precisou de quase dois meses para receber um medicamento essencial para o tratamento do câncer nos ossos, que acometeu o idoso de 81 anos de idade. Isso porque, somente nesta segunda-feira (7), a Unimed Manaus concedeu uma caixa do remédio. No ato, a rede de hospitais pediu para que fosse assinado um documento que negava o atraso da medicação, mesmo com a demora de mais de 50 dias até a entrega do fármaco.

“Queriam que eu assinasse esse documento mentiroso, sem vergonha e cara de pau dizendo que não tinha pendência”, diz Iglei Muniz, esposa de Jair.

Descoberta do câncer

Há 20 anos, o casal Jair Fernandes e Iglei são clientes da Unimed, e as idas ao local aumentaram em 2012, quando Jair foi diagnosticado com câncer na próstata. Após todos os tratamentos, o aposentado apresentou estabilidade em seu estado de saúde, até que nove anos depois, em agosto 2021, outro câncer foi detectado, dessa vez nos ossos.

Um dos remédios primordiais no tratamento de Jair contra a doença é o uso diário do medicamento oral acetato de abiraterona, que custa em torno de R$ 10 mil. Além dele, o aposentado precisa receber outras duas quimioterapias injetáveis, tanto na barriga quanto na veia.

Após a descoberta do segundo câncer, o tratamento de Jair prosseguiu corretamente no setor de oncologia da Unimed, localizada na avenida Constantino Nery, Zona Centro-Sul de Manaus, entre os meses de agosto, setembro e outubro do ano passado.  

Atraso do medicamento

Porém, em novembro, Jair não recebeu a caixa do acetato de abiraterona e, a partir deste momento, a família do aposentado passou por meses de angústia e medo. Sem o tratamento adequado, a saúde de Jair se debilitava a cada dia que passava, ao ponto de ele ser mandando para a sala hospitalar para ser reanimado.

Em dezembro de 2021, Jair precisou ser reanimado sem o medicamento. Foto: Acervo pessoal

“Ficamos desesperados. Nós não temos condições de pagar R$ 10 mil por mês em uma caixa que vai durar 28 dias. Eu, meu pai, minha mãe, minha filha e o restante da família estamos encurralados”, conta Iglei.

A Unimed disponibilizou mais uma caixa do remédio da quimioterapia em dezembro, que durou até o dia 14 de janeiro de 2022. Nos meses seguintes, o temor de Jair e da família se reacendeu. Segundo Iglei, o marido sente muitas dores sem o medicamento. Além disso, há também o abalo psicológico, que desencadeou uma depressão em Jair.

Durante a ausência do medicamento, entre os meses de janeiro, fevereiro e início de março, Jair sentiu falta de apetite e perdeu muito peso. As dores nos ossos também passaram a ser regulares, assim como a dor de cabeça, dificuldades para andar e febres.

A principal queixa de Jair é a dor nos ossos. Foto: Arquivo pessoal

“É uma situação muito difícil e é muito doloroso ver a pessoa que você convive numa situação dessa de dor, de tristeza e de incerteza. Também de medo, porque dá medo dele morrer, e incerteza de que o remédio não vai chegar a tempo”, desabafa Iglei.

Mesmo com as idas recorrentes à Unimed e as constantes ligações à coordenadora do hospital, Iglei não recebeu um prazo exato sobre a chegada do remédio, que segundo a coordenação do setor oncológico do hospital, estava em Belém.

“A Unimed passava os prazos, mas não cumpria. Todo tempo era isso. A coordenadora passava os prazos, chegava no prazo e ela dizia que o fornecedor não havia mandado porque atrasou. Último contato que eu fiz com ela, na semana passada, ela disse que tinha chegado a medicação em Belém. Mas que ela não tinha prazo para chegar aqui em Manaus. Então era o todo tempo assim”, diz Iglei.

Documento

A caixa do acetato de abiraterona, remédio diário que Jair precisa tomar para o tratamento contra o câncer, chegou apenas na manhã da segunda-feira (7) às mãos de Iglei, quase dois meses depois da última vez em que o aposentado tomou o medicamento.

Assim que a coordenadora do setor oncológico da Unimed entregou o medicamento para Iglei, foi solicitado que ela assinasse um documento, no qual constava o consentimento de Jair a respeito do recebimento do remédio e de que não houve “pendências nos meses anteriores”.

A coordenadora da Unimed pediu para que Iglei assinasse o documento. Foto: Arquivo pessoal

“Quiseram que eu assinasse esse documento e eu escrevi bem grande de caneta [no documento] ‘Não confere. Está atrasado há dois meses’. Eu estou chocada com uma situação dessa, isso é inadmissível. Com quantas pessoas estão fazendo isso? Pessoas leigas que assinam um documento desses sem ler e continuam esperando até o parente morrer. Esses dois meses eu estou brigando e pedindo o remédio e agora querem que eu assine esse documento mentiroso, sem vergonha e cara de pau”, declarou Iglei.

Unimed Manaus

Até o fechamento da matéria, a reportagem não obteve retorno da Unimed. Primeiramente, o contato foi feito com o setor de oncologia da unidade, que informou a impossibilidade de dar esclarecimentos sobre o ocorrido e repassou o contato da assessoria de imprensa da rede de hospitais, que também não retornou.

Edição: Leonardo Sena

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Comentários:

  1. Meu pai, de 74 anos, é portador de Mieloma Múltiplo, foi diagnosticado em 2018, fez quimioterapia nesta época no Hemoam, quando nunca faltou nada. Em novembro de 2021, foi identificada uma recidiva da doença e foi necessário reiniciar quimioterapia, desta vez na Unimed. Desde então, por DUAS vezes o tratamento foi suspenso por falta do medicamento BORTEZOMIB, um medicamento que NÃO está em falta no SUS, NÃO está em falta nas outras clínicas com serviço oncológico e NÃO está em falta no mercado. A Oncológica do Brasil é uma empresa terceirizada que presta serviços de oncologia para a Unimed. Sou Farmacêutico do setor público, conheço bem os serviços de saúde públicos e privados. Ouvi de vários médicos e outros profissionais da saúde que esta Oncológica do Brasil, com sede no Pará, é uma péssima empresa. Realizei denúncia na ouvidoria mas nada de resposta concreta até agora. O medicamento já chegou, depois de ter ameaçado levar o caso à justiça e à imprensa.
    Ressalto, que os enfermeiros e médicos da Unimed que ficam de plantão durante as seções de quimioterapia são excelentes, demonstram conhecimento e experiência em terapias oncológicas e ainda promovem um ambiente sadio e humanizado deixando os pacientes tranquilos e confortáveis. Eles também sofrem e se preocupam com a falta dos medicamentos.

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