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Lendas Amazônicas

Lendas Amazônicas: Vitória-régia e o amor incondicional pela Lua

A jovem indígena queria namorar a Lua e de tanto sonhar com o momento algo inesperado acontece

Foto: designer - Ítalo Chris

Manaus (AM) – Certamente, a planta vitória-régia é uma das mais bonitas da região Amazônica.
A grandeza impressiona, a planta possui 2,5 metros de diâmetro. Além de ser uma planta típica, possui uma lenda que mexe com o imaginário local.

Os bordos podem alcançar até 10 centímetros e sua face é espinhenta e avermelhada. É, com certeza, uma das maiores plantas aquáticas do mundo.

A índia que amava Lua

A bela índia chamada Naiá se apaixonou por Jaci (a Lua), por admirar a forma como ela brilhava no céu, iluminando as noites e madrugadas.

Não havia forma humana deste amor ser possível, mas Naiá ouvia dos pajés que Jaci, de tempos em tempos, descia para a terra procurando uma virgem, com o objetivo de transformá-la em estrela para viver ao lado dela, brilhando.

Cega de amor, a jovem índia recusava todos os grandes guerreiros que iam cortejá-la e esperava a noite para ver Jaci, que não dava a mínima atenção ao seu amor.

O desejo mais profundo de Naiá era se transformar em estrela e viver ao lado da amada Lua. Vendo a descida e subida de Jaci no horizonte, oposto ao sol, ela corria para tentar alcançá-la, na esperança de que seu sonho se realizasse.

“Doente” de amor

Todos os dias era a mesma coisa. De tanto ser ignorada pela Lua, Naiá adoeceu gravemente e começou a definhar. Porém, mesmo doente, permanecia firme em seu objetivo.

Em uma das buscas a Jaci, ela a índia caiu muito cansada na beira de um igarapé. Ao acordar, não pode crer no que seus olhos viam: o reflexo da Lua brilhando nas águas.

Terrivelmente apaixonada, Naiá megulhou nas águas para “tocar” no reflexo de Jaci e acabou morrendo afogada. O ato desesperado, finalmente, chamou a atenção da Lua.

Ela, então, faria algo muito inusitado: transformar a bela índia numa estrela incomum. Agora, o destino da Naiá não iria subir aos altos para ficar ao lado de sua idolatrada Jaci, mas permanecer nas águas, refletindo o clarão da amada.

A índia, agora, era a exuberante vitória-régia, chamada de Estrela das Águas, exalando um perfume maravilhoso e inconfundível, abrindo suas pétalas somente com a luz de sua adorada Jaci.

Antônio, um homem cego de amor

Tal qual a lenda, há quem afirme já ter vivido um caso inusitado de amor e ter feito os maiores sacrifícios para viver esta tórrida paixão.

Antônio Sergimano* foi um destes homens. Aos 75 anos, ele revela, com lágrimas nos olhos, que em sua juventude como agricultor no interior do Amazonas, se apaixonou, enlouquecidamente, por uma bela jovem, que adorava se banhar na beira de um igarapé, próximo as plantas.

“De dia trabalhava na roça, de noite, ao ir embora para casa, parei perto de um leito de igarapé. Foi quando a vi. Morena, estatura mediana, cabelos longos e negros, admirando a lua e se banhando com uma cuia na beira d’água, perto de uma Vitória Régia. A partir daquele dia, foi como se eu estivesse hipnotizado”, conta.

Antônio conta que passava no mesmo lugar, na mesma hora, para espiar, ao longe, a bela moça tomando banho de maiô e conseguir, ao menos, saber seu nome.

“Foi quando tomei coragem, um dia, e perguntei o nome da bela jovem. A reposta foi ‘Vitorina’ e que o nome foi dado pela mãe em homenagem a vitória-régia. Naquele dia, fiquei feliz. Só achava o comportamento dela muito estranho. Não sabia onde morava e sempre estava tomando banho de cuia, na beira d’água”, relata.

E assim foram todas as noites. Ao voltar da roça, Antônio passava na beira do igarapé e dava um “dedo de prosa” com Vitorina.

“Um belo dia ela me disse que me daria o que mais eu estava desejando no momento: um beijo doce de amor. Quando ela se inclinou para me beijar, os lábios eram frios como uma pedra de gelo. Toquei no seu obro e parecia mais uma pessoa morta. Só que eu amava, queria ela demais. Era como se eu estivesse abraçando um saco de gelo”, explica.

O agricultor, então com 20 anos, confessa que, depois do gélido beijo na beira do igarapé, começou a ficar com medo.

“Porém, a paixão era maior. A gente sempre se via. Se abraçava. Morria de frio. Muito frio, mesmo. Não importava. Ela era meu amor gélido”, comenta.

Despedida

Em certa noite, Antônio disse que recebeu a pior notícia de Vitorina. “Chorei demais quando me disse que ia voltar para a casa dela, um lugar onde eu não podia ir, mas que era sempre iluminado pelo clarão da lua”, comenta com lágrimas.

O dia mais temido pelo agricultor chegou. A bela moça tocou seu rosto e deu um beijo suave em seus lábios.

“Gritei naquele noite: ‘não vai, meu amor’. Infelizmente foi em vão. Só que pensei que iria para alguma outra cidade. Simplesmente, senti meu sangue gelar e um arrepio subir pela espinha ao ver essa mulher entrando no igarapé e desaparecendo, bem na minha frente”, relata.

Antônio afirma que, mesmo com medo pulou na água e foi até a planta, onde não era tão fundo. Meia hora depois de mergulhos e mais mergulhos, nada encontrou.

“Não sei namorei uma alma penada, uma planta, uma coisa, não sei. Mas continuava muito doido de amor”, disse.

O baú do tesouro

O agricultor ainda disse que voltava para casa arrasado todas as noites. Porém, um sonho revelaria um recado da gélida amada.

“Ela apareceu saindo debaixo dessa planta no meu sonho e disse para eu mergulhar perto da vitória-régia que ela morava, pois tinha algo de presente para mim”, afirmou.

Obedecendo ao pedido da amada, o corajoso homem pulou na água e sentiu uma caixa bem pesada próximo aos seus pé.

“Quando voltei com aquilo, era um baú. Abri e, dentro dele, encontrei pepitas de ouro e um monte de pedras preciosas. Minha família não acreditou e todo mundo achava até que tinha roubado aquilo. Roubado como? Juro que é verdade”, finaliza.

O agricultor, então, fez uma pequena fortuna com o dinheiro e se  mudou para um bairro de luxo em um município não identificado do Amazonas. Casou, teve três filhos e hoje, já idoso, teve coragem de revelar esta estranha, assombrosa e macabra história.

*Nome utilizado para preservar a identidade do entrevistado

Edição Web: Bruna Oliveira

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