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Economia do Gelo

No calor amazônico, economia do gelo movimenta o interior do Amazonas

Em meio ao calor amazônico, o gelo é, acima de tudo, uma peça central na economia pesqueira

Casal segurando gelo e sorrindo Foto: BRUNO KELLY / ASCOM MAMIRAUÁ

Amazonas (AM) — Comum nas casas de muitos brasileiros, o gelo tem uma relevância maior em meio à floresta Amazônica. Nas cidades afastadas da capital amazonense, o gelo possui uma importância que vai muito além de gelar o suco ou refringente. Em meio ao calor amazônico, o gelo é, acima de tudo, uma peça central na economia pesqueira.

No interior do Amazonas, o gelo é o responsável pelo mantimento do transporte de peixes para as cidades — uma importante atividade econômica em toda Amazônia. Toneladas de gelo são fabricadas diariamente em cidades e carregadas pelos rios para esta logística, uma atividade repetitiva e diária, visto que o gelo rapidamente derrete no calor tropical amazônico.

Fazer gelo na década de 2020 é simples e exige poucos ingredientes: água e energia. Ao redor do mundo, as pessoas fabricam gelo em geladeiras e refrigeradores comuns, sem sair de casa. As pedrinhas de água sólida são utilizadas para os mais diversos fins – inclusive gelar bebidas em dias quentes. Apesar deste potencial, o gelo ainda não é encontrado em qualquer barco ou armazém amazônico.

Energia solar e gelo

Buscando mudar essa realidade, desde agosto de 2015, o Instituto Mamirauá vem testando e aperfeiçoando três máquinas de gelo, instaladas na Vila Nova do Amanã, município de Maraã (distante 897 quilômetros de Manaus). A comunidade ribeirinha recebeu três máquinas de gelo que funcionam com energia solar e estão produzindo 90 quilos por dia.

O equipamento possui um sistema fotovoltaico inovador, que não utiliza baterias para acumular energia. Cada máquina pesa cerca de 300 quilos. A máquina de gelo foi desenvolvida pelo Instituto de Energia e Ambiente, da Universidade de São Paulo. É uma tecnologia ambientalmente aceita, por utilizar uma matriz energética sustentável e por não requerer o uso de baterias, que possuem metais pesados prejudiciais à vida das famílias e ao meio ambiente.

“Essas famílias têm como principais atividades a pesca e a agricultura”,

afirmou Otacílio Soares Brito, do setor de tecnologias sociais do Instituto Mamirauá, responsável pela implantação do projeto Gelo Solar na região.

Para o especialista, iniciativas como o Gelo Solar podem ser uma saída para a região amazônica, onde muitos ainda vivem na escuridão. “Acredito que em curto prazo não vai chegar energia a alguns lugares da Amazônia. A saída será a instalação de sistemas isolados, tanto para iluminação, quanto para gelo, bombeamento de água.”

Brito lembra que a dificuldade para chegar à vila, que está a 100 quilômetros de Tefé e só tem acesso fluvial, faz com que as famílias não tenham essas tecnologias comuns nas grandes cidades. Ele considera que as minitermelétricas, que vêm sendo implantadas na região há mais de meio século, não resolveram o problema.

“Não resolve o problema da escuridão, porque o motor de luz, quando funciona quando não está pifado e tem diesel, o que é muito raro, funciona das 6h às 22h, quando é desligado. Não dá para funcionar geladeira, freezer, não dá para conservar os alimentos”,

afirma.

O projeto é experimental, no qual vem sendo testado todo o potencial da máquina, principalmente em relação a sua produção diária de gelo em ambiente amazônico. Uma quarta máquina foi instalada na Pousada Flutuante Uacari, também no Amazonas, para monitoramento da equipe.

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Edição web: Jonathan Ferreira

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