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AMAZONAS

Antes de opinar sobre a Amazônia, conheça o mutuca e sua gente

Antes de opinar é necessário dialogar com a população local

O povo da floresta amazônica, enriquece ainda mais este bioma com seu folclore, lendas e tradições. Apesar de viverem no mesmo habitat, possuem características singulares. Em cada canto, habita um ribeirinho, um homem da floresta, escondido embaixo das copas das árvores, a eles devemos dar toda atenção e prioridade!

Podemos conhecê-los através de seus verbetes, que são ricos em sonoridade e recheados de significados. Muitos “estrangeiros daqui e de fora, acham difícil entendê-los”. Os daqui, principalmente da parte de baixo do Brasil (sem generalizar), não fazem “questão de compreendê-los, por ignorância, preconceito ou bairrismo”.

Os de fora tem a justificativa em não entender a língua portuguesa e seus regionalismos. Admiram os diversos tons de verde de nossa floresta, surpreendem-se com a dimensão de nossos rios e saboreiam nossa culinária. De volta à terra natal, exclamam – Vivenciei e conheci a exuberante Amazon rainforest, que ainda pulsa!

Voltemos aos verbetes: Vou mesmo… (sujeito vai ou fica); Brocado (muita fome); Ê caroço (salvo por pouco); Telezé (admiração/espanto), são alguns já catalogados em vários “dicionários caboquês”.  A palavra mutuca, derivada do Tupi, “Mu’tuka”, que significa: inseto díptero (duas asas), incômodo ao gado e ao homem, ganha também outro sentido: Ficar de mutuca? “ficar à espreita, escondido”.

Compartilho com vocês leitores, recente experiência ambiental e sensorial. Participei de pescaria no rio mutuca, foram três dias maravilhosos, estávamos no “PARAÍSO”. Um misto de alegria, encantamento e contemplação com o belíssimo lugar. Enquanto a canoa deslizava, uma aquarela verde e viva refletia no lago.

Não experimentei o veneno deste inseto, mas fui picado pela magia do lugar! Pela receptividade dos locais e pela simplicidade da Dona Maria (cozinheira da pousada), que facilmente poderia ser chamada de “tia ou vó maria”, devido ao capricho e carinho servidos com afeto em cada refeição.

O gerente da pousada nos relatou – Infelizmente alguns “turistas-pescadores”, encantados com os belíssimos tucunarés, demoram a tirar fotos. Manuseiam de forma errada o peixe, esquecem de molhar as mãos; manipula-os fora da água e os devolvem de qualquer jeito ao rio, desde que a foto fique boa. Tenham carinho e cuidado com nossos peixes! – Os moradores do local, possuem forte consciência ambiental.

A Empresa Estadual de Turismo (Amazonastur), divulgou que a temporada de pesca esportiva, deve atrair 30 mil turistas e movimentar R$500 milhões no estado, direta ou indiretamente, até o mês de março de 2024. A pesca esportiva é rica em geração de emprego e renda, além de ser um dos esportes mais praticados no Brasil.

A poluição provocada pelas fortes queimadas, o triste acidente aéreo em Barcelos e a seca extrema, pode afetar a temporada 2023-24. Diminuindo as receitas deste setor, que se recuperava das perdas provocada pela pandemia do COVID19.

Além das dificuldades ambientais, e a possível perda do potencial de pesca dos que habitam essa região, surge nova demanda ao conversar com um dos piloteiros (garotada que comanda os botes). Tiozão – “A atividade da pesca por aqui, dura no máximo 4 meses”, temos muitas dificuldades de nos manter após este período!

Entendi o relato do piloteiro, como um pedido silencioso de ajuda. A equação entre riqueza ambiental, versus pobreza real dos habitantes da floresta amazônica, não parece questão prioritária a ser resolvida! São ricos e pobres ao mesmo tempo. O que fazer?

Não podemos nos eximir! Acredito que não devemos ficar de mutuca, à espera!

Como cidadãos conscientes, nos cabe cobrar maior e melhor atuação da administração do Estado Brasileiro nos três níveis de governo, além da sociedade civil organizada e iniciativa privada. Antes de opinar, conheçam, convivam e dialoguem com a população local, aproveitem sua sabedoria e potencial humano. Afinal de contas, quem preservou a floresta por todos estes séculos? A eles toda prioridade!

Cuidar do homem da floresta e do mutuca, é preservar a Amazônia e a nós mesmos! 

*Ricardo Onety, professor de Educação Física e comentarista de esporte

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