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Operação Plastina

PF investiga participação de outros envolvidos em tráfico internacional de órgãos em Manaus

Após deflagrar a operação, o objetivo agora é identificar, por meio dos materiais recolhidos, se há participação de outras pessoas, além da origem dos órgãos

Foto: Reprodução

Manaus (AM) – Ainda nesta terça-feira (22), a Polícia Federal (PF) deu detalhes da Operação Plastina, que está investigando o caso de tráfico internacional de órgãos em Manaus. O principal investigado é Helder Bindá Pimenta, professor concursado de anatomia da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), que é suspeito de enviar uma mão e três placentas plastinadas para Singapura, na Malásia.

Segundo revelou o delegado da Polícia Federal, Igor Barros, para uma emissora local, a investigação sobre o caso começou em outubro de 2021, quando agentes da PF detectaram, por meio do raio-x do Aeroporto Internacional de Manaus, um material orgânico, possivelmente de origem humana, sendo enviado para Singapura.

“Materiais para remessa internacional, em alguns casos, passam por raio-x. Por meio da tela, nós conseguimos identificar que possuíam traços que seriam, aparentemente, de origem humana. Nós fizemos um laudo pericial médico que realmente constatou que tais materiais são humanos”,

revelou o delegado.

PF cumpriu mandado no Laboratório de Anatomia da UEA. Foto: Divulgação

Após a apreensão do material, a polícia conseguiu identificar o suspeito por meio de uma perícia na grafia do remetente. O coordenador do Laboratório de Anatomia Humana da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Helder Bindá Pimenta, realizou uma técnica de plastinação nos órgãos enviados.

“A Polícia Federal fez a apreensão do material. Na sequência, por meios de laudos periciais na grafia do remetente, nós conseguimos chegar de fato à pessoa responsável pela remessa desse material. Inclusive, nós verificamos até mesmo o método utilizado, a plastinação, que basicamente consiste na preservação de materiais biológicos, para poder fazer essas remessas a longo prazo sem a detecção de cheiro, odor e tudo mais”,

revelou o delegado da PF.

Na Operação Plastina – que faz referência à técnica utilizada para conservar os órgãos – a PF cumpriu dois mandados de busca e apreensão, no Laboratório de Anatomia da UEA e um na casa de Helder, que foi afastado de suas funções na universidade por 30 dias.

A “encomenda” seria enviada para um famoso designer indonésio que vende acessórios e peças de roupas utilizando materiais de natureza humana.

Participação de outros envolvidos

Após deflagrar a operação, o objetivo agora é identificar, por meio dos materiais recolhidos, se há participação de outras pessoas. Além disso, identificar a origem dos órgãos.

“Os mandados visam investigar a participação de outros possíveis envolvidos, além da origem desse material, de onde que partiu”,

contou o delegado Igor Barros.

Inicialmente, caso o suspeito seja condenado, ele poderá pegar até 8 anos de prisão por tráfico internacional de órgãos. Agora, se houver a participação de outras pessoas no crime, pode haver uma alteração na pena.

“A pena estabelecida é de até 8 anos. No entanto, se verificarmos outras pessoas envolvidas, podemos capitular por meio de associação criminosa. Ou se verificarmos que é uma pratica rotineira, a questão de venda e compra de materiais humanos, ou até mesmo uma organização criminosa, poderá haver uma alteração, mas ainda está em fase de investigação”, completou.

Caso acende um alerta

O caso acendeu um alerta para alfandega do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Até porque não é sempre que os agentes encontram órgãos humanos sendo enviados para outro país. Por isso, a Polícia Federal irá ficar ainda mais atenta para identificar futuros casos que venham a acontecer.

“Não é um caso rotineiro, não é um caso que acontece no dia a dia, é um fato incomum que chamou a atenção das autoridades e de pronto nós atuamos o autor desse ilícito”, destacou o delegado da PF.

Objetos que são enviados para a Ásia receberão mais atenção no momento do envio, justamente para coibir atitudes ilícitas do gênero.

“Abriu uma alerta para as autoridades alfandegárias no sentido de verificar, com mais detalhes, objetos que vão principalmente para a Ásia, para verificar do que se trata esse material orgânico e se é de origem humana”,

finalizou Igor Barros.

Quem é o professor?

O professor é um dos únicos profissionais do Amazonas especializado na técnica de plastinação. Foto: Reprodução

Com um currículo extenso, Helder Bindá é conceituado na área da saúde. O professor é um dos únicos profissionais do Amazonas especializado na técnica de plastinação, que foi o método utilizado para conservar os órgãos enviados.

Formado em Fisioterapia pela Universidade Adventista de São Paulo (Unasp), Helder tem doutorado em Ciências Morfofuncionais pela Universidade Federal do Ceará, é mestre em ciências biomédicas, possui especialização em Educação na Saúde no curso de Medicina pela UEA e em Unidade de Terapia Intensiva pelo Unasp.

Sua pesquisa ficou entre as dez melhores entre os 65 trabalhos publicados no congresso Experimental Biology (Biologia Experimental), em Orlando, nos EUA. O evento é um dos mais prestigiados encontros interdisciplinares do gênero no Mundo.

Alunos da UEA, que tiveram aulas ministradas pelo professor, foram pegos de surpresa com a notícia e o elogiaram como profissional.

“Não tenho reclamações, ele é um ótimo professor, atencioso, tem didática. Todos os alunos gostam dele. (Ele) ajuda todo mundo.”,

revelou uma aluna de medicina que não quis se identificar.

Helder também era um dos administradores de uma conta de anatomia no Instagram. Na página, a ‘Anatogram’, ele mostrava órgãos plastinados e falava sobre a técnica. Um aluno revelou que até mesmo um coração plastinado já foi sorteado na página, há aproximadamente seis meses. A página já foi desativada.

Apesar das investigações de tráfico internacional de órgãos apontarem para Helder como o principal suspeito, ele não foi preso pela PF, apenas ouvido, e está sendo investigado.

Edição: Leonardo Sena

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